Lula visita local de obras da usina de Belo Monte e se irrita com manifestantes
Em visita a Altamira, região paraense onde será construída a controversa hidrelétrica de Belo Monte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se irritou nesta terça-feira (22) com manifestantes presentes no local. Durante discurso, ele afirmou que os adversários deveriam ter paciência para ouvir seus argumentos.
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“Se eles tivessem paciência de ouvir, eles teriam a paciência de ouvir o que já aprendi nesse tempo todo. Quando tinha a idade deles, ia para o Paraná para me manifestar contra a construção de Itaipu. Dizíamos que Itaipu seria utilizada para inundar a Argentina. Os contrários, como esses meninos, por falta de informação, diziam que ia ter terremoto na região”, afirmou Lula.
O empreendimento tem entrada de operação prevista para 2015 (1ª fase) e 2019 (2ª fase). Ambientalistas consideram a obra desnecessária por ter potencial de uso inferior ao de muitas outras usinas hidrelétricas, mas com um custo ambiental pesado, com a possibilidade de alagamento de áreas hoje habitadas. O governo recusa essa avaliação.
A obra será tocada pelo Consórcio Norte Energia, composto principalmente pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e pelas empresas Queiroz Galvão, Mendes Junior, J Malucelli e Gaia Engenharia. A Eletrobras entrou depois no consórcio, por meio da subsidiária Eletronorte.
Há várias dúvidas financeiras sobre Belo Monte, cujo porte só é superado por Três Gargantas, na China, e Itaipu, de Brasil e Paraguai, é sobre o custo. O governo estima o preço em quase R$ 20 bilhões, mas as empreiteiras acreditam que gastarão até R$ 30 bilhões. Lula responde que parte desse custo é para ajudar os prejudicados.
“Ao invés de ser contra, proponha alternativa para usar os R$ 4 bilhões que estamos usando no processo. Vamos discutir como a gente vai usar esses R$ 4 bilhões para melhorar a vida da população ribeirinha, dos índios”, criticou o presidente, acompanhado da governadora Ana Júlia Carepa, em tom ríspido.
Em seguida, ironizou os manifestantes que gritavam em meio a centenas de pessoas. “Passem metade do dia gritando contra e passem metade colocando a energia positiva de vocês para pensar alguma coisa importante”, alfinetou.
Histórico
A usina será construída no município de Vitória do Xingu (PA). Enquanto o governo afirma que a nova usina pode beneficiar 26 milhões de brasileiros, críticos argumentam que o impacto ambiental e social da instalação de Belo Monte foi subestimado e apontam para uma suposta ineficiência da hidrelétrica.
Os primeiros estudos de aproveitamento do rio Xingu surgiram com a criação da Eletronorte – estatal da área elétrica -, em 1975. Quatorze anos depois, foi realizado o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu. Ali, o primeiro protesto ganhou o mundo: o então presidente da Eletronorte e atual da Eletrobras, José Antonio Muniz, sente a lâmina do facão de uma índia roçar o seu rosto, em um sinal de alerta.
Esse acontecimento mudaria o nome da hidrelétrica planejada: do indígena Kararaô para Belo Monte. O projeto começou a encolher para caber nas exigências dos ambientalistas e dos indígenas, mas as manifestações e as preocupações com os efeitos da construção não desaparecem.
Recentemente, o Ministério Público Federal no Pará, ambientalistas e até o cineasta James Cameron se uniram contra a hidrelétrica. Eles dizem que os estudos feitos não são respondem à pergunta: o que acontecerá com fauna, flora e população ribeirinha da região? O governo alega que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) deu licença prévia e a obra deve começar.
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