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OPINIÃO

Infectologistas, sempre prontos...

Emílio Ribas foi um dos nomes pioneiros no combate às doenças infecciosas - Marcos Alonso/Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Emílio Ribas foi um dos nomes pioneiros no combate às doenças infecciosas Imagem: Marcos Alonso/Instituto de Infectologia Emílio Ribas

Jean Gorinchteyn e Luiz Carlos Pereira Júnior*

Colunistas convidados

11/04/2021 04h00

Hoje, 11 de abril, é celebrado o Dia Nacional do Infectologista. A data, oficialmente criada em 2005 pela Sociedade Brasileira de Infectologia, foi escolhida propositadamente por ser o aniversário de nascimento do médico Emílio Marcondes Ribas, um dos nomes pioneiros no combate às doenças infecciosas no final do século 19 e início do século 20, quando a capital paulista vivia um pico de crescimento demográfico, embalada pela efervescente chegada de imigrantes.

"Doutor Emílio Ribas" foi o diretor geral do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, equivalente a um secretário de Saúde à época, por 19 anos. Também foi reconhecido internacionalmente pela comunidade médica por seus estudos sobre a forma de transmissão da febre amarela.

Não raramente doenças causadas por microrganismos causam grandes impactos na Humanidade com surtos, epidemias e pandemias. Uma breve visita à Antiguidade e à Idade Média revela que as doenças diagnosticadas, pesquisadas e tratadas por infectologistas hoje têm origens e similaridades com as que já dizimaram comunidades inteiras e eram chamadas de "peste" no passado, conforme nos conta o livro "História das Epidemias", do infectologista Stefan Cunha Ujvari.

Nos tempos atuais, a urbanização desenfreada, a poluição ambiental e o desmatamento, agravam o aquecimento global e nos faz flertar perigosamente com outras epidemias. O professor de medicina da Universidade da Flórida, do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica e do Instituto Pasteur Christian Brechot alerta para o fato de que aproximadamente 70% das epidemias e pandemias das últimas décadas podem ter sido causadas por vírus oriundos de animais, as chamadas zoonoses.

Essa natureza cíclica do surgimento de novas doenças infecciosas, assim como as novas tecnologias aplicadas nos seus diagnósticos e tratamentos, torna ainda mais relevante a formação de novos infectologistas. A expertise necessária, a atualização técnico-científica permanente aliadas à fragilidade dos indivíduos acometidos tornam esta especialidade extremamente interessante e desafiadora, por mais assustadoras e desconhecidas que as doenças possam parecer.

Para ilustrar, lembramos de que quando a epidemia de HIV-Aids chegou ao Brasil na década de 80, muitos dos infectologistas em atuação hoje no país nem tinham nascido. Novamente resilientes e persistentes, tivemos a oportunidade de ver a chegada dos antirretrovirais, que transformaram as antigas "sentenças de morte" no diagnóstico de uma doença clínica estável e crônica, algo impensável nos anos 80 e 90.
Na sua essência, o infectologista é um profissional preparado para suspeitar, identificar e tratar infecções causadas por microrganismos, como vírus, bactérias, fungos, parasitas e outros. Essa tarefa ganha contornos complexos e amplos quando consideramos que tanto a origem quanto o desfecho destas doenças têm relação estreita e direta com as condições sociais e sanitárias das pessoas atingidas por elas.

Basta apenas alguns exemplos para deixarmos evidente a importância desta especialidade como: a tuberculose, HIV/Aids, malária, dengue, zika, HTLV, febre amarela, chikungunya, meningites, sífilis, sarampo, infecções hospitalares, e várias outras.

Neste momento, e exatamente por estarmos vivendo tempos muito difíceis, impostos pela pandemia da covid-19, com o agravante da ausência de uma coordenação nacional para o seu enfrentamento no âmbito nacional, a data merece destaque e reflexões.

Mesmo considerando o caráter multissistêmico da doença, que requer o envolvimento direto de várias especialidades médicas, esse embate suscita o protagonismo dos infectologistas na linha de frente do combate à covid-19.

Por vocação, neste momento estamos todos diretamente envolvidos neste enfrentamento da pandemia de covid-19, quer seja com a responsabilidade imensa da gestão pública, com a formação acadêmica e de novos infectologistas, na linha de frente do atendimento, em pronto socorros, enfermarias e UTIs, acolhendo pacientes e suas famílias e amigos, em laboratórios, centros de pesquisas básicas ou dedicados ao desenvolvimento de novos tratamentos e ainda, e principalmente, ao desenvolvimento, produção e validação das tão esperadas vacinas.

Parabéns aos infectologistas também pela grandeza dos posicionamentos firmes em defesa da saúde pública e da medicina fundamentada em evidências científicas e contra o negacionismo.

*Jean Gorinchteyn é secretário de Estado da Saúde de São Paulo e médico infectologista
Luiz Carlos Pereira Júnior é diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e médico infectologista