Coreia do Sul: Yoon tentou esvaziar parlamento em votação da lei marcial
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, ordenou que militares retirassem os deputados de dentro do parlamento durante a votação para derrubar a lei marcial, disse um comandante das Forças Especiais.
O que aconteceu
O comandante Jong-geun revelou que recebeu do presidente a ordem de esvaziamento. A informação foi dada por ele nesta segunda-feira (10) à Assembleia Nacional e veiculada pelo jornal coreano MBC news.
Yoon teria ligado para o militar na última quarta-feira (4) e ordenado que as portas do parlamento fossem arrombadas. Naquele momento, a Casa se preparava para votar a proposta de revogação da lei marcial, que havia sido anunciada pelo presidente horas antes e instaurado uma crise política no país.
Segundo o comandante, ele pediu que os parlamentares fossem retirados do local. "O presidente me ligou diretamente em um telefone secreto. Ele disse: 'Parece que o quórum ainda não foi atingido. Arrombe a porta rapidamente e tire as pessoas que estão lá dentro"', contou em depoimento.
O militar afirmou que não executou a ordem. Ele relata ter considerado disparar bombas de festim ou cortar a eletricidade, mas não colocou em ação, temendo que as pessoas pudessem ''se machucar ou até morrer''.
Pouco tempo depois, o presidente teria ligado para confirmar que as instruções foram cumpridas. O comandante, no então, não atendeu as ligações recebidas.
Os deputados opositores, majoritários na Câmara, conseguiram votar contra o decreto. Eles forçaram Yoon a revogar a ordem na madrugada de quarta-feira (4), em uma noite de drama e manifestações de rua no importante país asiático.
Onde tudo começou
Presidente da Coreia do Sul decretou a lei marcial no dia 3 de novembro e recuou horas depois. Yoon Suk Yeol justificou que a decisão era necessária para proteger o país de "forças comunistas" em meio a constantes disputas com o parlamento, controlado pela oposição. A medida surpreendente ocorreu no momento em que o Partido do Poder Popular de Yoon e o Partido Democrático, principal legenda de oposição, travam uma queda de braço em relação ao projeto de lei orçamentária do próximo ano.
Duras proibições foram anunciadas. "Todas as atividades políticas, incluindo as da Assembleia Nacional, dos conselhos locais, dos partidos políticos e das associações políticas, bem como assembleias e manifestações, são estritamente proibidas", disse comunicado do governo sul-coreano.
Os meios de comunicação estavam sujeitos a controle. "Para proteger a Coreia do Sul liberal das ameaças impostas pelas forças comunistas da Coreia do Norte e para eliminar elementos antiestatais", disse o presidente. Anúncio foi feito em um discurso televisionado ao vivo para a nação. Yoon Suk Yeol não especificou quais ameaças seriam essas.
Parlamento foi fechado. Em resposta, o presidente da casa legislativa afirmou que faria uma sessão de urgência na noite de terça para debater o anúncio do presidente. O parlamento, com 190 de seus 300 membros presentes, aprovou uma moção exigindo que a lei marcial declarada pelo presidente Yoon Suk Yeol fosse suspensa, mostrou a TV ao vivo.
Parlamentares aprovaram a revogação da lei e documento foi enviado ao gabinete presidencial. Apesar disso, o episódio deixou o país em uma das piores crises políticas de sua história moderna e colocou o futuro de Yoon em suspense.
Impeachment fracassa
A tentativa de impeachment do presidente da Coreia do Sul fracassou. Os legisladores da oposição não conseguiram votos suficientes para destituir Yoon Suk Yeol em deliberação no último final de semana.
Vários deputados aliados a Yoon deixaram o plenário em protesto no início da votação. Segundo os opositores, ocorreu um boicote, já que ele só poderia ser retirado do cargo caso 2/3 do parlamento votasse a favor do impeachment, ou seja, 200 de seus 300 membros.
Pedido de desculpas, mas sem renúncia. Na manhã de sexta-feira (6), em um breve discurso à nação, pela televisão, o presidente sul-coreano pediu desculpas pela declaração efêmera de uma lei marcial. "A declaração da lei marcial surgiu de minha urgência como presidente", explicou Yoon, na televisão.
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