Acesso universal à agua na América Latina torna-se mais urgente após pandemia
"A pandemia destacou a urgência de fechar lacunas e garantir o direito à água, o principal bem público para prevenir doenças e contribuir para a recuperação econômica e o desenvolvimento sustentável", disse Tanja Lieuw, responsável pela Mudança Climática e Meio Ambiente da FAO para a América Latina.
De acordo com uma série de estudos publicados nesta segunda-feira pela FAO por ocasião do Dia Mundial da Água, a América Latina enfrenta o desafio da baixa disponibilidade desse recurso precioso e indispensável, uma situação que afeta a sustentabilidade da região, acrescentou Lieuw.
A instituição analisou cinco bacias hidrográficas em Chile, El Salvador, Guatemala, Panamá e Peru, e concluiu que para enfrentar o cenário de escassez é necessário "resolver conflitos sobre o uso da água doce" e "avançar na gestão integrada de recursos".
ESCASSEZ AMEAÇA SEGURANÇA ALIMENTAR.
De acordo com o relatório, o cenário de escassez de água enfrentado por vários países da região pode afetar a produção agrícola e pecuária nas próximas três décadas e pode ameaçar a segurança alimentar em toda a região até 2050.
A agricultura, que responde por 70% do consumo total de água, enfrenta "desafios complexos" a médio e longo prazos para garantir alimentos para toda a população latino-americana, que, segundo a agência, atingirá 9 bilhões de pessoas em 30 anos.
O diretor-geral adjunto e representante regional da FAO para a América Latina, Julio Berdegué, disse que a produção agrícola precisará aumentar em 50% para atender às necessidades demográficas futuras, e para isso 15% a mais de água terá que ser extraída.
"É óbvio que devemos resolver urgentemente esta equação, o equilíbrio entre a crescente demanda de água para consumo, agricultura e indústria que está por vir e as necessidades daqueles que ainda não têm acesso a ela, colocando em primeiro lugar as necessidades dos 166 milhões de pessoas que hoje não têm acesso à água", afirmou.
Na América Latina e no Caribe, apenas 65% têm pleno acesso à água potável e 22% ao saneamento, o que significa que 166 milhões de pessoas ainda não têm acesso aos serviços básicos de água.
GOVERNANÇA.
Em termos globais, explicou Berdegué, a gestão da água exigirá políticas que melhorem e modernizem a "governança da água", ou seja, as regras que estabelecem o controle e o uso do recurso.
"A chave para isso será a coordenação entre ministérios, setores da economia, níveis de governo, entre áreas urbanas e rurais, e entre nações", explicou.
Em países como Panamá, Chile e El Salvador ainda existem problemas com relação à disponibilidade de água para uso doméstico, especialmente nas áreas rurais, em parte devido ao estresse hídrico causado pela falta de chuvas, e também devido à falta de políticas para garantir a segurança da água, de acordo com o estudo.
No Panamá, além disso, o acesso aos recursos hídricos é uma condição essencial para lidar com a crise da covid-19 e para que crianças e adolescentes retornem à escola sob medidas adequadas de biossegurança, acrescentou a instituição.
Para enfrentar esta situação em toda a região, a FAO recomenda harmonizar o uso da água para consumo humano e agrícola como prioridade na agenda pública, além de implementar marcos regulatórios, fortalecer os governos locais e aumentar a rede de pluviômetros.
Uma situação semelhante é encontrada na Guatemala, onde a organização sugere avançar na implementação da Lei Geral da Água, aumentando os sistemas de captação e armazenamento e promovendo o tratamento.
Em relação ao Peru, o relatório aponta que o país tem uma "alta vulnerabilidade" aos efeitos da mudança climática e, apesar da forte estrutura política e jurídica para a gestão da água, existem lacunas administrativas e falta de competitividade da agricultura de pequena escala.
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