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Não é só o ornitorrinco: os fofos (e estranhos) mamíferos que botam ovos

Ornitorrinco é um mamífero que bota ovos Imagem: John Carnemolla/Getty Images/iStockphoto

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/08/2024 05h30

O bico se parece com o de um pato. O corpo lembra uma ariranha ou lontra. E a cauda é semelhante a de um castor. Mas ele não é parente de nenhum destes bichos. O ornitorrinco é um ser único: além da aparência estranha, ao mesmo tempo em que é mamífero, ele também bota ovos, é carnívoro e tem hábitos aquáticos (ele consegue ficar até dois minutos submerso).

Ele é um mamífero porque, apesar de ser ovíparo, possui glândulas mamárias e é um animal de sangue quente (endotérmicos). E ele não é o único mamífero que bota ovo. Na mesma ordem está a equidna, um animal que parece um porco-espinho.

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A anatomia do ornitorrinco é perfeita para nadar: os dedos das patas possuem membranas que o ajudam a se locomover embaixo da água. Sobras de peles cobrem os olhos e os ouvidos para proteger os órgãos da água, e o nariz (que fica no bico) tem tampinhas para evitar a entrada do líquido. O pelo denso não absorve água. O bicho vive em tocas que ele mesmo constrói perto de rios, lagos e córregos da região leste da Austrália e na ilha da Tasmânia.

Fofo, mas longe de ser inofensivo

O ornitorrinco está entre os poucos mamíferos capazes de produzir veneno (no caso dos ornitorrincos, apenas os machos). Em cada um dos tornozelos, há um esporão afiado e conectado a uma glândula interna cheia de toxinas. O veneno é poderoso o suficiente para matar mamíferos pequenos, como coelhos, e causar uma dor terrível em humanos. Os esporões são usados também em combates na época do acasalamento. O macho que se sair menos machucado do duelo conquista a fêmea.

Pesquisadores identificaram alguns dos elementos do veneno capazes de torná-lo tão doloroso. Usando cromatografia líquida de alto desempenho e outras técnicas, Masaki Kita, da Universidade de Tsukuba, e Daisuke Uemura, da Universidade de Nagoya, identificaram 12 peptídeos, pequenas cadeias de aminoácidos e elementos formadores das proteínas.

Apesar de o bico parecer duro, trata-se de um couro mole e sensível. Ali estão localizados os sensores mais apurados: é por meio do tato do bico que ele percebe a presença de presas que emitem mesmo os mais tênues sinais elétricos pela água.

A refeição mais comum de um ornitorrinco é o yabby - uma espécie australiana de lagostim que habita ambientes de água doce. Diariamente, ele pode comer metade do seu peso em yabbies, larvas de insetos e algumas plantas - toda essa caloria é gasta com muita natação. É extremamente ativo nas primeiras horas da manhã e à noitinha. O resto do tempo (por volta de 17 horas) é gasto descansando em suas tocas.

Ovos de mamíferos

Você pode até ter aprendido que a gestação de mamíferos acontece no útero da mãe. Mas há exceções.

Quando a fêmea do ornitorrinco está quase pronta para botar seus ovos, ela cava um túnel bem comprido na terra, que chega a ter 30 metros, fecha a entrada e fica lá dentro por cerca de dez dias, chocando um ou dois ovos. Não há bolsa marsupial (como nos cangurus), por isso, a fêmea deita-se de costas no ninho, coloca os ovos sobre a barriga e curva-se sobre eles, para mantê-los aquecidos.

Depois de dez dias, os filhotes nascem muito desprotegidos para encarar os perigos da Austrália selvagem. Então, eles são amamentados por cerca de quatro meses (o leite sai de glândulas e escorre pelas dobras da pele da barriga da mãe. Os filhotes precisam chupar ou lamber a "poça" que se forma). Só depois desse tempo todo que eles sairão da toca para ver o nascer do Sol e nadar pela primeira vez.

As origens do ornitorrinco

Tudo indica que o animal descende dele mesmo: paleontólogos da Universidade New South Wales, na Austrália, divulgaram em novembro de 2013 a descoberta de um fóssil gigante de um ornitorrinco. Um dente fossilizado do animal foi encontrado em um parque ao norte do país.

Analisando o material, cientistas concluíram que o bicho era duas vezes maior do que os ornitorrincos atuais (o peso médio de um hoje é 1,5kg), mas ainda existem dúvidas sobre os caminhos que ele tomou para chegar à forma atual. Como o ornitorrinco é endêmico da Austrália, poucos fósseis de seus ancestrais foram encontrados. Se o animal existisse no mundo inteiro, certamente haveria mais pesquisadores interessados em encontrar vestígios de seu passado (e existiriam mais fósseis dando sopa por aí).

Além disso, os ornitorrincos são encontrados em uma larga faixa leste da Austrália, em rios e lagos muito afastados que não possuem conexões entre si. Por isso, alguns cientistas trabalham com a hipótese de que todos descendem de um mesmo ancestral (o ornitorrinco gigante), mas evoluíram de diferentes formas ao longo do tempo. Há estudos em andamento sobre a possibilidade de existirem subespécies de ornitorrinco, com diferenças de DNA entre as populações.

Equidna é outro mamífero que coloca ovo

Ela tem várias semelhanças com o ornitorrinco, mas ainda é bem diferente. A equidna também bota ovo, escava a terra e é carnívoro. Só que a fêmea bota só um ovo por vez, a terra da toca é bem mais dura, e a comida consiste basicamente em formigas.

É mais parecida com o porco-espinho: a pele é coberta por espinhos, usados para proteger dos predadores - o bicho vira uma bolinha quando se sente ameaçado. E ela também hiberna no inverno. E ainda tem algo a ver com o tamanduá: a equidna possui uma língua comprida e gosmenta, perfeita para caçar formigas.

O bicho também tem características de marsupiais: na época de reprodução, a fêmea bota o ovo minúsculo dentro de uma bolsa no abdômen. Ele é chocado ali por até 10 dias. Quando o filhote nasce, ele continua dentro da bolsa por cerca de 7 semanas - o tempo necessário para que seus espinhos comecem a ficar mais resistentes. Só então ele sai para viver a vida.

Fontes: livro "Larrousse Encyclopedia of Animal Life". Sites The Animal Diversity Web (Universidade de Michigan), Actwild.org.au e Animals.nationalgeographic.com. Artigo "A new, giant platypus, Obdurodon tharalkooschild, sp. nov. (Monotremata, Ornithorhynchidae), from the Riversleigh World Heritage Area, Australia", escrito por Rebecca Pian, Michael Archer e Suzanne J. Hand, da Universidade New South Wales.

*Com informações de matéria de janeiro de 2014

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