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Sortuda? Raridade, lagosta escapa da panela por ser "bonita demais"

Espécie rara de lagosta foi considerada bonita demais para terminar na panela - Reprodução
Espécie rara de lagosta foi considerada bonita demais para terminar na panela Imagem: Reprodução

Wanderley Preite Sobrinho

Colaboração para o UOL

21/08/2017 14h34

Um raríssimo exemplar de lagosta pescado no mar da Escócia foi considerado bonito demais para terminar na panela. Uma lagosta azul brilhante chegou a um distribuidor de frutos do mar, que decidiu não mandar o animal para os restaurantes da cidade escocesa.

O crustáceo foi encontrado na cidade litorânea de North Berwick e entregue a Adrian Coakley-Greene, de 70 anos. O homem ficou tão empolgado com a descoberta que batizou o animal de Chelsea em homenagem ao seu time de futebol do coração, também azul.

Assim que recebeu a encomenda, Coakley-Greene decidiu que não iria vender o exemplar a restaurante algum. "Tenho vendido lagostas há 42 anos e nunca vi nenhuma como esta”, garante.

Ele conta que seu fornecedor entregou o crustáceo com outras onze lagostas que eram da cor preta, usual. "Eu fiz algumas pesquisas e descobri que um em cada dois milhões de lagostas é azul. Então ficará fora do menu - ela é muito rara e bonita demais para ser devorada.”

"No Brasil eu não tenho notícia da ocorrência de nenhuma lagosta nessa tonalidade", explicou ao UOL o professor Marcelo Amaro Pinheiro, coordenador do Grupo de Ecologia de Crustáceos Decápodos da Unesp (Universidade Estadual Paulista). De acordo com o especialista, "a cor azulada é incomum para qualquer crustáceo". Ele diz que a lagosta azul europeia pode ter sofrido alguma "mutação genética". "Esse gene pode se manifestar aumentando a ocorrência de determinada proteína."

Pinheiro explica que as lagostas têm duas principais proteínas que lhes confere pigmento: “Uma delas é a astaxantina, que dá a cor vermelha. A outra é a crustacianina, que dá a cor azul.” Segundo o especialista, uma mutação genética torna predominante a crustacianina, que faz refletir a cor extremamente azul em alguns exemplares.

O especialista afirma que esses animais são raros porque a cor azul chama a atenção dos predadores, ao contrário da maioria dos crustáceos, de cor amarronzada. “Se uma pessoa pesca um macho e uma fêmea azuis os colocam para cruzar em laboratório, eles produzirão todos os descendentes azuis, mas se liberarem eles no campo, todos serão predados porque chamariam muito a atenção. É por isso que eles não conseguem transmitir seus genes.”

Doutor em aquicultura, o professor Cláudio Tureck, da Univille, em Joinville, lembra que a cor preta em lagostas é mais comum na Europa porque no Brasil sua coloração costuma ser avermelhada. “A coloração vem do ambiente marinho, do fitoplâncton, microalgas que produzem pigmentos que, quando ingeridos por crustáceos, lhes transferem essas cores ao longo da cadeia.”

Coakley-Greene procura agora encontrar algum aquário que receba o Chelsea. “Mas se ninguém o quiser, o devolveremos ao mar da costa sul do País de Gales ou as coisas ficarão quentes demais para ela por aqui”.

Lagosta é lavagante?

Sim, diz o professor Marcelo Amaro Pinheiro. No Brasil, ele explica, as lagostas não têm pinças, ao contrário dos exemplares norte-americanos e europeus. Mais encontrados em águas frias, os lavagantes costumam ser mais caros em alguns restaurantes. “Mas são lagostas também. Essa espécie tem pinça mais bem desenvolvida e um tom bem escuro no exoesqueleto.”