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Silêncio ensurdecedor: a dor oculta das reféns estupradas pelo Hamas

Quase cinco meses após o massacre cometido pelo grupo Hamas em Israel, a ONU apresentou relatório no qual afirma ter "encontrado informações claras e convincentes de que atos de violência sexual, incluindo estupro, tortura sexual e tratamento cruel, desumano e degradante foram cometidos contra mulheres reféns". Essa informação me traz um misto de sentimentos, principalmente em um mês no qual é celebrado mundialmente o Dia Internacional da Mulher.

Me causa um grande desconforto esse tipo de documento ser divulgado somente agora, após várias vidas de mulheres terem sido ceifadas de forma cruel pelo Hamas -- e ainda não sabemos o que está acontecendo com aquelas que seguem como reféns, escondidas por eles nos porões da Faixa de Gaza.

Pouco tempo depois da barbárie, os relatos de ex-reféns e sobreviventes surgiram trazendo mais do que evidências, mas sim uma prova viva de que o estupro foi utilizado como arma de guerra. A ONU está chegando bastante atrasada para apontar algo que está visível desde o começo a todos nós.

Enquanto a organização se manteve em silêncio, a violência sexual contra mulheres atingiu proporções alarmantes desde 7 de outubro, ecoando a dor e o desamparo de vítimas que, em muitos casos, enfrentam não apenas o trauma do ataque, mas também a indiferença ensurdecedora da sociedade e das organizações femininas.

Organizações femininas, muitas vezes na vanguarda da luta pelos direitos das mulheres, se "esquecem" de dar voz a essas vítimas. Onde estão os clamores por justiça? Onde estão as manifestações de solidariedade e apoio? Onde está a indignação coletiva diante de tamanho horror? ONU, cadê a sua voz em defesa das mulheres israelenses?

A necessidade de ampliar essa discussão fervilha dentro de mim, principalmente pelo fato de que esse tema não pode ser esquecido. Na complexa sociedade atual, o estupro, um dos crimes mais nefastos persiste como uma ferida aberta. Utilizá-lo como arma de guerra é uma prática repugnante. Essa forma de violência é empregada deliberadamente como tática para aterrorizar e subjugar comunidades inteiras, especialmente mulheres e meninas.

Mais do que uma evidência da violência sofrida pela vítima, esse fato é um grito desesperado por justiça, um eco do sofrimento silenciado de inúmeras mulheres que sofrem com esse tipo de crime às sombras da sociedade.

É importante destacar que o estupro como arma de guerra não é apenas uma violação dos direitos humanos fundamentais, mas também constitui um crime de guerra e contra a humanidade, conforme estabelecido pelo direito internacional. No entanto, apesar dos esforços para responsabilizar os autores dessa selvageria, a impunidade continua sendo um problema significativo, perpetuando um ciclo de violência e trauma para as vítimas.

É hora de romper o silêncio, de condenar não apenas os responsáveis por esses atos abomináveis, mas também aqueles que permanecem passivos e calados diante do sofrimento alheio. É hora de exigir medidas concretas para proteger e apoiar as vítimas, para garantir que cada mulher possa viver livre do medo e da violência.

Não podemos mais permitir que o silêncio seja resposta ao grito desesperado por justiça das mulheres estupradas em Israel. É hora de agir, de nos solidarizarmos com as vítimas e de lutar incansavelmente por um mundo onde todas as mulheres sejam respeitadas e protegidas.

O tempo da indiferença acabou. Precisamos agir agora.

*Elisa Nigri Griner, além de diretora-voluntária da Fisesp, é ativista social pelo direito da mulher, idealizadora e coordenadora do grupo de Liderança e Networking da Fisesp (LEN/Elf - Fisesp), dedicado ao empoderamento feminino.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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