Oposição tenta criar duas CPIs no Rio para investigar a relação entre governo estadual e Delta
Principais opositores do governo Sérgio Cabral (PMDB) na Assembleia Legislativa do Rio, os deputados estaduais Marcelo Freixo (PSOL) e Clarissa Garotinho (PR) iniciaram nesta quarta-feira (2) coleta de assinaturas de dois pedidos de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
O objetivo, segundo os parlamentares, é investigar os contratos da empreiteira Delta Construções com o governo do Estado nos últimos 12 anos e as viagens oficiais feitas pelo governador desde 2007, início do primeiro mandato do peemedebista.
Para protocolar um pedido de CPI são necessárias 24 assinaturas de apoio entre os 70 deputados. A maioria na Casa é aliada de Cabral. Até o fim da tarde de hoje, 14 deputados haviam assinado o pedido de Clarissa.
A CPI proposta por Clarissa visa a apurar "a conveniência" das viagens feitas por Cabral, seus objetivos, período, custo, os integrantes da comitiva oficial, os relatórios produtivos, os acompanhantes do governador, possíveis gastos extras e a "suposta fata de ética na mistura dos interesses públicos e privados".
Pré-candidata a vice-prefeita do Rio, Clarissa é filha do ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR), que, desde a semana passada, tem divulgado em seu blog fotos e vídeos em que Cabral e parte do seu secretariado confraternizam com o dono da Delta, Fernando Cavendish, durante viagem a Paris, em 2009.
As imagens mostram, entre outras coisas, o governador, os secretários Régis Fichtner (Casa Civil), Júlio Lopes (Transportes), Wilson Carlos (Governo) e Sérgio Côrtes (Saúde) em momentos de descontração --alguns aparecem com guardanapos amarrados na cabeça-- com Cavendish.
O empresário se afastou da presidência da Delta na semana passada, após a empreiteira ser envolvida no suposto esquema de corrupção comandado pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal em fevereiro acusado de explorar jogos ilegais e pagar propina a políticos.
Em nota, Cabral disse nunca ter negado ser amigo de Cavendish e que não "mistura amizade com interesse público". "Jamais imaginei e, muito menos tinha conhecimento, que a sua empresa [Delta] fizesse negócios com um contraventor no Centro-Oeste brasileiro. Quando assumi o governo, a Delta já era uma das maiores empreiteiras do Rio e do Brasil", disse Cabral.
Em Brasília, a bancada do PSDB quer convidar Cabral para depor na CPI mista do caso Cachoeira, como forma de acuar o maior partido da base governista. Além de Cabral, membros da CPI querem ouvir os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), cujos nomes são citados em gravações da PF na Operação Monte Carlo.
Contratos milionários
Por outro lado, a CPI proposta pelo deputado estadual Freixo quer investigar todos os contratos firmados entre o governo do Rio e a Delta desde 2000.
Segundo levantamento feito pelo gabinete de Freixo no Sistema de Administração Financeira do Estado e Município (Siafem), contratos firmados entre a Delta e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), ainda em vigor, chegaram a receber até 765% de acréscimo em seus valores originais. Os aditivos foram denunciados por ele ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) no ano passado. O órgão avaliou que os reajustes não feriram a Lei de Licitações.
Segundo Freixo, só em 2010, a Cedae assinou quatro contratos com a Delta por dispensa de licitação. Os negócios somam R$ 64 milhões e ainda não foram analisados pelos técnicos do TCE.
Pelas contas do deputado, a empreiteira investigada pela PF tem hoje 32 contratos no valor de R$ 1,3 bilhão com o governo do Estado. Após o envolvimento da Delta no caso Cachoeira, o governador Sérgio Cabral determinou um pente-fino em todos os contratos da empreiteira no Estado.
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