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Chesf é suspeita de ter causado mancha negra gigante no rio São Francisco

Mancha negra nas águas do rio São Francisco, entre os Estados de Sergipe e Alagoas - Ermi Ferrari/IMA/Divulgação
Mancha negra nas águas do rio São Francisco, entre os Estados de Sergipe e Alagoas Imagem: Ermi Ferrari/IMA/Divulgação

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

13/04/2015 14h51Atualizada em 13/04/2015 19h25

A Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) é apontada pelo IMA (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas) como a principal suspeita por uma mancha negra com 25 km de extensão detectada no rio São Francisco, entre os Estados de Sergipe Alagoas. A companhia nega que tenha causado o dano.

O evento, que já é apontado como um dos maiores danos ambientais já registrados no rio, vem sendo investigado por órgãos ambientais desde sexta-feira (10), quando a água escura surgiu no maior rio do Nordeste.

O IMA disse acreditar que a Chesf tenha jogado no rio, em um provável erro de operação, sedimentos acumulados por cerca de 30 anos que estavam em um reservatório --o lago Belvedere, esvaziado no dia 22 de fevereiro para manutenção. 

O local fica no Complexo Apolônio Sales, que abastece a usina hidrelétrica de Paulo Afonso (BA), e seria a única hipótese possível para justificar, hoje, tamanho dano ambiental.

Técnicos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do IMA estão no local desde o fim de semana fazendo estudos mais detalhados sobre a extensão do problema e sua origem e tentando frear o avanço da mancha negra.

"Uma das ideias seria aumentar a vazão do rio, através das comportas, mas isso ocorreria se a mancha não se dissipar. É apenas uma hipótese, porque tudo agora é preliminar. Temos de acompanhar a movimentação da mancha, pois, se ela ficar estática, aumentar a vazão poderia alastrar ainda mais o problema e trazer outros danos”, explicou o diretor de Monitoramento e Fiscalização do IMA, Ermi Ferrari.

Um sobrevoo feito no início da tarde desta segunda-feira mostrou que ela está praticamente no mesmo lugar desde sábado (11). "A princípio isso é bom, porque ele não vai avançar a barragem de Xingó [em Canindé do São Francisco, Sergipe]. Mas ainda é preciso aguardar para termos certeza de que vai permanecer lá”, disse Ferrari.

Material tóxico

Ainda não há informações sobre que tipo de material tóxico foi despejado no rio, mas se sabe que, pela grande extensão, é praticamente impossível ter sido causado por uma empresa ou produtor agrícola --não há nenhum de grande porte instalado na região.

“O completo de hidrelétricas tem mais de 30 anos. Toda água tem material sólido e, quando chega numa área de barragem, sem movimento, ele decanta e fica feito uma lama no fundo. Então, quando eles abriram as comportas, podem ter liberado esse material no rio, mas somente o laudo confirmar isso”, afirmou Ferrari.

A companhia federal já foi notificada para apresentar explicações sobre a operação realizada em fevereiro. 

O fornecimento de água às cidades alagoanas de Delmiro Gouveia e Pariconha, abastecidas pelo rio, está suspenso até segunda ordem. A população está recebendo, emergencialmente, água por meio de carros-pipa.

Já a Companhia de Saneamento de Sergipe informou que, até o momento, nenhuma cidade teve o abastecimento afetado pela mancha que surgiu.

Uma análise da água já detectou alteração no PH e nos níveis de sódio, condutividade, dureza total, sólidos totais e cloretos. Novos testes estão sendo feitos rotineiramente para saber quando será possível religar o sistema.

Segundo relato de moradores, peixes foram encontrados mortos na área contaminada.

Preocupação de comitê

Segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, as manchas são objeto de "grande preocupação, sobretudo tendo em vista que a redução atual da vazão do rio favorece ainda mais os eventuais efeitos de qualquer processo que impacte suas águas com substâncias poluentes".

A entidade também pediu investigação detalhada sobre as causas do episódio e danos socioeconômicos causados. Também “conclama a união de esforços do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil para que as ações de limpeza e recuperação do corpo hídrico tenham início o mais breve possível".

Resposta

A Chesf informou, por meio de assessoria de imprensa, "que desde o dia 9 de abril está realizando testes na água onde foi detectada mancha escura no Reservatório de Xingó, no Rio São Francisco".

"Já foi identificado pelo Laboratório de Biologia Vegetal, do Núcleo de Pesquisa em Ecossistemas Aquáticos NUPEA/UNEB, que trata-se de floração da microalga oportunista Ceratium furcoides, comum a diversos ecossistemas, já tendo sido sua presença registrada em monitoramentos ambientais no São Francisco, em menores concentrações."

A Chesf negou a informação "de que a mancha teria sido causada pelo esvaziamento do reservatório Belvedere – operação realizada em 22 de fevereiro que não constatou a presença dessa microalga, nem provocou liberação de sedimentos da barragem".

"Todo o trabalho de operação das usinas e manejo dos reservatórios da Chesf são feitos com a autorização e fiscalização de órgãos como o Ibama e a Agência Nacional de Águas (ANA). Atualmente, devido à longa estiagem, o rio encontra-se com vazão mínima de 1.100m3/s, a partir da barragem de Sobradinho (BA) e de 1.000m3/s, na carga leve (durante a madrugada, domingos e feriados)."

Por fim, a Chesf informou que "continuará o trabalho de monitoramento da mancha e divulgará novas informações quando todas as análises forem concluídas".