Em meio a debate político, "Pedagiômetro" indica que pedágios de SP já arrecadaram R$ 3 bi neste ano
O jornalista Keffin Gracher, 25, criou uma ferramenta batizada de “Pedagiômetro", que funciona de modo semelhante ao "Impostômetro" que a Associação Comercial de São Paulo usa para calcular os gastos da população com impostos federais, estaduais e municipais.
O Pedagiômetro, que só existe virtualmente, projeta o montante que as concessionárias arrecadaram com os mais de 200 pedágios que existem nas rodovias paulistas. Segundo a ferramenta, em breve o valor pago pelos motoristas que trafegaram em SP neste ano alcançará a marca de R$ 3 bilhões.
Contador do Pedagiômetro
-
Relógio disponibilizado pelo Pedagiômetro estima, com dados que se atualizam constantemente, o quanto já foi pago nos pedágios paulistas em 2010
A ferramenta apimenta o debate político enquanto os preços e a quantidade de praças de pedágio das estradas paulistas sempre aparecem entre os argumentos dos adversários dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, candidatos à Presidência e ao governo de São Paulo, respectivamente. O assunto é também o carro-chefe da campanha de Aloizio Mercadante (PT), principal adversário de Alckmin. Gracher já foi assessor de Mercadante.
Gracher, idealizador da ferramenta junto com o amigo Eric Mantoani, explica que o valor calculado não é exato, e sim uma estimativa da arrecadação com os pedágios, baseado no valor que as empresas declararam ter arrecadado nos últimos anos.
“Fui atrás dos balancetes anuais das concessionárias, que mostraram a arrecadação e a taxa média de crescimento de um ano para o outro. Peguei o total arrecadado em 2009 e apliquei 16,7% de crescimento para esse ano, que foi o mesmo dos últimos dois anos. A estimativa, que é subestimada, indicou uma arrecadação de R$ 5,3 bilhões em 2010. Para fazer o contador, dividimos esse valor em segundos”, afirmou Gracher ao UOL Notícias.
De acordo com o idealizador, em 21 dias o "Pedagiômetro" ultrapassou a marca de 36 milhões de "page-views" e 900 mil usuários únicos. O crescimento dos acessos foi impulsionado pela ajuda de sites petistas, como a página oficial do diretório do PT de SP e o blog “Os Amigos da Presidente Dilma”, que escolheram um espaço fixo em suas home pages para destacar o "Pedagiômetro" e colocar um link para a página criada por Gracher. O próprio site oferece um código para reproduzir o contador em outras páginas.
O site traz também números gerais dos pedágios, exibe o lucro anual das concessionárias e mostra comparativos entre o que é gasto em viagens dentro do território paulista e para outras regiões do país. A página possui uma ferramenta que permite calcular o quanto se gasta com pedágios para ir de um ponto a outro no Estado. Há ainda um espaço para divulgar notícias sobre o tema.
Apesar do apelo eleitoreiro, o jornalista afirma que a intenção maior da ferramenta é criar um mecanismo de controle social. “Faltava um mecanismo para dar transparência às contas de pedágio. Há uma dificuldade muito grande para acessar esses dados. É muito camuflado”, diz.
O "Pedagiômetro" foi registrado no domínio www.pedagiometro.com.br. A empresa responsável pelo domínio é a Mídia Nova Internet e Comunicação Ltda, mesma empresa que em 2006 recebeu R$ 9.400 para prestar serviços ao então candidato a deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP). No mesmo ano, a empresa também prestou serviços no valor de R$ 3.648 a Paulo Renato, candidato tucano a deputado federal.
Keffin Gracher trabalhou até o final do ano passado como assessor parlamentar de Mercadante e assume que é ligado ao PT. O criador, contudo, afirma que não participará da campanha do petista ou de outro candidato e disse que a produção e manutenção do site e da ferramenta são bancadas com recursos dos próprios idealizadores.
Para Gracher, a exploração do "Pedagiômetro" no debate eleitoral é natural e inevitável. “O jogo político está posto. Se as pessoas vão aproveitar os dados eleitoralmente, paciência, faz parte do processo”, afirma.
Raio-x das estradas de SP
O Estado de São Paulo possui 35 mil km de estradas pavimentadas –22 mil estaduais, 1.050 federais e 12 mil estradas vicinais. Do total de vias sob a responsabilidade do Estado (34 mil km), 5.600 km (16%) estão sob responsabilidade de concessionárias.
Desde que foi iniciado, em 1998, o Programa de Concessões Rodoviárias do Estado criou 187 novas praças de pedágio em rodovias paulistas. O Estado já tem mais pedágios do que todo o resto do Brasil. São 227 pontos de cobrança em vias estaduais e federais no território paulista, ante 113 no restante do país, segundo dados da Artesp (agência reguladora do setor). O valor do pedágio nas rodovias estaduais varia de R$ 2,15 a R$ 18,50 para carros de passeio.
O último levantamento da Confederação Nacional do Transporte apontou que das 16 rodovias do país avaliadas como “ótimas”, 15 estão em São Paulo. No topo do ranking estão o corredor Ayrton Senna-Carvalho Pinto –concedido em junho do ano passado para a Ecopistas–, seguido pela rodovia dos Bandeirantes (sob concessão da Autoban) e pelo Sistema Anchieta-Imigrantes (administrado pela Ecovias).
Em entrevista ao UOL Notícias, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Mauro Arce, afirmou que a única maneira de manter as estradas em boas condições é cobrando pedágio dos usuários. “Se não fossem os pedágios, não teríamos estradas tão boas. E qualidade não é só o conforto, mas também segurança e investimento.”
Manoel Lima Junior, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de SP, não discorda da adoção de pedágios, mas critica o valor elevado das tarifas e o número excessivo de praças. “Sem dúvida as estradas em São Paulo são boas, bem conservadas, mas o pedágio é extremamente caro. Por exemplo, com o valor anual que três carretas que circulam diariamente entre Santos e Ribeirão Preto pagam de pedágio, era possível comprar uma quarta carreta por ano”, diz.
O secretário, por sua vez, disse que as tarifas cobradas são baixas se comparadas ao valor agregado das mercadorias que circulam nas estradas paulistas. “Temos um estudo que mostra que o preço do frete é barato em comparação com o tipo de mercadoria que circula, e o preço do pedágio é mais barato ainda se comparado ao preço do frete.”
Modelo de concessão
O valor cobrado nos pedágios paulistas se relaciona com o modelo de concessão adotado nas rodovias. Quando fez as primeiras concessões, o governo de SP optou pelo modelo de licitação, que levou em conta o montante que as empresas ofereciam ao Estado para ter a concessão, a chamada outorga. A vantagem desse modelo é que o dinheiro pode ser aplicado em novas estradas. Por outro lado, esse valor é repassado aos motoristas.
No modelo de outorga, o valor da tarifa dos pedágios não é pré-estabelecido, diferentemente do modelo no qual a vencedora da licitação é a concessionária que oferecer o valor mais barato de pedágio, adotado pelo governo federal nas concessões da Régis Bittencourt e Fernão Dias e pelo governo de SP na concessão do Rodoanel.
Para Eduardo Padilha, economista do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper, ex-Ibmec), especializado no setor de transportes, as primeiras licitações das estradas paulistas foram feitas em uma época na qual o risco Brasil era muito alto, o que obrigou o Estado a conceder vantagens e seguranças maiores às concessionárias. “Quem investiu naquela época, correu riscos”, disse.
Segundo o economista, as condições econômicas do país permitem que, após o término do contrato com as primeiras concessionárias, em 2017, o governo do Estado possa fazer uma licitação em melhores condições, inclusive adotando o modelo de tarifa mais baixa, em vez do modelo de outorga. “Preços de contratos vão baixar e devem ser mais adequados. O risco Brasil diminuiu muito, o que deverá aumentar a concorrência”, afirmou.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.