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Leia a transcrição da entrevista de Jarbas Vasconcelos à Folha e ao UOL

Do UOL, em Brasília

23/03/2012 07h00

Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dos senadores do PMDB que não apoia o governo da presidente Dilma Rousseff, participou do "Poder e Política" , projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 22.mar.2012 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
 

>>Fotos da entrevista com Jarbas Vasconcelos.
 

Leia a transcrição da entrevista e assista ao vídeo:


Jarbas Vasconcelos – 22/3/2011

Narração de abertura: Jarbas de Andrade Vasconcelos tem 69 anos. É um dos 8 senadores do PMDB não alinhados ao governo de Dilma Rousseff.

Jarbas Vasconcelos foi 2 vezes governador de Pernambuco, de 1999 a 2006. Antes, foi deputado estadual e federal. Foi também prefeito da capital pernambucana, Recife.

Jarbas presidiu o PMDB em 1989, ano em que o partido lançou Ulysses Guimarães para presidente da República.

Eleito senador em 2006, Jarbas Vasconcelos chegou ao Congresso como opositor de Lula. Em 2010 apoiou José Serra, do PSDB, contra Dilma Rousseff, do PT. Mesmo após a eleição, mantém-se próximo a Serra.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de São Paulo, do portal UOL e do portal Folha.com. A gravação é sempre realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília.


E o entrevistado desta edição do “Poder e Política” é o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco.

Folha/UOL: Olá, senador. Muito obrigado por dar essa entrevista para a Folha e para o UOL. Eu começo perguntando: o sr. faz parte de um grupo dos senadores do PMDN que não está alinhado diretamente com o governo de Dilma Rousseff. Um dos senadores desse grupo, Eduardo Braga [do PMDB-AM] acaba de ser nomeado líder do governo Dilma no Senado. Isso muda alguma coisa na orientação desse grupo de do sr.?
Jarbas Vasconcelos
: Trocar Jucá por Eduardo Braga já é alguma coisa, é uma coisa muito importante. O Eduardo Braga é uma pessoa moderna, é uma pessoa articulada, eu poderia até dizer a você que ele está acima da média do Senado, em inteligência, em articulação, em desenvoltura.

Agora, o que é importante esclarecer e colocar transparência nisso: esse grupo, anteriormente, eu estava praticamente sozinho. Eu, Pedro [Simon, do PMDB-RS]. Eu votava sempre contra o  governo e Pedro eventualmente, episodicamente. E aí quando da renovação do Senado, de dois terços no Senado, agora nas eleições de 2010, a gente teve condições de trazer de vota o Requião [Roberto Requião, do PMDB-PR], o Luiz Henrique [do PMDB-SC], o Waldemir Moka [do PMDB-MS], que eram figuras do MDB antigo. Então esse grupo, Fernando, ele foi criado, foi sugerido, a concepção dele é para enfrentar o PMDB. É uma tentativa de melhorar o PMDB. A gente jamais poderia fazer um bloco de dissidência ao governo. A gente não consegue misturar. Então a gente não consegue misturar. As reuniões geralmente são na minha casa, no meu apartamento, na minha residência. Mas não se toca em questões de governo, mas em questões do PMDB. Porque esse grupo entende que não poderia ficar como está nas mão de Raupp [Valdir Raupp, do PMDB-RO], nas mãos de Sarney [José Sarney, do PMDB-AP], de Jucá [Romero Jucá, do PMDB-RR], de Renan Calheiros [do PMDB-AL], com práticas antigas e superadas.

Folha/UOL: Esse grupo de 8 senadores na média fica mais propenso a ouvir os argumentos do Palácio do Planalto e eventualmente se alinhar mais àquilo que são os interesses do Palácio do Planalto, da presidente Dilma?
Jarbas Vasconcelos
: Não. Por ser um grupo independente, um grupo que quer, inclusive, melhorar as condições do atual PMDB, é um grupo mais ou menos independente. Há graus aí de independência. Mas é um grupo independente. É um grupo que recusa a coisa das Medidas Provisórias, o volume das Medidas Provisórias, que estranha e condena os adendos, os jabutis que são colocados dentro das Medidas Provisórias, que são verdadeiras aberrações. Além de aberrações são coisas imorais, que são colocadas, sobretudo, na Câmara dos Deputados.

A gente imaginava, eu próprio imaginei que, quando Dilma, no início do mandato, tomou aquelas providências com relação ao Ministério dos Transportes, foi dura, numa entrevista a uma revista semanal que teve repercussão na semana seguinte, ela demitiu a cúpula do Ministério dos Transportes. O que é que a gente imaginou, eu por exemplo imaginei, que ela ia dar continuidade àquilo. Que não seria um processo intermitente, que seria um processo continuado, que ela iria fazer uma faxina. Ela não fez faxina coisa nenhuma. É como quem iniciou uma faxina, Lula deve ter gritado, a base fisiológica deve ter passado o recibo e ela simplesmente escondeu a vassoura atrás da porta. Deixou de ser a faxineira, passou a adotar medidas ambíguas, medidas que não eram as mesmas adotadas em relação ao primeiro episódio. Todos os ministros cederam, nas quedas, pode ser mais atribuído ao trabalho da mídia, já que o Congresso é pífio, não consegue fazer isso. A própria oposição a que eu pertenço não tem desenvoltura para isso. Foi a mídia que levou o governo ao estrangulamento e consequentemente às demissões dos ministros. Então não foi um processo modelado e executado por ela. 

Folha/UOL: A presidente já fez 15 mexidas nos seus ministros, alguns [foram deslocados] mais de uma vez, por isso 15. Dessas 15 trocas, 7 saíram sob alguma acusação de malfeito, como ela diz. Agora ela colocou Eduardo Braga como líder no Senado. Será que é um processo gradual, ela quer de fato fazer algum tipo de faxina e mudar as prática ou, como o sr. diz, não há faxina nenhuma?
Jarbas Vasconcelos
: Eu não acho que é uma troca de seis por meia dúzia você tirar Romero Jucá e colocar Eduardo Braga para liderança do governo do Senado. Acho que é um ato importante, é preciso apenas ter sequência. Porque a faxina iniciada no primeiro trimestre de 2011, ela não teve sequência. Ela não adotou o  mesmo comportamento que teve em relação ao Ministério dos Transportes com os outros Ministérios. A começar pelo Ministério da Agricultura. O meu partido, o PMDB [controla o Ministério da Agricultura], onde ela ficou indecisa, vai e vem, com um pé atrás, sem tomar medidas duras [como] foram as medidas tomadas com relação ao Ministério dos Transportes.

Eu acho que é um alento. Eu acho que a indicação de Eduardo Braga pode ser uma coisa boa. Uma pessoa com que a gente pode dialogar, que a gente pode conversar, né.

Folha/UOL: E nesse sentido o sr. pode conversar mais com um representante direto do governo e eventualmente ficar mais aberto a alguma discussão eventualmente votar alguma proposta que o governo defenda.
Jarbas Vasconcelos
: Posso, posso. Porque eu fico muito desconfortável quando meu voto é consciente contra o governo e é misturado com o voto da chantagem. Com o voto do inconformismo, mas um inconformismo entre aspas, porque é um inconformismo porque o pleito não foi atendido, porque a emenda não foi liberada, porque o diretor não chegou lá no lugar para o qual foi indicado. Essas coisas todas. No caso mesmo da Agência, não faz mal nenhum dizer aqui para vocês, publicamente, que os votos... Houve um número razoável de votos conscientes, mas a gente só ganhou por conta dos inconformados.

Folha/UOL: O sr. votou contra a indicação do Figueiredo para a ANTP?
Jarbas Vasconcelos
: Votei. Via de regra eu voto contra essas indicações. Via de regra. Porque geralmente são manipuladas pelo PT e a Dilma aceita isso.

Folha/UOL: Embora o sr. esteja mais propenso a ouvir os argumentos agora por meio de Eduardo Braga no Senado...
Jarbas Vasconcelos
: Ouço.

Folha/UOL: ...o sr. continua achando que a presidente está longe de romper com as práticas antigas de fisiologismo e clientelismo no Congresso?
Jarbas Vasconcelos
: Acho, acho. Acho que é um governo perdido, acho que são 15 meses, a gente está falando praticamente no final de março [de 2012]. E são 15 meses, não é brincadeira isso, são 15 meses, o governo não anda. Não é só com relação à  classe política, o Congresso Nacional. A indústria está depenando, a indústria está afundando. As medidas que ela [Dilma Rousseff] toma são medidas pontuais e medidas episódicas. O diagnóstico existe e ela tem esse diagnóstico na mão. E ela não enfrenta isso com medidas severas. O governo não fez a reforma. Lula foi eleito lá atrás, há nove anos, com duas bandeiras. A bandeira da moralidade e a bandeira das reformas. Ele nem fez reformas e não inventou a corrupção no Brasil, mas botou a mão em cima dos corruptos. Criou uma grande base de apoio, inventou Dilma e Dilma não tem... Ganhou a eleição Dilma, está com 15 meses de governo.

E Dilma não tem os atributos, se pode se chamar de atributos... Mas são atributos de Lula. Lula tem malícia, Lula tem carisma. Lula tinha paciência, que ela não tem, ela é uma pessoa arrogante, muito arrogante. Lula até engolia sapo e depois até vomitava esses sapos, mas engolia às vezes, publicamente. Ela não. Ela não tem jogo de cintura. Ela quer ganhar no grito, ela quer ganhar com cara feia.

Folha/UOL: Agora, deixe-me fazer uma pergunta para o sr.: Eduardo Braga, a nomeação dele foi interpretada por muitos como uma tentativa de ampliar ali o diálogo dentro do Senado. Mas por outro lado, se a presidente mantém as práticas que havia no governo anterior, as chances de ele trazer alguma grande mudança é muito pequena, não é?
Jarbas Vasconcelos
: Eu acho. Eu acho que o fato...

Folha/UOL: Estou falando: não é seis por meia dúzia. Mas que diferença ele vai fazer?
Jarbas Vasconcelos
: Pois é. Quando ela fez a troca, a troca não é de seis por meia dúzia. Mas se ela não dá consequência a isso, se ela não busca um diálogo com o Senado e com a Câmara... Se Dilma quiser conversar com o grupo da gente, comigo e outras pessoas, eu converso. Agora, eu não posso conversar para lá para ser um aliado do governo, para votar com o governo. Eu quero saber o que é que ela vai fazer. O que é que ela pensa. Porque nós estamos com quase 15 meses de governo e o país é completamente medíocre, continua medíocre e ela ajudando essa mediocridade que toma conta hoje do país.

O que eu quero dizer é o seguinte: é impossível você ter mudanças no Senado, no Congresso Nacional, [se] você tem o presidente José Sarney presidente do Congresso Nacional. Você não pode ter mudança com isso. Sarney controla o setor elétrico do país, controlava no governo Lula, já devia ter interferência em outros governo antes de Lula, mas tem um controle total disso. Uma pessoa de práticas ultrapassadas. Uma figura que já devia estar em casa há muitos e muitos anos, [é] presidente do Senado. E você vai confiar que isso possa avançar, que isso possa dar um salto para frente, um salto quantitativo? Qualquer líder, qualquer líder, por mais poderoso que ele seja, por mais desenvoltura que ele tenha, ele vai barrar nas coisas de Sarney.

Folha/UOL: O sr. acredita que haverá ou não haverá uma melhora agora com essa troca de líderes?
Jarbas Vasconcelos
: Acho que haverá melhora até porque a gente está disposto a ajudar [para] isso. Agora, se ela vai dar consequência a isso...

Folha/UOL: O sr. acha que a presidente Dilma, com o sr. falando todas essas coisas, essas críticas que o sr. faz ao governo dela, vai ter disposição de conversar com os senhores?
Jarbas Vasconcelos
: Não, não. Pela prática dela não. Porque ela passa recibo. Ela se irrita com as pessoas, se irrita com os fatos, se irrita com editoriais dos jornais, com reportagens. Grita com os auxiliares. Como é que você pode ter uma equipe, a Presidência da República, tem uma equipe que você comanda no grito e no mal humor? Não pode. Não pode.

Folha/UOL: Por que o sr. acha então que ela age dessa forma? 
Jarbas Vasconcelos
: São várias as circunstâncias, Fernando. Lula criou uma grande base. Teve a experiência do primeiro governo com alguns problemas, algumas derrotas. Alguns entreveros no Congresso. Resolveu após o pleito de 2002 criar uma base enorme. Alguns jornais, não sei se foi a Folha ou se foi outro, nessa semana publicou que ela [Dilma Rousseff] tem a maior base democrática do país a partir da redemocratização. Isso já faz quase 30 anos. Então Lula criou a maior base. Mas o Lula criou por conta daqueles atributos que eu disse lá atrás. Lula é hábil, Lula tem apoio popular. Ela nem tem habilidade, nem tem o apoio popular que Lula tem. Lula é malicioso, Lula tem paciência, Lula tem carisma. Nada disso ela tem. Lula foi quem inventou e ela não tem esses atributos.

Folha/UOL: Ela tem hoje uma popularidade maior que a do presidente Lula no seu primeiro mandato na mesma época.
Jarbas Vasconcelos
: Influência, mas é influência ainda. O país vai bem, a economia do país vai bem. Que pese todos esses vacilos do governo, mas a economia vai bem. O mundo em crise e a economia aqui vai razoavelmente bem.

Folha/UOL: Tem mérito do governo nisso?
Jarbas Vasconcelos
: Tem. Eu acho que o grande mérito... Qual foi o grande mérito de Lula? Não mexer na economia. Não fazer as aventuras que o país, uma parte do país, imaginava que ele ia fazer, a política econômica do PT. Quando ele fez aquela carta do Recife e adotou uma política, a de Fernando Henrique Cardoso, de não mexer na economia, ele não estava numa encruzilhada. Ele só tinha aquele caminho. E acabou tendo um governo na área econômica muito mais ortodoxo, muito mais duro, mais inflexível do que Malan, Pedro Malan, quando era ministro da Fazenda [de Fernando Henrique].  O Palocci [Antonio Palocci, do PT, que foi ministro da Fazenda de Lula] foi muito mais duro do que foi o Pedro Malan.

Folha/UOL: A economia do país embora não cresça nos níveis que muitos desejariam para que saíssemos do patamar de assimetria e miséria..
Jarbas Vasconcelos
: O país está bem mas poderia estar bem melhor...

Folha/UOL: ...mas há uma sensação de bem estar quase inaudita para a maioria da população. 
Jarbas Vasconcelos
: Concordo.
 
Folha/UOL: A tendência é que em 2012 o crescimento de economia, se não muito maior, seja um pouco maior que o de 2011. A presidente da República é muito bem avaliada pela população. Nesse sentido é lícito supor que quando a gente fala aqui em Brasília, alguns falam, que há uma crise política, há um certo exagero porque isso não vai ter consequência nenhuma ou não? 
Jarbas Vasconcelos
: Crise eu não diria, com esse nome que políticos e mídia trataram a vida inteira. Os dois seguimentos, os dois campos. Eu diria o seguinte: há uma perspectiva de paralisação, por exemplo agora, do Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados tem dois projetos em pauta importantes, todos os dois importantes. O projeto da Copa e o Código Florestal. Isso pode se arrastar e trazer prejuízos para o Brasil. No campo esportivo. Essa questão de libera ou não bebida em campo de futebol... Foi Lula. Lula que foi com 12 governadores e só trouxe a Copa do Mundo em 2014 porque assumiram o compromisso, assinaram o compromisso, porque foi assim em todo canto, a Fifa é poderosa... E como é que agora você assume um compromisso lá atrás e quer desfazer esse compromisso? Eu sou contra, por exemplo, bebida em campo. Sou contra. Mas foi um acordo firmado lá fora com o Lula, eu acho que deve ser honrado para que a gente possa ter a Copa do Mundo aqui. Então você tem dois projetos...

Folha/UOL: Então quando chegar esse projeto no Senado, se algum dia chegar, o sr.  votaria para que fosse honrada...
Jarbas Vasconcelos
: O compromisso que o Brasil assumiu lá fora apra poder  trazer a Copa do Mundo para cá. Então, se a gente continua assim, uma presidente bem avaliada, a maioria do país, a maioria absoluta acha que ela tem boas intensões, mas ela não põe prática nisso e o governo é semiparalisado. Você diz que o Brasil pode crescer em 2013 mais do que agora, eu concordo que pode crescer. Mas poderia crescer muito mais. Se o Brasil tivesse feito as reformas que Lula prometeu lá atrás, reformar inclusive, Fernando Rodrigues, reformar inclusive a legislação trabalhista. Nós estamos com uma legislação de meados do século passado. Como é que esse Brasil vai dar competitividade ao país? Modernidade ao país? Se você não faz uma legislação hoje que acompanha a Ásia, que acompanha a Europa, os Estados Unidos? Como é que a gente vai competir com isso? Como que a indústria brasileira vai competir?  Além do problema de infraestrutura, não temos portos, aeroportos, estradas, energia. Toda a infraestrutura é pífia no Brasil. Afora isso, uma legislação e uma carga tributária... Uma legislação confusa, uma carga tributária insuportável.

Folha/UOL: Por que a presidente, se é como o sr. disse, não fez faxina, quem fez muito foi a investigação da mídia...
Jarbas Vasconcelos
: Ela iniciou o processo.

Folha/UOL: ...iniciou o processo. Porque ela consegue ter essa avaliação muito positiva e as pessoas avaliam Dilma Rousseff como uma pessoa íntegra, ética e que está realmente fazendo uma limpeza na política e não está se dobrando aos políticos?
Jarbas Vasconcelos
: veja, eu acho que ela tem uma história de combatente da ditadura, percebida por muitos poucos no Brasil. Não é que a esquerda esteja reduzidíssima, mas são as pessoas que viram a história, acompanharam a história e que leem jornais e revistas. Ela tem isso. Ela tem uma formação que me parece que não convive com corrupto. Não tem a prática de conviver com os corruptos. Mas foi ministra [do governo Lula] de Minas e Energia e da Casa Civil no primeiro mandato de Lula. E Lula praticamente fez o ministério dela. Ela já deveria ter tido uma participação maior. É que não se consegue se desfazer disso, não é. Ela não tem a força que Lula tinha. Ela não quer dialogar com o Senado, não quer dialogar com a Câmara. Porque talvez ela esteja, do ponto de vista dela, enjoada. Enjoada com a relação com o PMDB, o fisiologismo do PMDB, as confusões com outros partidos. A base é muito grande para uma pessoa que não tem jogo de cintura e quer ganhar sempre no grito e na cara feia. Com essas práticas ela não ganha nada.

Folha/UOL: O que o sr. diria a ela se ela o chamasse para uma audiência? Imagino não aconteceu até hoje uma audiência do sr. com ela no Palácio do Planalto.
Jarbas Vasconcelos
: Não, que ela tem que ter paciência com a base, porque a política é isso. O Congresso espelha a realidade brasileira, né. Quem chega aí para ser deputado federal, senador da República, aos governos dos Estados, chega porque a população o coloca lá. Então ela não tem como resolver isso. Ela não tem uma tendência autoritária, nem o país tem condições para isso de tentar golpe. Nem de direita, nem de esquerda. Não há... Ela tem que conviver com isso. Ela foi eleita nessa circunstância. Ela foi eleita com uma base enorme, enorme. Uma base heterogênea. Enorme que não contém unidade. Fisiológica. Mas ela tem que governar com isso. Se ela não governar com isso o país fica paralisado. O que eu acho é que ela, bem intencionada, com uma formação bastante razoável, ela tem que ter a inteligência e o jogo de cintura suficientes para dizer que sem o Congresso ela não governa. Não dá para analisar agora de que o Congresso é bom ou ruim. É fisiológico, malandro e safado. Não dá para fazer isso. O dado de realidade que existe é esse. Se ela quer avançar com reformas, inclusive trabalhista, a reforma tributária, complementar a reforma da Previdência. Se ela quiser fazer tudo isso, ela só faz na base do diálogo. Ela tem que saber quais são os bons e os ruins. Os que têm práticas corretas e os que têm práticas incorretas. Senão o país vai ficar paralisado.

Folha/UOL: Do jeito que as coisas andam, nós estamos em 2012, ainda falta um tempo. Mais de dois anos. Em 2014, na sucessão presidencial, reproduzindo-se esse cenário atual, o sr. acha que ela é candidata à reeleição e favorita?
Jarbas Vasconcelos
: É candidata. Será favorita.

Folha/UOL: Quem seriam os possíveis concorrentes de Dilma Rousseff, ela sendo candidata à reeleição em 2014 na sua avaliação?
Jarbas Vasconcelos
: Nós não temos o surgimento de novas lideranças no Brasil. Apenas o maior partido de oposição é o PSDB. O DEM fragilizado e o PMDB tem apenas uma dissidência que não chega a 10%. Faço parte de uma dissidência que não alcança os dois dígitos.

Folha/UOL: No PSDB quem o sr. acha que são os nomes ou o nome que deveria concorrer em 2014 contra Dilma Rousseff?
Jarbas Vasconcelos
: Eu acho que ele tem três nomes. Eu acho que eles têm o Aécio [Neves, do PSDB-MG], que quer disputar desde o pleito passado. Tem o Serra [José Serra, do PSDB-SP], que vai para a Prefeitura [disputar a Prefeitura de São Paulo em 2012]. Eu acho que o projeto da Prefeitura inviabiliza o projeto de uma tentativa de retorno a uma candidatura presidencial. E tem o Alckmin. Eu acho que talvez fique entre o Aécio e o Alckmin.

Folha/UOL: O sr. acha que José Serra sendo candidato a prefeito e, eventualmente, vencendo a disputa para prefeito de São Paulo não deve se candidatar a presidente?
Jarbas Vasconcelos
: Não. Eu acho que não. Acho que Serra tendo feito a opção revendo uma posição em que tinha dito que não era candidato, sendo candidato eu acho que ele vai ter que cumprir o mandato dele.

Folha/UOL: Aécio é um bom candidato a presidente para a oposição?
Jarbas Vasconcelos
: Pertence a uma Estado muito importante para a Federação, segundo colégio eleitoral, tem jogo de cintura e dimensão para isso.

Folha/UOL: Mas enfrentaria grandes dificuldades se Dilma for candidata à reeleição num cenário como esse?
Jarbas Vasconcelos
: Também, porque Aécio tem que se soltar. Aécio tem que deixar o Senado. Aécio não pode se incorporar à paisagem ruim do Senado. Ele tem que sair do Senado. Ele tem que andar. O melhor para Aécio é que não tivesse sido eleito senador da República. Muito melhor para ele ter ocupado a presidência do partido, se ele realmente persegue, e parece que sim, a Presidência da República. Teria sido muito melhor ele renovar o partido, ampliar o partido, abrir um debate nacional, presidindo o partido do que ser senador da República.

Folha/UOL: Seu partido, o PMDB, sempre tem nome, muitos dos seus integrantes, não todos, mas muitos, envolvidos em escândalos. Essa é uma sina imutável? O PMDB não tem mais conserto?
Jarbas Vasconcelos
: É difícil o conserto do PMDB, é difícil. Quando a gente reuniu esse grupo de oito, eu tive a oportunidade de dizer isso algumas vezes. Ninguém vai conseguir consertar o PMDB a médio prazo e, a longo prazo, é muito complicado. Mas vamos ver se a gente melhora a vida do PMDB, que ele seja menos fisiológico. O MDB foi o conduto da insatisfação popular. O país se redemocratizou e o partido grande ficou grande. O partido ficou sem um programa novo, sem um estatuto novo, sem bandeiras novas. Porque as bandeiras da anistia, da eleição direta, liberdade de imprensa, tudo isso tinha sido alcançado. Então o partido ficou feito beija-flor. O que é beija-flor? Tocando nas coisas, né. Tocando no poder. Eu convivo dentro do PMDB, convivo como dissidente, porque nós não temos uma reforma política. Isso tudo que está aí é um arremedo de reforma política. Não vai ter reforma política. No dia em que tiver uma... Todos os partidos não têm interesse nisso. São todos pequenos que querem continuar como legendas de aluguel. Então surgindo uma reforma política para valer e verdadeira eu me imaginaria juntando um grupo aí para a gente montar uma nova agremiação. Mas isso eu prefiro ficar como dissidente [do PMDB]. Eu não tenho espírito, não tenho formação tucana. Então eu prefiro ficar dentro do PMDB.

Folha/UOL: O PMDB tem como presidente nacional licenciado o vice-presidente da República Michel Temer. O que ele poderia fazer para consertar essa situação?
Jarbas Vasconcelos
: É difícil. Porque Michel representa um partido heterogêneo. Isso que é homogêneo ele está dizendo por dizer, mas não é verdade. O partido é heterogêneo. O partido de hoje virou uma confederação de lideranças regionais, muitas e muitas ultrapassadas...

Folha/UOL: Foi boa a condução que ele deu ao PMDB?
Jarbas Vasconcelos
: Foi. Foi a melhor que teve. Porque ele democratizou inclusive. Ele levou essa decisão de apoiar o governo para os colegiados do partido. Não foi uma coisa imposta. Eu fui e votei contra né. Participei, achei que o partido devia continuar independente. Mas meu voto foi vencido.

Folha/UOL: O sr. faliu de reforma política e ela não vai sair. Mas recentemente um caso relativamente grave aí relacionado à política e liberdade de expressão. O Tribunal Superior Eleitoral vetou definitivamente o uso do Twitter, uma rede social, na internet, para os candidatos antes do dia 5 de julho. O que se pode fazer a respeito disso e qual é a sua opinião?
Jarbas Vasconcelos
: Muito extravagante. Eu fui à tribuna nessa semana, quarta-feira manifestar a minha estranheza, protestar e apoiar de pública a iniciativa judicial que o PPS está tomando através de Roberto Freire. Registrei a minha posição pública no expediente do Senado, na tribuna do Senado. Acho que isso é uma coisa inusitada, uma coisa extravagante. O que o TSE devia cuidar e fazer é de campanha antecipada. Dilma foi eleita basicamente por isso. Porque a campanha começou em março. A campanha começou bem antes. Mas em março Lula colocou na rua, em inaugurações...

Folha/UOL: O sr. é a favor desse calendário de não poder fazer propaganda antes de 5 de julho?
Jarbas Vasconcelos
: Não. Eu acho que devia ter uma certa fiscalização, senão você privilegia o poder econômico. Se você tem recursos, começa a fazer outdoor, que é proibido, botar adesivo. São coisas que você deve tornar todos iguais. Então deve ter um prazo para você botar adesivo, se botar outdoor, para se ter outdoor. O chamado “dia eleitoral”, em Pernambuco a gente chama a propaganda eleitoral. Eu acho que tudo isso tem que ter tempo. A propaganda eleitoral nossa é muito tempo. Eu acho que ela devia ser reduzida. No lugar de dois meses, 40 dias, 30 a 40 dias.

Folha/UOL: São 45 dias.
Jarbas Vasconcelos
: Não tem chatice maior do que um dia eleitoral, aquele bloco.

Folha/UOL: Agora, proibir um cidadão seja ele político ou não a qualquer tempo e época se declarar candidato a presidente, vereador ou prefeito, de maneira privada...
Jarbas Vasconcelos
: Pelos meios de comunicação modernos não tem como evitar isso.

Folha/UOL: A lei proíbe.
Jarbas Vasconcelos
: É sim, mas porque é uma deformação [da lei]. Você tentar fazer isso é se igualar ao que a China está fazendo, ao que Fidel Castro faz em Cuba...

Folha/UOL: Nesta semana, o Senado discutiu e interrompeu o debate sobre o fim do 14º e do 15º salários para congressistas. Qual é a sua opinião a respeito?
Jarbas Vasconcelos
: Eu acho que já devia ter sido extinto. O Senado faz coisas tão erradas, Fernando Rodrigues, que isso é uma chamada ajuda de custo, que tinha lá atrás e se incorporou ao longo do tempo. O parlamentar recebia quando chegava em janeiro ou fevereiro e quando saia em dezembro. A Câmara dos Deputados paga, mas paga pagando Imposto de Renda. O Senado paga mas sequer tem Imposto de Renda tributado. Por aí você vê as coisas do Senado como são diferentes das outras, diferentes no sentido de ser sempre pra pior.

Folha/UOL: O sr. seria a favor da extinção desses dois benefícios?
Jarbas Vasconcelos
: Acho que o projeto da chefe da Casa Civil hoje [senadora Gleisi Hoffmann], acho que foi dela, bastante razoável. Ela extingue e permite apenas deputado federal de receber quando chega e quando sai. Quer dizer a pessoa receberia, a pessoa está se mudando, você receberia quando aqui chegasse e quando daqui saísse.

Folha/UOL: Eleições 2012: candidatura a prefeito do Recife.
Jarbas Vasconcelos
: Não.

Folha/UOL: O sr. se vê como candidato a prefeito?
Jarbas Vasconcelos
: Não, eu já anunciei. Não é o meu projeto.

Folha/UOL: Mas, enfim, perguntando de novo...
Jarbas Vasconcelos
: Não. Não sou candidato. Nós temos lá um campo de oposição. O PSDB já definiu um candidato. E há um outro campo de PPS, DEM e PMDB que está tentando definir candidato.

Folha/UOL: Quais são os nomes possíveis desse campo que o sr. cita, PMDB, PPS e DEM?
Jarbas Vasconcelos
: Os dois Raul. Raul Jungmann [do PPS], Raul Henry [do PMDB] e o Mendonça Filho [do DEM] que foi inclusive meu vice-governador e hoje é deputado federal.

Folha/UOL: O sr. tem predileção por algum dos nomes?
Jarbas Vasconcelos
: Não. Eu apoio o que for candidato.

Folha/UOL: Quem seria o mais competitivo?
Jarbas Vasconcelos
: Cada um tem as suas características. Mas é difícil você dizer isso. O mais bem avaliado hoje em pesquisas é o Mendonça Filho. Mas Raul é um grande quadro. Raul Henry. O Raul Jungmann também é. Eles estão conversando. Criaram a tal da mesa da unidade, foi uma coisa boa que se criou lá em Pernambuco, no Recife. E a gente espera até meados de abril resolver isso. Mas vamos ter dois candidatos. É uma estratégia inclusive...

Folha/UOL: Um do PSDB...
Jarbas Vasconcelos
: E um nosso.

Folha/UOL: O sr. disputou o governo de Pernambuco [em 2010], perdeu, e Eduardo Campos [do PSB] foi reeleito. É um governador muito bem avaliado em todas as pesquisas de opinião, um dos mais bem avaliados governadores do país. Qual é a sua avaliação do governo Eduardo Campos, do PSB, governador de Pernambuco?
Jarbas Vasconcelos
: Primeiro há de se esclarecer que eu passei para ele um Estado que encontrei de cabeça para baixo, arrasado, completamente arrasado, devendo a Deus e ao mundo. A duas pessoas: a Deus e ao mundo. E consegui recuperar esse Estado, botei o Estado de pé e assim passei o Estado para ele. Quando eu assumi o Estado, eu assumi o Estado com três folhas de pagamento atrasadas. Eu fiz isso, investi muito. Conseguimos deixar acertados os investimentos como a Refinaria Abreu e Lima e outros grandes investimentos, como estaleiro essa coisa toda. Ele está fazendo um governo de sequência. Ele está fazendo um governo...

Folha/UOL: É bom o governo dele?
Jarbas Vasconcelos
: É bem, é bem. Quando a pessoa está bem avaliada, não adianta eu dizer a você, por ser adversário, de que ele não presta. De que o governo é ruim. O governo é aprovado porque ele tem a aprovação da população. Porque ele encontrou um Estado arrumado e deu sequência a isso, deu consequência a isso.

Folha/UOL: 2014, Pernambuco. Já tem alguma ideia do que vai acontecer? Porque Eduardo Campos não pode mais ser candidato porque já está no segundo mandato. Qual seria o cenário possível para a sucessão de governo em Pernambuco
Jarbas Vasconcelos
: O projeto de Eduardo é nacional. É um projeto nacional. Não sei se para 2014 seria complicado para ele, mas pode ser para 2018. Ele tem uma boa avaliação e eu vou dizer aqui uma coisa que não deveria nem dizer, porque não tenho essa relação com ele. Ele só cresce e só se sedimenta a nível nacional, inclusive no Estado da “Folha de S.Paulo”, o Estado de São Paulo, ele só se dimensiona quando ele sinalizar a diferença dele para o PT. Enquanto ele estiver junto com o PT... Junto com o Lula é outra coisa. Ele tem uma relação com o Lula que ele deve preservar. Agora, para galvanizar eleitorado do Sul e se consolidar no Nordeste ele tem que sinalizar que as práticas dele são práticas diferentes das do PT. Porque Lula tem uma boa avaliação, mas o PT não tem essa avaliação.

Folha/UOL: O sr. acha que ele é um nome real e competitivo para disputar 2014 ou 2018?
Jarbas Vasconcelos
: Ele é um quadro novo. Está se saindo bem no governo de Pernambuco. Eventualmente é um dos candidatos. Não para essa eleição de 2014, eu não acredito. Mas ele é jovem, é uma pessoa com menos de 50 anos.

Folha/UOL: Uma associação do PSDB, com Aécio Neves, e ele fazendo uma chapa já em 2014 não seria...
Jarbas Vasconcelos
: Seria uma boa chapa mas eu não acredito nisso. Acho que os compromissos assumidos por ele com relação, não digo com relação ao PT, com relação a Lula, é muito difícil um desfecho dele  em relação a Lula. O desfecho dele é necessário para com o PT. Mas não me parece que ele possa fazer uma ruptura entre ele e Lula.

Folha/UOL: E os seus planos eleitorais, quais são?
Jarbas Vasconcelos
: Eu não tenho muitos planos eleitorais não. Eu estou completando já 70 anos e acho que tudo tem a sua hora. Eu vou avaliar. Eu tenho dificuldade, Fernando, de raciocinar para a eleição de 2014. De 2012 não, eu tenho a obrigação porque é agora. Mas para 2014 eu tenho dois anos e meio, mais de dois anos e meio. A gente está acabando o primeiro trimestre de 2012. Eu tenho tempo para ver isso. Mas eu não sei o que vai acontecer em 2012, imagina o que é que vai acontecer em 2014.

Folha/UOL: Muito bem. Senador Jarbas Vasconcelos, muito obrigado por sua entrevista à Folha e ao UOL.
Jarbas Vasconcelos
: Eu é que agradeço e louvo a iniciativa de vocês.