Bonitinha, mas intimidante: essas aves da Nova Guiné podem intoxicar você

Espécies não são as primeiras a serem identificadas. Acredita-se que existam cerca de oito espécies da Nova Guiné que contêm a neurotoxina —e talvez esse número seja ainda maior.

Essa toxicidade muito possivelmente é uma adaptação para evitar a ação de ectoparasitas, os piolhos que vivem nas penas das aves. Já houve experimentos em que foi observado que essa toxina consegue inibir a ação de piolhos e alguns vertebrados. Ela geralmente está concentrada na epiderme, mas ainda há respostas que devem ser buscadas de como ela se espalha pelas penas. Wesley Rodrigues Silva, professor do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp

Estudo de aves venenosas ainda é recente. Os primeiros registros da temática se dão no início dos anos 1990. Desde então, cientistas já conseguiram mapear outras aves venenosas, como Codorniz-comum, Pato-ferrão e Mariquita-Vermelha. Elas também adquirem a toxina por meio da alimentação e, em alguns casos, durante o fluxo migratório. No entanto, as toxinas não levam a quadros graves de intoxicação em humanos.

É importante dizer que fazemos uma distinção entre venenoso e peçonhento. O venenoso é aquele que traz o veneno no próprio organismo. Já o peçonhento é aquele que, além de ter veneno no organismo, tem algum comportamento que é capaz de inocular o veneno [transmitir a substância]. Essas aves são venenosas, mas não tem a menor condição de inocular isso em alguém. Wesley Rodrigues Silva, professor do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp

Batracotoxina faz mal?

Para as aves da Nova Guiné, não. Os estudos mostram que as aves desenvolveram ao longo do tempo uma mutação capaz de inibir a ação da neurotoxina, tornando-se autoimunes.

A neurotoxina altera uma membrana da célula, o canal de sódio, responsável por mediar a contração muscular. Essa toxina altera esses canais para que eles fiquem permanentemente abertos, o que pode levar à morte por paralisia muscular. As aves conseguiram desenvolver uma mutação na proteína da célula na qual a toxina se liga. Com essa mutação, a toxina não consegue agir. O mecanismo ainda não é bem compreendido, mas já se sabe que a toxina, apesar de estar presente no organismo, não vai se acoplar na célula. Wesley Rodrigues Silva, professor do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp

Já para humanos, pode causar formigamento e ardência. As aves já são conhecidas pela população indígena da Nova Guiné por causarem irritação na pele, provocando sensações de dormência. Também há registros de sintomas como coriza e olhos lacrimejantes. Não há informações de que esse contato tenha causado um acidente fatal, como ocorre com outros animais que têm a mesma neurotoxina no corpo. A hipótese é a de que a quantidade presente nelas não seja suficiente para intoxicar de maneira mais grave os humanos.

Conexão com outro lado do mundo

Batracotoxina também é encontrada em sapos da amazônia colombiana. A neurotoxina está presente em doses altas nos sapinhos coloridos, o Phyllobates terribilis, do país vizinho. O bicho é considerado um dos mais tóxicos do mundo. A substância no corpo do anfíbio pode causar a morte de dez seres humanos de uma vez, segundo Museu Americano de História Natural.

Eles também adquirem substância pela alimentação. Assim como as aves, os sapos não são capazes de sintetizar a substância no organismo. Os cientistas ainda não sabem explicar por qual motivo eles são tão venenosos.

Tem ave venenosa no Brasil?

Ainda não foram descobertas espécies venenosas por aqui. Até o momento, segundo Silva, não há registro de aves com toxinas no território brasileiro.