Secas-relâmpago: pesquisadores brasileiros detectam fenômeno com uso de IA
A intensidade e a frequência das secas-relâmpago estão cada vez maiores no país, o que levou cientistas a estudarem esse tipo de extremo climático de curta duração e que tem assustado o mundo. Esse evento, fruto das mudanças climáticas, não são definidos por modelos meteorológicos tradicionais.
Diante de eventos cada vez mais comuns no Brasil, dois pesquisadores brasileiros e um indiano desenvolveram um método aqui no país —e publicaram artigo na revista Atmosphere na quarta-feira (26)— que usa a inteligência artificial para detecção dessas secas-relâmpago.
Esse modelo é como ensinar a uma criança: tem de explicar desde o início para ela ir criando a habilidade. Estamos abastecendo ele de informações para ser capaz de identificar no início essas secas e ajudar na ações para reduzir impactos.
Humberto Barbosa, diretor do Lapis (Laboratório de Processamento de Dados de Satélite) da Ufal (Universidade Federal de Alagoas)
Segundo ele, as secas-relâmpago são um extremo climático de curta duração e forte intensidade geralmente associado às altas temperaturas. Ele afirma que elas são um reflexo da crise climática causado pelo aumento das temperaturas globais.
Trata-se de uma nova tipologia de seca, decorrente da mudança climática, que causa grandes impactos ambientais e prejuízos socioeconômicos. E detectá-las com precisão ainda é um desafio para a ciência, em razão da sua curta duração.
Humberto Barbosa
Estudos recentes
Os estudos sobre esse tipo de evento no Brasil são recentes. Humberto Barbosa diz que começou a pesquisar o tema em 2023 e afirma que cientistas do mundo inteiro estão alertando para os riscos desses eventos.
O que a gente viu no Brasil foi uma grande severidade dessas secas-relâmpago. E o que estamos vendo agora é que os modelos climáticos já preveem intensidade e duração maiores delas.
Humberto Barbosa
Dois exemplos desse tipo de seca, diz, foram as ondas de calor que ocorreram no Sudeste este ano e a falta de chuvas no Pantanal neste momento no Pantanal. "São motivos suficientes para que se acenda uma luz de alerta de que essas secas vão ser mais frequentes no Brasil daqui por diante", afirma.
Como se forma uma seca-relâmpago?
Humberto explica que esse tipo evento ocorre quando o solo fica muito seco, o que também também baixa a umidade relativa do ar. "É um círculo vicioso, que inibe a formação de nuvens e isso em um período muito curto você instala a seca-relâmpago. E ela tem essa comunicação entre a atmosfera e a parte hidrológica", diz.
No caso, quando a umidade do solo cai abaixo de 20% por muitos dias seguidos, ocorre o primeiro processo da secas-relâmpago.
Esse tipo de seca vem ocorrendo com mais frequência nos últimos cinco anos em consequência das temperaturas extremas, que têm afetado a condição da umidade do solo e que retroalimenta a atmosfera.
Humberto Barbosa
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Para chegar a uma fórmula que delimitasse o que é seca-relâmpago, os pesquisadores usam índices de seca e utilizam dados de satélite, que fornecem informações sobre temperatura, umidade do solo, precipitação, vegetação e evapotranspiração."
Os cientistas desenvolveram com base nesses dados e na série histórica de informações uma ferramentas de inteligência artificial que pode detectar esses eventos climáticos extremos.
Ele explica que esse conceito foi validado usando como base os dados da seca ocorrida do semiárido brasileiro em 2012. "São resultados preliminares, porque esse ainda é um modelo conceitual que poucos pesquisadores estão trabalhando ainda no mundo, mas é um avanço importante", diz.
O maior desejo do pesquisador é que essa ferramenta ajude a quem vive em áreas secas a ter uma informação em tempo real desses eventos extremos.
Essas secas estão ficando mais duradouras. Quando ela permanece por mais de um mês, chega a dois meses, ela se alinha com a seca tradicional. O gatilho da inteligência artificial é identificar o início dessa seca, e isso ajuda o gestor a tomar decisões rápidas.
Humberto Barbosa
O artigo também é assinado por Catarina Buriti, do INSA (Instituto Nacional do Semiárido); e por Lakshmi Kumar, da Escola de Ciências Ambientais da Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Delhi (Índia).
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