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Análise: Atacar Assad proporciona oportunidades e riscos para Trump

7.abr.2017 - O presidente Donald Trump se reúne com seu gabinete de segurança em Mar-a-Lago, na Flórida - Casa Branca
7.abr.2017 - O presidente Donald Trump se reúne com seu gabinete de segurança em Mar-a-Lago, na Flórida Imagem: Casa Branca

David E. Sanger

Em Washington (EUA)

07/04/2017 13h26

Ao lançar um ataque militar passados apenas 77 dias de seu governo, o presidente Donald Trump tem uma oportunidade, mas não uma garantia, de mudar a percepção de desordem em seu governo.

O ataque também moldará o encontro na próxima semana entre o secretário de Estado, Rex Tillerson, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o primeiro encontro face a face entre o líder russo e um membro do governo Trump.

Antes do ataque a uma base área síria na noite de quinta-feira, a expectativa era de que o encontro seria dominado pela investigação dos ciberataques da Rússia e a interferência na eleição presidencial em prol de Trump.

Mas a ação na Síria dá ao governo Trump uma oportunidade de exigir que Putin contenha ou remova o líder sírio, Bashar al-Assad, caso contrário Trump expandiria a ação militar americana limitada (e rápido) caso o presidente russo não aja.

Base de Shayrat, na cidade síria de Homs, que foi atacada pelo governo norte-americano - Departamento de Defesa dos EUA/AFP - Departamento de Defesa dos EUA/AFP
Base de Shayrat, na cidade de Homs, que foi atacada pelo governo norte-americano
Imagem: Departamento de Defesa dos EUA/AFP


O ataque químico do governo sírio contra território controlado pelos rebeldes forçou a mão do governo, disse Antony J. Blinken, vice-secretário de Estado sob o presidente Barack Obama.

"Temos de agir", disse Blinken poucas horas antes de Trump lançar o ataque.

Ataque químico mata civis na Síria

AFP

"Isto vai além da Síria", ele disse. "Assad foi contra a norma observada desde a Primeira Guerra Mundial", quando armas químicas foram amplamente usadas pela primeira vez.

Muitos funcionários importantes do governo Obama, Blinken entre eles, defenderam uma ação semelhante em agosto de 2013, quando foi violada a linha vermelha traçada por Obama em relação ao uso por Assad de armas químicas.

Em vez de agir como ameaçou, Obama, com a ajuda da Rússia, forçou Assad a assinar um acordo para retirada do país de grande parte dos estoques de armas químicas da Síria, mas claramente nem todos.

Posteriormente, Obama disse que estava "orgulhoso daquele momento" por ter dado um passo para trás em relação aos alertas do establishment em Washington. Poucos de seus principais conselheiros de política externa concordaram.

Durante a campanha do ano passado, Trump argumentou insistentemente que a decisão de Obama na época era um símbolo da fraqueza americana que nunca mais deveria se repetir. Nesse aspecto, o ataque na noite de quinta-feira foi quase pré-ordenado.

 

Mapa da Síria - ataque Estados Unidos EUA x ataque químico 615x300 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Mas também há riscos consideráveis para Trump ao longo das próximas semanas, assim que passar a satisfação imediata de fazer Assad pagar o preço pelos seus atos de barbarismo.

O primeiro risco é que sua aposta com Putin falhe. O líder russo pode ter preferido enormemente Trump a sua rival, Hillary Clinton, na eleição. Mas é improvável que Putin entre em um acordo que ameace sua influência sobre a Síria, e portanto seu principal ponto de apoio no Oriente Médio. A Síria é lar da principal base militar da Rússia fora de suas próprias fronteiras.

Um segundo risco é o de Trump, ao atacar Assad, minar sua própria meta principal na região: derrotar o Estado Islâmico.

Em caso de um colapso da Síria, ela poderia se transformar em um paraíso para terroristas islâmicos, a mesma situação que Trump está tentando evitar.

Não está claro se os combatentes do Estado Islâmico, já colocados em retirada antes de Trump tomar posse, estão em condição de explorar até mesmo uma Síria ainda mais fragmentada. Mas como nota com frequência David H. Petraeus, o general reformado do Exército que projetou o aumento de tropas no Iraque, uma das lições da última década é que se um vácuo de poder é criado na região, alguma variedade de extremistas islâmicos a explorará.

O terceiro risco é o de Trump não ter um plano real para promover a paz na Síria. As negociações lideradas pelos Estados Unidos para criação de algum tipo de acordo político, que foi a missão de John Kerry em seus últimos 18 meses como secretário de Estado, fracassaram.

Tillerson não tem demonstrado interesse em iniciar uma nova. E o orçamento proposto por Trump promove cortes nos mesmos programas que forneceriam ajuda aos sírios desabrigados e sitiados que sobreviveram a seis anos de guerra civil.

Claramente, o conflito que levou Trump a adotar a primeira ação militar de sua presidência não era um que ele estava esperando.

Durante sua campanha, ele desdenhou a noção de intervenções humanitárias e, em uma entrevista ao "New York Times" no ano passado, ele não conseguiu definir as condições que o tentariam a usar as forças armadas americanas para defender uma população estrangeira de um ditador vil. Isso simplesmente não se encaixa em sua definição de defender a "América em primeiro lugar".

Mas como muitos de seus antecessores, Trump não pôde escolher os eventos que levaram ao seu primeiro uso significativo de força. A questão é se sua nova equipe ainda não testada, dividida em suas próprias definições sobre como e quando usar o poderio americano, será capaz de transformar a intervenção na Síria em algo mais do que uma demonstração simbólica de força.