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Combate à pobreza no texto da Rio+20 é uma vitória, diz ministra

Renata Giraldi

Enviada Especial da Agência Brasil ao Rio

18/06/2012 23h34

 Em meio às polêmicas que cercam o documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, comemora o que considera uma vitória: a erradicação da pobreza como destaque no texto.

Em entrevista à Agência Brasil, a ministra ressaltou que só há desenvolvimento sustentável com inclusão social e que um depende do outro. Para Tereza Campello, a conferência já apresentou efeitos ao colocar o assunto em debate, em todas as discussões. “Felizmente, o homem veio para o centro das discussões, o que pode ser a chave do sucesso ou do fracasso”, disse. Segundo ela, as queixas sobre os impactos causados pela crise econômica internacional não podem se transformar em um retrocesso social.


Agência Brasil (ABr) - Há uma série de polêmicas no texto, mas a defesa da erradicação da pobreza é destaque no documento como um todo, o que significa isso para a senhora?
Tereza Campello – É uma vitória, pois o combate à pobreza está no centro da agenda [da conferência] que antes tratava exclusivamente da preservação da natureza. O homem [o ser humano] não pode ser excluído das discussões. Não há como falar de sustentabilidade e não mencionar o homem. Felizmente, o homem veio para o centro das discussões, o que pode ser a chave do sucesso ou do fracasso da salvação do planeta, depende dos esforços [feitos por todos].

ABr – Nas negociações sobre o documento final, os países ricos alegam dificuldades financeiras devido à crise econômica internacional. Será que pode haver um retrocesso na agenda social por isso?
Tereza Campello – O retrocesso ocorre quando há quem acredita que se combate recessão com recessão, restringindo, por exemplo, o consumo. Nós, no Brasil, não acreditamos que se combate com a recessão com o corte de gasto público e corte de renda. Também não acreditamos que se use a crise para retroceder na área ambiental. O combate à pobreza é uma forma de ajudarmos pobres e ricos a sair da crise porque mantemos uma demanda firme e mantemos uma economia e um país aquecidos.

ABr – Há uma expectativa de que seja incluído o piso socioambiental no documento final da conferência, estimulando a preservação em áreas protegidas por meio de repasses de benefícios para quem vive na região. É possível manter essa previsão?
Tereza Campello – É um conceito que precisa ser bastante desenvolvido, o Brasil já tem o seu Bolsa Verde, mas nós achamos que tem outras possibilidades sejam discutidas. É fundamental ter um piso de preservação social e ambiental, apoiando as famílias que estão nessas áreas, para que elas saiam da pobreza e ajudem a natureza. Queremos que esse piso esteja explícito no documento e queremos que saia uma agenda [concreta] no documento. Isso tudo para começar a construir logo esse processo que precisa ser efetivado.

ABr – A senhora consegue ser otimista sobre os esforços conjuntos como metas no documento final da Rio+20?
Tereza Campello – A pobreza passou a entrar no debate. Combate à pobreza e preservação ambiental, se andarem juntos, isso muita gente está convencida. Então, eu acho que já é uma conquista da Rio+20. Isso ninguém tira. Já está no debate público. Pelo o que nós temos aqui, em todas as redes isso está sendo debatido. É um ganho para o conjunto dos atores que estão envolvidos no processo. Isso já virou uma preocupação.

ABr – Os programas de transferência de renda do Brasil ganham destaque na imprensa internacional, mas despertam a atenção das autoridades estrangeiras também?
Tereza Campello – Muito. Em média, são duas delegações por semana [interessadas em conhecer os programas de transferência de renda]. Só no ano passado, mais de 80 delegações estrangeiras nos procuraram querendo conhecer os programas de transferência de renda. Há várias experiências são replicáveis, porque há algumas questões que são peças-chave. Essa ideia de que as pessoas devem ter um mínimo de renda para sobreviver, e que isso é bom para tirá-las da pobreza e também para a economia, pode levar a várias versões. Hoje, a gente pode dizer sem medo que isso não é um gasto e que não atrapalha, ao contrário, que isso ajuda as pessoas e ajuda que a economia funcione.