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Contaminação da lagoa da Tijuca no Rio causa morte de milhares de peixes

Cerca de 2,5 toneladas de peixes mortos foram retirados da lagoa da Tijuca na última semana - Divulgação/Mario Moscatelli
Cerca de 2,5 toneladas de peixes mortos foram retirados da lagoa da Tijuca na última semana Imagem: Divulgação/Mario Moscatelli

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

04/09/2012 17h00

Nesta última semana, o mau cheiro tomou conta do bairro da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, devido à mortandade de milhares de peixes contaminados. Desde o último dia 27 de agosto, foram recolhidas 2,5 toneladas de peixes mortos só na lagoa da Tijuca, que banha o bairro de Itanhangá e condomínios comerciais e residenciais como Downtown, Cittá América, Barra Shopping, e Península no bairro vizinho, a Barra da Tijuca.

Segundo o biólogo Mário Moscatelli, dono de uma empresa de gestão ambiental que monitora desde a década de 70 a conservação da área, o mesmo volume de peixes mortos deve ser recolhido ainda nesta semana. “Infelizmente não é novidade, nos últimos 40 anos, a região da baixada de Jacarepaguá, onde estão as lagoas na Barra da Tijuca, transformou-se em latrina. São despejadas cinco toneladas de esgoto por segundo ali”, criticou. Em outubro de 2011, segundo ele, 4 toneladas foram retiradas das lagoas.

As lagoas no bairro da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, que já foram habitat para 40 espécies de peixes na década de 70, sofrem hoje com o despejo diário de mais de 430 mil toneladas de esgoto in natura, denuncia o ambientalista que reclama do estado de poluição do bairro.

“A água da lagoa está completamente podre. A quantidade de lixo lançado nas lagoas vai se acumulando e quando tem uma ressaca na maré ocorre a eliminação do gás sulfídrico e metano o que dá o cheiro de ovo podre, altamente tóxico para os peixes”, explica. O fenômeno está associado a três fatores, destaca Moscatelli: ao despejo de esgoto, à ressaca e a fortes ventos.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) diz que nesta semana a qualidade da água das lagoas não oferece mais riscos à vida marinha. O governo culpa o despejo de esgoto ilegal e os ventos, que liberam gases poluentes do fundo da lagoa, pela morte dos peixes.

Poucas espécies

Apesar da grande quantidade de animais retirados só nesta última semana, o biólogo afirma que a maior parte das espécies já foram eliminadas e que o habitat natural de inúmeros peixes está completamente degradado.

“O número de espécies de peixes que existe hoje nas lagoas é pequeno em relação há três décadas. Só resistiram as espécies de pequeno porte parati, tilápia e Maria-da-toca, além de siris”.

Nas décadas de 70 e 80, a biodiversidade das lagoas era muito maior, cerca de 40 espécies viviam nas lagoas, afirmou. O complexo de Jacarepaguá é formado por cinco lagoas (da Tijuca, Camorim, Lagoinha, Jacarepaguá e Marapendi) e tem 14 quilômetros de extensão. O esgoto vem de toda a área residencial do entorno.

Governo diz que vistoriará despejo de esgoto ilegal

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que técnicos da gerência de qualidade da água vistoriaram, na segunda-feira (3), a lagoa da Tijuca, na Barra da Tijuca, onde foi constatada uma mortandade de peixes na semana passada.

Os índices de oxigênio dissolvido na água, de acordo com os técnicos, variaram entre 4,2 e 5,1 nos diversos pontos da lagoa, “o que já não representa risco para a vida marinha”.

A hipótese mais provável para a mortandade, segundo a nota, é “a combinação entre os ventos fortes e a mudança de maré, que contribuem para revolver o fundo da lagoa, liberando gases nocivos para a sobrevivência dos peixes”.

A presidente do Inea, Marilene Ramos, anunciou que a Coordenadoria Geral de Fiscalização do órgão fará vistorias na região para identificar e notificar os lançamentos irregulares de esgotos, que agravam as condições ambientais do sistema lagunar de Jacarepaguá.

Por sua vez, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, informou que a coleta e tratamento de esgotos na área da Barra e Jacarepaguá passaram de 200 litros por segundo para 2.000 litros por segundo, nos últimos cinco anos. Mesmo assim, “as lagoas continuam a receber esgotos clandestinos”, admitiu em nota a Secretaria estadual do Ambiente.

Projeto de recuperação para 2013

O comunicado da Secretaria de Ambiente informou ainda que já existe um projeto de dragagem e recuperação do sistema lagunar que permitirá a “renovação da água da lagoa” e que já está em fase de licenciamento. As obras tem previsão para iniciar em fevereiro de 2013 e “prevem a completa recuperação do sistema lagunar”.

Este projeto está orçado em R$ 600 milhões e faz parte das obrigações do Caderno de Encargos das Olimpíadas de 2016 que visa a “dragar e recuperar ambientalmente as degradadas lagoas da região” – Marapendi, Tijuca, Camorim e Jacarepaguá e também o Canal da Joatinga.

A recuperação das lagoas prevem a dragagem de 5,7 milhões de metros cúbicos de sedimentos poluídos do fundo das lagoas e, ainda no projeto, o saneamento da região será concluído em 2014 com a “implantação de redes de esgotamento sanitário e de troncos coletores e a construção de novas elevatórias de recalque”.

Em nota, a Fundação Rio Águas da Prefeitura do Rio de Janeiro confirmou que prevê implantar, até o fim de 2015, mais quatro unidades de tratamento de rios, nos cursos d'água Arroio Pavuna, com capacidade de tratamento de 1.250 litros por segundo; no Rio das Pedras, de 650 litros por segundo; no Rio Anil, de 1.450 litros por segundo; e no Canal Pavuninha, de 1.100 litros por segundo. O investimento para implantá-las é estimado em R$ 137 milhões.  

Condomínios na mira

A Secretaria de Ambiente afirma que promove ainda “blitz ecológicas periódicas” para reprimir os condomínios residenciais e edifícios comerciais que ainda insistem em desrespeitar a legislação ambiental, despejando esgoto in natura ou sem tratamento adequado no complexo lagunar.

Segundo a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), cerca de 80% dos condomínios da Barra já contam com rede de esgoto e, no bairro vizinho Recreio, 70% já tem rede para se conectar. Já em Jacarepaguá, apenas 20% dos condomínios contam com rede da Cedae já construída.