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Condenado pela morte de Dorothy Stang inocenta em depoimento suposto mandante do crime

Sandra Rocha*<br>Especial para o UOL Notícias

Em Belém

30/04/2010 18h14

Condenado em julgamento depois de ser identificado como o intermediário do assassinato da missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, Amair Feijoli, o “Tato”, inocentou hoje (30) em depoimento à Justiça o pecuarista Regivaldo Pereira Galvão, o "Taradão", que está sendo julgado nesta sexta-feira em Belém acusado de ser um dos mandantes do crime.

Arrolado como testemunha de defesa, "Tato" disse aos jurados que mentiu quando acusou Galvão de ser um dos mandantes do assassinato, ocorrido em fevereiro de 2005. Defensora dos direitos de pequenos produtores rurais da região de Altamira (PA), área de intenso conflito fundiário, Dorothy Stang foi alvejada com seis tiros numa estrada de Anapu, no Pará.

Cinco anos depois do assassinato, Galvão, que é um dos acusados de ser o mandante do crime, vai pela primeira vez a julgamento. O fazendeiro é o único dos cinco réus do processo que nunca havia enfrentado o Tribunal do Júri. Há pouco mais de duas semanas, Vitalmiro Bastos de Moura, o "Bida", foi condenado a 30 anos de prisão, também pela suspeita de ser mandante. Os outros três já foram considerados culpados.

A defesa de Galvão tentou prorrogar mais uma vez o julgamento, mas o Supremo Tribunal Federal indeferiu o pedido. A defesa diz que ele é inocente e que não tinha nenhum interesse na morte de Dorothy.

O julgamento começou às 8h no Fórum Criminal de Belém (PA).

Feijoli foi condenado a 17 anos de prisão, beneficiado pela redução de nove anos de pena por ter delatado Regivaldo Galvão e Vitalmiro Bastos de Moura como mandantes do crime.

No julgamento desta sexta, Feijoli – que é tido pela defesa como o maior trunfo da tese de que o réu é inocente – disse que foi pressionado pelos delegados que tomaram seu depoimento na época. Um deles é o atual delegado federal Walame Machado, também testemunha, que negou a acusação.

O promotor do caso, Edson Cardoso, quis saber por que Feijoli estaria tentando inocentar somente Galvão e não Bida. A testemunha disse apenas que tinha negócios com Bida, de quem comprou parte do lote 55, área onde a missionária foi morta.

O Tribunal do Júri teve nesta sexta apenas seis testemunhas, metade delas da defesa. Outras seis foram dispensadas.

Outra testemunha, a missionária Roberta Spire, foi questionada sobre a rotina de Dorothy. Ela disse que a vítima era constantemente ameaçada e, por isso, já havia pedido proteção para si e para outras pessoas do lote onde tentava implantar o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS).

Spire disse que as ameaças foram provocadas pela orientação dada pela missionária aos agricultores locais sobre seus direitos. Galvão foi citado pela testemunha como um dos denunciados por ela nas diversas denúncias de irregularidade agrárias. Ele foi denunciado e pronunciado em 2006 sob acusação de homicídio qualificado e responde ao processo em liberdade. Os demais envolvidos no crime foram condenados e estão presos: Vitalmiro Bastos de Moura, condenado a 30 anos de prisão; Rayfran das Neves, o Fogoió, condenado a 27 anos; Clodoaldo Batista, o Eduardo, condenado a 17 anos; e Amair Feijoli, sentenciado a 27 anos.

O resultado do julgamento é aguardado com expectativa pelas entidades ligadas aos direitos humanos, sobretudo aquelas que lidam com a questão dos conflitos no campo, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em nota divulgada na última quarta-feira (28), a CPT afirmou que o nome da missionária se associa ao de outras pessoas que morreram e ainda morrem sem ter seus direitos respeitados.

*Com informações da Agência Brasil