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Chanceler brasileiro rechaça inclusão de novas regras em acordo UE-Mercosul

06/10/2021 15h59

Antonio Torres del Cerro.

Paris, 6 out (EFE).- O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, mostrou-se contra a reabertura de discussões sobre o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), que levou 20 anos para ser concluído, para a inclusão de novas regras, mas se disse favorável à elaboração de um documento anexo ao principal, com foco no compromisso ambiental.

Em entrevista à Agência Efe concedida nesta quarta-feira na residência do embaixador do Brasil em Paris, o chanceler afirmou que o país "não está ausente" dos debates globais e refutou as críticas internacionais ao presidente Jair Bolsonaro por descuido com o meio ambiente e negacionismo na pandemia de covid-19.

O desmatamento da Amazônia, a relação com a China e o futuro com o Mercosul, bloco que completa 30 anos de existência em meio a incertezas, foram outros temas abordados pelo chanceler, que acaba de completar seis meses à frente do Itamaraty.

Na entrevista, França mostra uma postura e um tom diferente do de seu antecessor, Ernesto Araújo, que, por exemplo, rechaçava o aquecimento global, atribuindo o fenômeno ao que chamava de "marxismo cultural".

Confira a entrevista:.

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Agência Efe: O senhor veio a Paris essencialmente para participar da reunião entre ministros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), órgão ao qual o Brasil pretende aderir. Como está esse processo?

Carlos França: Viemos três ministros de Estado (além de França, estão na capital francesa Ciro Nogueira, da Casa Civil, e João Roma, da Cidadania). Nos reuniremos hoje com o secretário-geral (da OCDE, Mathias) Cormann. O Brasil está muito avançado no cumprimento das metas fixadas pela OCDE. Vamos ver se, no ano que vem, teremos boas novidades. Continuamos trabalhando para homologar as normas e já passamos das 100 (cerca de 50% do necessário).

Efe: Nas décadas anteriores, havia a sensação de que o Brasil era mais ativo internacionalmente. O que aconteceu?

França: Houve no passado um certo ativismo, que não sei se produziu bons resultados. Me refiro, por exemplo, ao acordo com o Irã (de 2010, e assinado com a Turquia, sobre o freio no processo de enriquecimento de urânio), no qual o Brasil tentou, em algum momento, intermediar. Nós somos um agente global, estamos na África, em assuntos de cooperação, temos uma relação privilegiada com a China no comércio e em investimentos, integramos os fóruns multilaterais. Não o vejo nem isolado, nem ausente dos debates.

Efe: A imagem internacional do governo do Brasil é associada, em muitas ocasiões, a um presidente cético às vacinas, sem interesse em cuidar da Floresta Amazônica. A que o senhor atribui essa imagem?

França: Acredito que é uma imagem mal interpretada. Na questão das vacinas, o governo de Bolsonaro distribuiu a todas as unidades médicas do Brasil 300 milhões de doses. Como podem nos tachar como negacionistas?

Efe: Como está a relação com a China depois das tensões em 2019 e 2020?.

França: É nosso principal parceiro comercial. Acredito que nossas exportações estão muito concentradas em produtos primários (frango e soja, entre outros). Estamos estudando como oferecer um produto mais industrializado. Quero também incentivar o intercâmbio científico e tecnológico com a China.

Efe: O desmatamento da Amazônia e a agricultura extensiva do Brasil são críticas muito comuns feitas pelos europeus.

França: Em 22 de abril, o presidente (dos Estados Unidos, Joe) Biden deu a chance deo Brasil mostrar avanços nessas área ambiental. Vamos atrair a tecnologia necessária para desenvolver hidrogênio verde no Brasil, que pode ser produzido com fontes eólica e solar em poucos países do mundo. Isso facilitará o diálogo com a Europa.

Sobre o desmatamento, o Brasil integrou (a pasta de) Meio Ambiente e o Ministério da Justiça, porque, quando um madeireiro corta uma árvore ilegalmente, normalmente comete outro crime relacionado, que pode ser sonegação de impostos, exportação irregular ou lavagem de dinheiro.

Agora, a pessoa é detida, antes de ser multada, às vezes não por ter desmatado, mas sim por evasão fiscal. De agosto de 2020, até o mesmo mês de 2021, caiu em 32% a área desmatada.

Efe: O acordo UE-Mercosul continua travado.

França: Acredito que podemos fazer um acordo anexo, com relação aos compromissos ambientais, para reforçar esse compromisso. O que não queremos é que tenhamos que reabrir, para incluir novas regras, um acordo que levou 20 anos sendo negociado. Esse aspecto ambiental já está avançado.

É um acordo muito bom para a Europa. Alguns pensam, inclusive, que é melhor para a Europa do que para o Brasil, mas será muito importante também para o Mercosul.

Efe: O Mercosul completa 30 anos em meio a certas divergências entre os principais membros, Brasil e Argentina. Qual é o futuro do bloco sul-americano?

França: A Argentina é fundamental para o Brasil e vice-versa. Não há Mercosul se Brasil e Argentina não estiverem juntos. Por exemplo, nesta sexta-feira, receberei o ministro de Desenvolvimento Produtivo (Matías Kulfas) e o novo chanceler argentino (Santiago Cafiero). Temos uma proposta de acordo para diminuir a tarifa externa comum, que logo apresentaremos a Uruguai e Paraguai.

Nossa linha é superar a rivalidade em prol da cooperação. O fosso entre direita e esquerda, conservador ou liberal, não impede de ter boas relações com nossos vizinhos. Houve um pedido do governo do Peru, porque o presidente (esquerdista Pedro) Castillo quer se reunir com o presidente Bolsonaro, esperamos que seja neste ano.

Em 19 de outubro, vamos receber o presidente da Colômbia (Iván Duque, de direita). Podemos trabalhar na convergência. É certo que Castillo tem na economia uma visão diferente da de Bolsonaro, mas a pauta de valores é igual, contra o aborto, a favor da família tradicional. EFE