TV e internet projetam o espectador para o 'protagonismo do palhaço'
A TV e a internet inauguraram no seu intercâmbio cada vez maior uma realidade que retrata e intervém de forma radical na sociedade da cotidianidade. Se a ideia da “sociedade do espetáculo” andou mexendo com as teorias e as doutrinas da sociologia e da comunicação, podemos estar, e eu acredito que estamos, diante de um novo conceito: o indivíduo projetado da condição de espectador para o protagonismo do palhaço.
A simultaneidade e a instantaneidade, o ritmo vertiginoso e cada vez mais contundente das fórmulas de provocação sensorial correm entre a comédia e a tragédia.
Até algumas semanas atrás tínhamos a “novela da corrupção”, resgatada nos últimos dias. O sujeito chegava em casa, ansioso e aflito e perguntava à mulher: E hoje, quem foi preso?
O “ladrão do dia”, quantos bilhões, a Petrobras, Curitiba, e a respiração ofegante dividiam a torcida: aplauso à esquerda, vaia à direita e vice-versa e versa-e-vice. Bandidos e mocinhos se sucedendo entre um filme de terror com cores de dramalhão mexicano. Pablos Escobares à penca, bilhões e bilhões em mansões, dólares jorrando na telinha, mulheres com diamantes e japonês da Federal.
Nem chegou ao fim nem tão cedo a série vai terminar. Não tem happy end. Mas introduz Olimpíada, os melhores do mundo, vai ter, não vai ter. Campeões, o Rio outra vez como capital do mundo, psicose maníaco-depressiva, bipolar. Euforia, excitação, um orador paspalhão falando em “ingreis” pro mundo, repetindo o bufão arrogante e pretensioso. Logo a Paralimpíada, o sofrimento e a superação. Lágrimas e emoção.
Impeachment. Fora Temer, assume Temer, é golpe, não é golpe. No tatame o conflito, a torcida vibrando, as multidões na rua. As famílias suando, transpirando. Na avenida Paulista, as ciclovias, sim e não, não e sim.
Prende, não prende, mártir ou bandido. Che Guevara ou Celso Daniel. As emoções levadas à exaustão. O país cai no abismo? A crise do apocalipse. Sem pausa pra descanso, para reflexão, feriado, feriado.
Trump ou Hillary, e volta a ciranda que não deixa cessar a roleta-russa da paranoia. Vão deportar os mexicanos? E o que será dos gays? E no cortiço e na favela o desempregado insone espera o resultado da votação na Florida.
Quem é o palhaço no circo contemporâneo? Quem escreve o roteiro? E qual o preço da ruptura de equilíbrio de proporcionalidade que retira o humano do humano, transformando a vida em ritual? Divinizando, satananizando.
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