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Com calor e chuva chegando no Rio, praias ficam mais impróprias para banho

Giuliander Carpes

Do UOL, no Rio

24/10/2013 17h50

O calor chegou no Rio de Janeiro, temperaturas batendo os 40ºC, e a previsão é de temperaturas altas para os próximos dias. Mas, o que poucos sabem é que praias cariocas como Ipanema e Leblon estão impróprias para banho em pelo menos uma em cada três medições. E mais, o verão é a época que o problema se agrava porque chove mais.

Falta de aviso na praia

Os banhistas têm pouco conhecimento da condição da água em que nadam e se divertem. “Quem diria que um mar azulzinho com a água cristalina como esse pode estar poluído, né?”, surpreende-se o advogado paranaense João Luiz Sampaio, 37, de férias no Rio de Janeiro.

A enfermeira paulista Mariana Ferreira, 27, questiona a falta de sinalização sobre a condição da água. “Eu acho que devia haver placas avisando se o mar está impróprio para o banho. A gente não tinha ideia de que podia estar suja”, adverte a turista.

O Inea explica que está desenvolvendo um projeto de implantação de painéis eletrônicos informativos nas praias para informar melhor a população sobre as condições de balneabilidade. A iniciativa deve ser colocada em prática até a Olimpíada de 2016. “Atualmente estas informações de balneabilidade estão disponíveis no site do Inea e na imprensa”, ressalta o gerente de qualidade das águas do instituto, Leonardo Daemon.

Mário Moscatelli, que também realiza trabalho de monitoramento do despejo de esgoto nas praias do Rio de Janeiro, é mais incisivo. “Infelizmente o político brasileira pensa com a cabeça privilegiada que ele tem. Não pega bem para a cidade colocar placa dizendo que todas as praias estão emporcalhadas. Aí se deixa por isso mesmo”, acrescenta o biólogo.

Segundo especialistas da área de saúde, águas impróprias podem ocasionar doenças. O banhista pode pegar hepatite A e gastroenterite, entre outros problemas, no mar poluído por esgoto. A contaminação da areia também pode causar as conhecidas micoses na pele.

Apesar de o mês de outubro ter sido de boa balneabilidade nas seis avaliações feitas em Ipanema, Leblon e Copacabana -- porque houve pouca chuva --, de janeiro até 21 de outubro, o mar do Leblon esteve impróprio para banho em 42% das avaliações, e Ipanema em 35%. Copacabana tem o melhor índice, imprópria em só 4% da avaliações. 

O verão é a pior época: nos três primeiros meses deste ano, por exemplo, Leblon só esteve própria para banho 7 vezes em 26 medições. Ipanema só 6. Copa passou o verão inteiro própria para banho.  

Esgoto sem tratamento polui praias 

Segundo especialistas, o problema é que as duas praias dos bairros com o metro quadrado mais caro do país ainda sofrem com o esgoto jogado nos canais do Jardim de Alah e da Rua Visconde de Albuquerque - ambos desembocam no mar do Leblon e de Ipanema.

“Dependendo de como são geridos estes dois canais, há mais ou menos depósito de esgoto no mar. Aqui no Rio tem uma questão cultural: desde lá atrás não se pensava em separar a rede pluvial da de esgoto. O que acarreta aquela recomendação que todos nós já conhecemos muito bem, de que não é bom tomar banho de mar até dois dias depois de uma chuva mais forte”, afirma o biólogo Mário Moscatelli.

Em 1 ano, Leblon ficou menos poluída; Ipanema mais

A secretaria estadual do meio ambiente garante que realiza 12 projetos desde agosto de 2012 com a pretensão de fazer 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara ter o tratamento adequado até 2016. No planejamento, até o próximo ano está prevista a despoluição das duas praias mais frequentadas pelos cariocas e turistas - três elevatórias de esgoto estão sendo modernizadas e o emissário submarino de Ipanema, que lança o material a 3 km de distância da orla, está sendo reformado.

Como são as medições?

As condições de balneabilidade são analisadas a partir da determinação do número provável (NMP) de bactérias de origem fecal na água. No caso das praias da Zona Sul e Oeste do Rio de Janeiro é usado como indicador a quantidade de coliformes termotolerantes (coliformes fecais).

Uma praia é considerada imprópria para banho quando dois ou mais resultados das últimas cinco amostragens se apresentam acima de 1000NMP/100mL de coliformes termotolerantes, ou se o seu último resultado se apresentou maior que 2500NMP/100mL de coliformes termotolerantes.

Estes padrões de balneabilidade, assim como a metodologia completa usada pelo Inea estão descritos detalhadamente na resolução CONAMA 274/2000, que regulamenta os padrões de balneabilidade no Brasil.

Robôs também têm sido utilizados pela secretaria para verificar ligações irregulares de esgoto nas galerias pluviais que desembocam nos dois canais da região e na Lagoa Rodrigo de Freitas. Normalmente estas ligações são provenientes das favelas adjacentes, como Rocinha, Vidigal e Cantagalo, mas recentemente também foram flagradas mansões e hotéis do Leblon cometendo irregularidades.

“O rico e o pobre precisam fazer sua parte. O custo de fazer uma obra de ligação à rede da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) é ínfimo”, afirma o secretário estadual do meio ambiente, Carlos Minc.

“Este é o tipo de problema que exige do poder público uma coisa que é quase um palavrão: continuidade. Mesmo que se separe totalmente a rede pluvial da de esgoto, isso não quer dizer que daqui um mês um idiota não pode fazer uma ligação clandestina de novo. Enquanto as pessoas se sentirem impunes, isso vai continuar acontecendo”, completa Moscatelli, que defende até prisão para quem fizer ligações irregulares de esgoto. 

O resultado das medidas do governo estadual, no entanto, ainda não são plenamente visíveis. Neste ano, a água do Leblon passou 41% do tempo imprópria para banho - a de Ipanema, 35,5%. Em 2012, a praia do Leblon não foi aprovada em 46 (46,5%) de 99 medições no mesmo período, enquanto Ipanema esteve inadequada em 25 (25%). Copacabana só teve as águas consideradas impróprias em quatro avaliações (4%).

A frequência de monitoramento atual é de duas vezes por semana. Em 2011, a água da praia do Leblon passou 54% do tempo imprópria para banho. Já Ipanema estava sem condições adequadas de balneabilidade também em mais ocasiões: 44% das 118 medições realizadas no período.