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Ex-marido de suposta sócia de empresas fantasmas nega ligação com esquema de Cachoeira

Do UOL, em São Paulo

29/08/2012 18h28Atualizada em 29/08/2012 20h47

O contador Gilmar Carvalho Moraes afirmou nesta quarta-feira (29) à CPI Mista do Cachoeira que está recebendo ameaças e negou qualquer ligação com o contraventor goiano Carlinhos Cachoeira. O bicheiro foi preso em fevereiro deste ano acusado de explorar jogos ilegais e de tráfico de influência.

“Dou total liberdade para a polícia, para quem quiser ver se eu estou envolvido com essa história do Cachoeira”, disse o contador aos parlamentares da comissão.

Moraes é ex-marido de Roseli Pantoja da Silva, apontada como sócia da empresa fantasma Alberto & Pantoja Construções, que, segundo a Polícia Federal, integraria o suposto esquema montado por Cachoeira, sendo utilizada para triangular pagamentos ilegais da construtora Delta. Roseli disse só ter ficado sabendo que era sócia da empresa pelo noticiário. Negou conhecer qualquer integrante do grupo de Cachoeira e acusou o ex-marido de ter usado o nome dela indevidamente para fazer empréstimos e passar cheques sem fundo, o que teria motivado o fim do casamento de 13 anos.

Em depoimento à CPI no último dia 15, Roseli disse que assinou uma procuração, no início do ano passado, dando plenos poderes a Moraes, que à época era seu marido, para abrir uma pequena empresa, uma loja. Ele também é citado nas investigações como sócio de outra empresa que faria parte do esquema de Cachoeira. O contador disse que a procuração foi usada para ele abrir a empresa da ex-mulher, um box em uma feira de produtos importados, em Brasília.

Ele apontou um homem chamado Valdeir Fernandes Cardoso como o responsável por usar documentos seus para abrir empresas indevidamente e disse que essa pessoa deve ser procurada pela CPI para prestar esclarecimentos. “Ele me trazia a documentação e eu dizia ‘isso vai dar problema’”, disse. Moraes afirmou que tinha uma dívida de R$ 7 mil com essa pessoa e que foi obrigado a dar entrada em processos para constituição de, pelo menos, quatro empresas.

“Tenho certeza que essa pessoa usou meus documentos. Gostaria que a Justiça tentasse encontrar essa pessoa para me devolver minha família", afirmou. Indagado pelo relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), se Cardoso o teria procurado, Moraes respondeu: “Dou liberdade para quem quiser checar se eu tenho qualquer envolvimento com isso aí”.

Depois, questionado pela comissão se estaria disposto a falar mais, caso fosse ouvido em uma reunião secreta, o contador respondeu: "Meu casamento acabou, meus filhos estão contra mim, quer que eu fale mais o quê?"

Para o deputado Miro Teixeira, o contador disse que nunca assinou a abertura de contas. Na sequência, o parlamentar reforçou a necessidade de o Ministério da Justiça proteger Moraes. Logo no início do depoimento, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que a comissão pediu ao Ministério da Justiça que tomasse providências para proteger o depoente e sua ex-mulher.

O contador disse que ontem (28), pessoas identificadas como policiais teriam ido à casa de seu ex-cunhado à sua procura: “Ontem à noite minha ex-esposa me ligou. Policiais estariam na casa do irmão dela e que queriam me encontrar. Tinham de me encontrar e ia sobrar pra eles se não me localizassem.”

Ex-presidente da Delta fica calado

O empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da construtora Delta, preferiu se manter em silêncio na sessão da CPI.Ele seria o segundo a depor hoje, mas foi dispensado em menos de cinco minutos graças a um habeas corpus obtido nessa terça (28) no STF (Supremo Tribunal Federal). Limitou-se a dizer que, por orientação do advogado, só falaria judicialmente. A comissão investiga a relação entre agentes públicos e empresários com o bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira.

Diante da negativa em depor, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pediu ao empresário que esclarecesse quais senadores "compraria com R$ 6 milhões", conforme Cavedish disse em uma das gravações feitas pela Polícia Federal, que o investigou nas operações Vegas e Monte Carlo. “É uma questão de hombridade”, defendeu o tucano. Mesmo assim, Cavendish preferiu ficar calado.

Ex-diretor da Dersa foi primeiro a depor

O primeiro depoente do dia foi o ex-diretor da Dersa (estatal rodoviária de São Paulo), o engenheiro Paulo Vieira de Souza, 63, conhecido como Paulo Preto. Ele foi convocado para falar sobre as relações entre a construtora Delta, investigada pela CPI, e a estatal paulista. Disse não conhecer Cachoeira, mas admitiu conhecer o ex-presidente da Delta. "Cavendish vi uma vez na Dersa, em 2008, e outra vez talvez em 2009", resumiu.

Souza afirmou ainda que a Delta participou junto à Dersa apenas das obras do lote dois da nova marginal Tietê, pela qual foram pagos à empresa R$ 172 milhões. Ao todo, o empreendimento teve licitados quatro lotes da obra.

“A Delta participou de todas as licitações e perdeu em todas por preço maior. A única obra que ela tem na Dersa corresponde a 1,9% do volume gasto na marginal, em valore licitados de R$ 11,5 bilhões. É uma situação diferente de tudo o que eu vi até hoje”, declarou.

(Com Reuters, Agência Câmara e Agência Senado)