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Muito sol e água insuficiente? Solução pode ser um painel solar

Denis Balibouse/ Reuters
Imagem: Denis Balibouse/ Reuters

Ben Sharples e Justin Doom

12/06/2015 14h36

De longe, eles se parecem um pouco com uma grande capa em mosaico para piscinas. São os painéis fotovoltaicos, wafers de silício de meio milímetro de espessura colocados sobre reservatórios. Sua função: gerar energia e conservar água.

Durante anos, essa tecnologia era apenas um produto de nicho. Agora, como a preocupação com a seca está aumentando em muitos lugares do planeta, parece que ela está deslanchando.

Em regiões áridas da Califórnia e da Austrália, assim como no Japão, onde a falta de espaço faz com que os terrenos valham mais, uma quantidade cada vez maior de painéis pode ser vista pontilhando a água. Segundo a Infratech Industries Inc., uma desenvolvedora da tecnologia com sede em Sydney, esses painéis podem produzir quase 60 por cento de eletricidade a mais do que os parques solares em terra e reduzem a evaporação em 90 por cento.

Embora ainda representem menos de 1 por cento da energia gerada pelas instalações solares hoje, frente a cerca de zero há alguns anos, a Infratech projeta um crescimento muito maior na demanda pelos painéis flutuantes -- em reservatórios e até sobre represas hidrelétricas -- devido ao aumento das temperaturas mundiais.

"A água é uma commodity cujo valor só vai aumentar", disse Felicia Whiting, diretora da Infratech, em entrevista por telefone.

Custo mais alto

No entanto, para que essa tecnologia continue ganhando participação no mercado, os produtores terão que superar o que talvez seja seu maior obstáculo: o custo mais alto de instalação e manutenção dos painéis em relação às unidades convencionais, o que poderia limitar sua difusão em regiões afetadas por secas ou muito povoadas.

A Kyocera Corp. e a Century Tokyo Leasing Corp. construíram três usinas em Hyogo, no Japão, com uma capacidade total de 5,2 megawatts, segundo um comunicado publicado em maio. Um megawatt é suficiente para gerar energia a 357 casas japonesas, disse a Kyocera.

As usinas japonesas estão sendo desenvolvidas sobre a água em regiões que não têm terrenos suficientes para gerar energia com centrais elétricas, disse Hina Morioka, porta-voz da Kyocera em Kyoto, em resposta enviada por e-mail no dia 28 de maio. Foram elaborados projetos para cerca de 30 reservatórios no Japão, que produziram cerca de 60 megawatts. Há pelo menos cinco usinas em funcionamento no Japão, com uma capacidade combinada de 7,4 megawatts, menos de 1 por cento da capacidade de energia solar instalada no país, que totaliza 23,3 gigawatts.

A Solar Power Inc., financiada pela LDK Solar Co., da China, está elaborando projetos nos EUA e no México. A companhia se uniu à Aqua Clean Energy, com sede em San Diego, e identificou mais de 50 megawatts de potenciais usinas para lugares como a Califórnia, de acordo com um comunicado publicado em março.

Os painéis flutuantes ajudam a conservar água, cuja insuficiência está ameaçando a produção de café, amêndoas e outras commodities. Uma seca sem precedentes na Califórnia fez com que milhões de hectares de terras cultiváveis ficassem inativos.

Fonte de eletricidade

O sol poderia se transformar na maior fonte de eletricidade por volta de 2050, desde que os custos da energia solar possam ser reduzidos, disse a Agência Internacional de Energia, em setembro. Os preços dos painéis baixaram cerca de dois terços desde 2010 devido ao excedente mundial da oferta impulsionado pela produção na China.

É possível que as instalações de painéis fotovoltaicos neste ano batam o recorde de 61 gigawatts, segundo a Bloomberg New Energy Finance (BNEF). O Japão poderia adicionar mais de 12 gigawatts, e a China, 17 gigawatts. No mundo inteiro, as instalações poderiam chegar a 70 gigawatts no ano que vem, diz a BNEF.

A capacidade solar dos EUA cresceu 30 por cento, para mais de 20 gigawatts em 2014, e vai mais do que dobrar até o fim de 2016, diz a Associação de Setores da Energia Solar em Washington.

"Em países ou regiões onde, mais do que o custo, o terreno é o fator limitador para um sistema solar, talvez os painéis flutuantes encontrem um mercado mais amigável", escreveu Jacqueline Lilinshtein, analista da BNEF em Nova York, em uma mensagem enviada por e-mail no dia 3 de junho.