'Mala nuclear': como funciona acessório que voltará para as mãos de Trump
Do UOL, em São Paulo
16/12/2024 05h30
Uma maleta preta é um dos maiores símbolos da cerimônia de posse do presidente dos EUA. Em 20 de janeiro de 2025, Joe Biden deve entregá-la nas mãos de Donald Trump, dando ao republicano o item que simboliza todo o arsenal nuclear do país.
Saiba mais sobre a maleta
Pesa 20 kg e é carregada por um assessor militar que está sempre ao lado do presidente em exercício. Esse oficial segue um protocolo bem ensaiado, segundo a TV norte-americana NBC, e acompanha o líder em todos os eventos, andando a alguns passos dele.
A mala não esconde um grande botão pronto para acionar armas nucleares. Dentro, na verdade, estão instruções para o acionamento do arsenal, como códigos nucleares e um livro preto que mostra opções de lançamento das armas e dá opções de como o presidente deveria agir: quais alvos escolher, quando atacar, e afins. "É chamado de livro preto porque envolve muitas mortes", disse Gleen McDuff, engenheiro de armas nucleares, à revista Time.
O item é um "lembrete" do poder dos Estados Unidos. A ideia é garantir que o presidente se mantenha o comandante máximo sobre o arsenal nuclear e possa se conectar rapidamente ao Centro Nacional de Comando Militar, um bunker abaixo do Pentágono, quando e se necessário, diz a revista.
O país tem arsenal nuclear desde 1945, mas a maleta se tornou símbolo em 1963. Seu primeiro registro em fotos foi em maio daquele ano, em uma casa da família de John F. Kennedy em Massachusetts. O assistente militar do presidente foi visto andando atrás dele, com a mala na mão.
A mala teria sido criada após alerta de cientista sobre falta de controle do arsenal. Harold Agnew, que acompanhou o ataque em Hiroshima a convite dos Estados Unidos, percebeu problemas ao visitar uma base da Otan na Europa, em uma época de discussão sobre a "custódia compartilhada" do armamento.
O ano era 1959 e o cientista percebeu que armas nucleares estavam perto de território inimigo sem qualquer tipo de proteção. As tropas soviéticas, por exemplo, não estavam muito distantes. Segundo a Time, um documento divulgado apenas em 2023 detalha que Agnew percebeu isso ao ver um militar muito jovem, sozinho e pouco armado, protegendo um avião que carregava armas nucleares.
De volta aos Estados Unidos, Agnew entrou em contato com engenheiros e pensou na inserção de códigos para o acionamento das armas. Isso evitaria que, após um possível roubo, tropas inimigas pudessem se aproveitar do material. Ele e outros cientistas apresentaram a ideia a Kennedy, já nos anos 1960, e ele aprovou e expandiu a inovação, protegendo todos os tipos de armas nucleares. Para manter essas informações ao alcance do presidente foi criada a "mala nuclear".
Em 2021, pela primeira vez na história, um presidente não entregou a maleta para o sucessor. Trump não compareceu à posse de Biden. Já o democrata não fez qualquer declaração sobre uma possível ausência na cerimônia do republicano no ano que vem.