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Leia a transcrição da entrevista de Andrés Sanchez ao UOL e à Folha

Do UOL, em Brasília

06/06/2014 06h00

Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e hoje conselheiro vitalício do clube, participou do Poder e Política, programa do UOL e da "Folha" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 4.jun.2014 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

 

 

Andrés Sanchez – 4.jun.2014

Narração de abertura [EM OFF]: Andrés Navarro Sanchez tem 50 anos. Nasceu em Limeira, no interior paulista. É empresário e ex-dirigente de futebol.

Filho de imigrantes espanhóis, André Sanchez trabalhou dos 12 aos 17 anos como feirante em uma banca de frutas de seu pai. Aos 20 anos, foi admitido como gerente de uma empresa de embalagens de um primo, da qual veio a se tornar sócio.

Nos anos 80, após morar uma temporada na Espanha com um primo sindicalista, Andrés Sanchez filiou-se ao PT.

Andrés Sanchez dedicou parte de seu tempo ao seu time, o Corinthians. Ainda adolescente, tentou se profissionalizar como lateral direito, mas não teve sucesso. No lugar, construiu uma carreira de dirigente esportivo: administrou a categoria de base e foi diretor de esportes terrestres.

Em outubro de 2007, André Sanchez assumiu a Presidência do clube após uma crise que derrubou o antigo cartola, Alberto Dualib. No segundo mês de seu mandato, o Corinthians acabou rebaixado para a segunda divisão.

Andrés Sanchez reformulou a administração do Corinthians e ampliou o uso do marketing. Anunciou, com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, a construção da Arena Corinthians, que sediará a abertura da Copa do Mundo.

Em dezembro de 2011, Andrés Sanchez deixou a Presidência do clube e assumiu a diretoria de seleções da Confederação Brasileira de Futebol, cargo que ocupou por um ano.

Andrés Sanchez hoje é conselheiro vitalício do Corinthians e se prepara para se aventurar na política partidária. É pré-candidato a deputado federal pelo PT.

Folha/UOL: Olá, bem-vindo a mais um Poder e Política - Entrevista. Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. A gravação desta edição do Poder e Política esta sendo realizada no estúdio do UOL, em São Paulo. O entrevistado desta edição é Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e hoje conselheiro vitalício do clube.

Folha/ UOL: Olá Andrés, como vai?
Andrés Sanchez: Tudo bem graças a Deus e disponível para responder. Espero que você seja leve.

Foi uma boa ideia realizar a Copa do Mundo no Brasil em 12 cidades diferentes?
Não, acho que é a primeira vez na história que uma Copa do Mundo tem mais do que oito ou dez sedes. Realmente é mais complicado para todo mundo, mas o Brasil é um país continental e entenderam que, por ser continental, teriam que ter 12 sedes, mas houve já Copa do Mundo em outros países também continentais que não houve 12 sedes...

É verdade. Estados Unidos, por exemplo.
Por exemplo. Então a gente tem que ter mais condição. Eu entendo que tenham feito a engenharia dos estádios mais apropriada, para pós Copa do Mundo ter utilidade. Infelizmente, não pensaram nisso e realmente será um problema.

Você acha que algumas das sedes que não têm clubes na primeira divisão, não têm tradição de ter clubes fortes, vão fazer o que com os estádios?
Não, eu acredito que mesmo que não tenha time na segunda, ou na primeira divisão, tem times na série C ou na série D que são importantes ter estádio de futebol, talvez não para 40, 50 mil pessoas.

Por exemplo, Brasília.
Brasília eu acho que foi um exagero ter um estádio para 74 mil pessoas. Deviam fazer um estádio para, no máximo, 40 mil pessoas, até porque lá é a capital do Brasil, tem movimento, pode ter outras utilidades. Lá está tendo show, está tendo um monte de coisa que vai poder ter outra utilidade, mas realmente em alguns estádios nós vamos ter um exagero.

Vamos falar do estádio aqui de São Paulo, construído pelo Corinthians. O custo ficou em, aproximadamente, R$ 1 bilhão, é isso?
Não, eu já falei um monte de vez publicamente quanto é, mas insistem em escrever ou falarem errado. O custo, da obra em si, ficou R$ 965 milhões, da obra. Mas o Corinthians teve que pagar R$ 1,150 bilhão. Por quê? Atrasou financiando do BNDES quase dois anos, é quase R$ 108 milhões de juro, tem o overlay [estruturas temporárias] que todo mundo ia pagar, mas acabou da arena ter que pagar, então são mais R$ 100 milhões e, realmente, houve uns 14%, 15% de estouro do custo da obra, por isso ficou R$ 1,150 bilhão. Você tira os incentivos fiscais que existem para a Zona Leste, o Corinthians tem que pagar de R$ 700 a R$ 750 milhões em 12 anos.

Tem uma dúvida que ficou, me corrija se eu estiver errado, sobre quem banca, de fato, as estruturas provisórias que são colocadas para a Copa do Mundo.
A Arena Corinthians assumiu tudo.

Quanto custa?
Até R$ 100 milhões, mas deve ficar em torno de R$ 70 a R$ 80 milhões.

O clube, o Corinthians, vai assumir esse...
Não, o clube não, a arena, o projeto.

Como é que funciona, explica melhor.
Foi montado um fundo imobiliário com cotas que a Odebrecht é a proprietária majoritária nesse fundo. Conforme o Corinthians for pagando as prestações, as cotas vão vindo para o Corinthians, para a arena, para o Corinthians. Daqui a 12 anos, pagou tudo, não existe mais fundo, não existe mais nada. Não tem dinheiro do Corinthians clube, nem no fundo e nem para o Corinthians. É uma engenharia financeira muito bem pensada, muito bem feita, com um fundo de investimento em que toda a arrecadação da arena é obrigatória ir para esse fundo.

Quem está apresentado dinheiro agora para instalar provisoriamente aquela arquibancada?
A arquibancada provisória é o governo de Estado e a Ambev, não tem nada a ver com o Corinthians.

Ah, isso que eu ia te perguntar.
A Ambev que contratou algumas empresas e contratou a Fast [Engenharia] para fazer as provisórias.

Então é a Ambev que está bancando aquela arquibancada provisória para a cobertura da Copa?
Perfeito. O Corinthians e a Odebrecht não têm nada a ver com isso.

E quanto custou essa daí que a Ambev vai pagar?
R$ 38 milhões parece que foi. R$ 38 milhões, 39 milhões.

Durante o processo toda da construção da arena, o estádio novo do Corinthians, houve quem criticasse dizendo o seguinte: Olha, quem vai fazer é a Odebrecht, e fez, a Odebrecht é a empresa no Brasil que mais recebe dinheiro de governos, porque faz muitas obras públicas. Quem está ajudando a financiar é o BNDES– que até atrasou, não sei o quê, mas é o BNDES. E as pessoas dizem assim: Será que a fronteira entre o que é público e o que é privado foi ultrapassado?
Mas isso é um absurdo.

Por quê?
Porque nós brasileiros somos hipócritas em muitas coisas. Nós fazemos e duvidamos de coisas que são terríveis. A Odebrecht é uma das maiores construtoras que existe no país, a maior do país e uma das maiores do mundo, como existem inúmeras. Quem vai fazer construção aqui de grande porte são três, quatro construtoras brasileiras, não existe mais que essas. Então cada um que duvide que monte uma construtora. A Odebrecht realmente teve uma dificuldade porque o financiamento demorou dois anos e ela bancou do caixa dela, dentro desse fundo, que já tem um juros pré-determinado que a arena vai pagar de volta para ela. Então, ela fez um investimento financeiro dentro do estádio, que era um projeto que ela estava buscando com o Corinthians desde 1997, desde a época do sr. Alberto Dualib a Odebrecht tentou fazer um projeto de estádio do Corinthians, como eu acho que são poucos times do Brasil que podem ter estádio particular, que se pagam rentavelmente. O Corinthians vai provar, e eu já falei aqui, quem quiser, e duvidar, é só ir lá no Corinthians, nós vamos mostrar tudo, documento, quanto custou, tudo, não precisa esconder nada.

Tem uma discussão sobre o custo que vai ter ao longo dos próximos anos para o Corinthians manter o estádio.
Não é o Corinthians, é a arena, o projeto.

Pois é, mas o que seria de benefício para o Corinthians, a renda eventualmente que iria existir por causa da arena...
Perfeito.

...Não vai entrar, necessariamente, para o Corinthians administrar o futebol.
Vou te explicar. O Corinthians não vai por nenhum tostão na arena, e a arena, quando começar a funcionar, que nem está funcionando, pagou a prestação, pagou a manutenção do estádio, sobrou quanto? Sobrou R$ 50 milhões, R$ 25 milhões ficam no fundo para antecipar o financiamento no final e R$ 25 milhões vão para o clube.

Se tiver esse excedente?
Mas vai ter. O projeto que nós fizemos financeiramente, sabemos que vai arrecadas uns R$ 200 milhões por ano, a prestação é R$ 90 milhões e a manutenção é R$ 30 milhões, R$ 35 milhões.

Ou seja, na tua avaliação, se essa meta de ter um faturamento de cerca de R$ 200 milhões por ano com o estádio só vai sobrar dinheiro para o Corinthians.
Tem R$ 60 milhões, R$ 70 milhões de lucro, você divide metade e sobra mais que um Pacaembu para o Corinthians por ano.

Entendi.
A diferença...

Mas sendo realista você acha que isso vai acontecer logo de cara?
Esse ano não, mas ano que vem...

Não no ano que vem, em 2015?
Mais do que R$ 200 milhões, porque ninguém entendeu ainda como é o estádio do Corinthians. O estádio do Corinthians não é só um jogo de futebol, não é só para o futebol. Existem mil coisas lá dentro de eventos, de convenção, de feira, de festas, que vai da competência de quem vai administrar para trazer isso de volta. É um centro de convenções. Você vai lá, eu te convido conhecer o estádio, o futebol é o que você menos vê lá. São 40 eventos por ano no futebol, 38, 40 eventos por ano. Nós temos que trabalhar lá 300 dias por ano.

Quem vai ser o maior concorrente do estádio? O estádio do Palmeiras?
Não. São projetos diferentes. O estádio do Palmeiras é muito bem concebido, mas é totalmente diferente do Corinthians, em regiões diferentes. Tem mil maneiras. Nós pegamos mais pelo business, pelas empresas, para evento, para convenção, para feiras, para auditórios do que propriamente para o show. Show, eu acho que o do Palmeiras vai ser imbatível.

O Palmeiras vai pegar mais shows e vocês vão pegar mais eventos corporativos. É isso?
Isso.

Dá um exemplo de evento corporativo que pode ser feito em um estádio tão grande assim, porque é um estádio grande.
Tem áreas lá dentro...

Não é dentro do estádio?
O gramado ninguém usa, é só para jogar futebol. Interno tem 130 mil metros [quadrados] no prédio oeste e lá tem 42 mil metros [quadrados] que são feitos por divisórias para você fazer qualquer tipo de evento de 300 a 15 mil pessoas.

Convenções, essas coisas?
Convenção, feira, lançamento de produto, um monte de coisa, casamento, festa de casamento, festa de batizado, o que quiser fazer.

E o gramado não vai ser nunca coberto para ter show, ele não está preparado para isso?
Não, não.

Não era bom que fosse?
Não. Nós fizemos um projeto no gramado que gastamos R$ 2 milhões e pouco a mais do que custaria, mas mesmo assim é barato do que mais da metade dos estádios do Brasil, mas tem ar-condicionado, tem água gelada, tem um monte de coisa no gramado, porque é grama de inverno, que em um país tropical, realmente, tem dificuldade. Então tem que fazer todo esse projeto, então não tem cabimento hoje você fazer um show e para daqui a dois meses estarem reclamando que o gramado está ruim.

Não teria como gastar um pouco mais, quer dizer, gastar um pouco mais, já gastou tanto, mas para fazer, para poder usar, não tem jeito?
Não tem tecnologia para isso.

Não tem tecnologia. Como é que o Palmeiras vai fazer? É outro tipo de grama?
É outro tipo de grama. Além de ser isso, o Palmeiras tem um recuo, que faz uma arena dentro do estádio que pode fazer o show.

Não em cima da grama?
Talvez pegue uma parte lá que eles estão preparando, mas foi muito bem pensado o estádio do Palmeiras também.

Entendi. O BNDES cumpriu o acordado com o Corinthians a respeito dos R$ 400 milhões?
Não.

O que aconteceu?
Atrasou dois anos.

Por quê?
Porque eles não entenderam. Não, não é nem o BNDES, é o banco repassador, o BNDES é outra coisa, mas a burocracia brasileira é muito grande, é muito difícil. Atrasou quase dois anos e isso custou um juro para o Corinthians muito alto.

Mas de quem foi a responsabilidade disso? Não pode ser só da burocracia. Teve alguém, alguma entidade específica?
Como era um fundo imobiliário, o banco repassador, a princípio, seria o Banco do Brasil, que repassou todo o dinheiro do ProCopa. Como era um fundo imobiliário, eles não tinham muita expertise nisso, por isso que depois a Caixa, que tem expertise em fundos imobiliários, conseguiu entender o projeto, e foi dado garantias à Odebrecht, garantias do Corinthians e a própria garantia do projeto. Talvez seja um dos financiamentos que mais garantia tenha nesse país.

Mas o atraso, não teve jeito?
O Corinthians teve que pagar R$ 100 milhões de juros porque tivemos que fazer empréstimos-ponte para pagar e não parar a obra.

Andrés, sobre o nome do estádio do Corinthians, que o Corinthians chama de Arena Corinthians. Os jornais brasileiros...
Jornais não, a “Folha de S.Paulo”, o UOL, que insistem em chamar de Itaquerão, mas é um direito deles.

O jornal “New York Times”, essa semana passada agora, que é um jornal grande, maior jornal dos Estados Unidos, fez uma reportagem com fotografia e chamou de...? Itaquerão.
É porque o UOL e a “Folha” talvez devem ter muita audiência nos Estados Unidos e eles copiam.

A presidente Dilma Rousseff, nesta terça-feira, 3 de junho, deu uma entrevista para a TV Bandeirantes, passou em rede nacional, ela se refere ao estádio do Corinthians como Itaquerão. O que acontece?
Eu fiquei sabendo agora, por você ter me falado. Eu fiquei muito triste. Com certeza vou mandar uma carta oficial para o Palácio [do Planalto] dizendo que isso é um absurdo, não pode chamar, lá é Arena Corinthians, não é Itaquerão.

Qual é o problema de, às vezes, se referir ao bairro?
Porque o que nós vamos vender o nome.  Não é o bairro, o bairro é Itaquera.

Não, mas enfim...
Se chamar Arena Itaquera você não vê eu reclamar, estádio Itaquera você não vê eu reclamar, agora, o apelido, não.

Mas você acha que tem uma conotação pejorativa Itaquerão?
Não, tem mau interesse da imprensa, de uma parte da imprensa, porque todo mundo sabe que hoje vender o nome do estádio e é uma grande fonte de renda para os clubes. Na Europa já está consolidado, nos Estados Unidos há muito mais tempo, então nós vamos vender o nome do estádio como, aliás, o Allianz Parque do Palmeiras foi vendido e poucas pessoas da imprensa falam, mas o Corinthians vai insistir e daqui a alguns anos vão aprender e entender que isso é uma grande fonte de renda para os clubes de futebol ou para as arenas de show e para quem quer que seja. Eu acho uma falta de respeito do UOL, da “Folha de S.Paulo” e alguns órgãos de imprensa, que eu mandei carta para todos pedindo para se chamar Arena Corinthians. Muito triste. É a mesma coisa falar: O BNDES emprestou dinheiro para você, mas no UOL, na “Folha” e em todo lugar, os Correios, Banco do Brasil, faz propaganda. É dinheiro público ou não é dinheiro público? Eu não entendo isso aí. Quando é para o clube é dinheiro público, quando é para a imprensa é dinheiro o quê? Não dá para entender direito.

No caso aí a presidente você acha que ela foi...
Ela tomou uma gafe.

Ela cometeu uma gafe?
Uma gafe, uma gafe com o Corinthians. Lá é Arena Corinthians, o estádio do Corinthians.

Você vai mandar uma carta, é isso?
Vou mandar uma carta oficialmente e vou ligar para pessoas próximas dela para dizer, ela deve ter dito pela força de expressão que sai da imprensa.

Que ela cometeu esse...
Equívoco. Para ser bonzinho.

Por quê?
Porque sim, porque eu acho que todo mundo já sabe que lá é Arena Corinthians.

Você, então, a tua reclamação é sobre, primeiro: o problema que causa não chamar de Arena Corinthians no sentido de prejudicar o faturamento que o clube vai ter. Mas há também um sentimento de incômodo em relação a usar o nome do bairro no aumentativo, Itaquerão, é isso?
É isso, porque puseram placa lá, “Estádio Itaquera”, lógico que eu reclamei, mas eu entendo que existe uma lei, de hipócritas, mas existe uma lei. Então, indiretamente tem que respeitar a lei, mas é um absurdo. Agora, a parte da imprensa que fala Itaquerão, eu não estou preocupado com o que o povo fala, o povo fala o que quiser porque estamos em uma democracia, mas os órgãos de imprensa que são profissionais e cobram profissionalismo, eles tinham que respeitar aquilo que o clube pediu, porque realmente nós temos que vender o nome do estádio e fica mais difícil.

No caso da presidente ,você acha que faltou uma assessoria, alguma coisa?
Foi mal informada. Infelizmente, a assessoria dela falhou, e falhou feio.

E ela também, no caso, ela deve ler jornal, né.
Por isso talvez, porque ela deve ler a “Folha de S.Paulo”. Será que ela lê a “Folha”?

Será que ela é leitora só da Folha?
Ou do UOL. Está errada ela, hein.

Naming rights. Esse negócio dos direitos de explorar o nome. Como andam as negociações e o que se pode esperar delas?
Tem que falar com o UOL e com a “Folha” para parar de chamar de Itaquerão, né.

Mas, além do UOL e da “Folha”, eu sei que a sua missão aí é negociar o nome do estádio.
Estamos negociando, tem três, quatro empresas, mas...

Elas são conhecidas, é possível dizer ou ainda não se pode?
Não posso dizer porque, nesse tamanho de negócio, a empresa que não fechar acha que perdeu e então fica um pouco delicado, mas está cada dia mais adiantado. É uma novidade no Brasil, como eu disse, aqui não tem o costume de chamar os nomes das arenas, mas, como a globalização é forte e o Brasil copia coisas boas de fora, espero que copie essa.

A tua expectativa é que quando possa ser fechado isso e qual é a tua expectativa de receita dos naming rights do estádio?
Em torno de R$ 400 milhões por 20 anos.

R$ 400 milhões em 20 anos?
Isso, que seriam...

Dólares ou reais?
Reais. Seriam uns R$ 20 milhões por ano e já está atrasado um ano, um ano e meio. Não vamos ser hipócritas e achar que estamos no timing bom, já era para estar fechando isso há mais de um ano. Mas acredito eu que no máximo mais alguns meses e fecha.

A obrigação do clube, da arena, é qual em relação à empresa que dá o nome. É colocar o nome e fazer mais o quê?
É você colocar o nome e todo o encarte, tudo que tiver de divulgação da arena, é arena com o nome da empresa. Os documentos...

E a empresa tem algum direito em relação...?
Tem o camarote, tem a exploração, tem vários eventos que ela pode fazer dentro da arena, tem todo um projeto. É muito bem copiado do [clube inglês] Arsenal e estamos levando mais ou menos seguindo o que o Arsenal fez.

Aqui no Brasil quem já faz isso, além do Palmeiras que a gente já sabe?
Ninguém.

E o Corinthians seria o segundo. Os outros que fizeram estádio privado foram para o Grêmio, não fez isso, o Paraná...
Nem o Grêmio, o Atlético Paraná foi o primeiro que fez, há alguns anos atrás, mas, infelizmente, não teve muito... talvez porque não tivesse muita interatividade entre eles e não pegou, mas foi o primeiro de tudo foi o Atlético Paraná.

E esse valor, R$ 20 milhões por ano. É mais ou menos o que no mercado internacional se cobra ou aqui é um valor menor? Pro Arsenal deve ser mais, é menos?
Infelizmente, menor.

O Arsenal é conhecido o valor?
Não é, né, mas...

Mas se diz o quê?
Mas com certeza deve ser, no mínimo, o dobro.

Entendi. E a tua expectativa é que durante este ano, ainda de 2014, isso possa ser fechado? Tem que ser, né?
Temos que fechar. Acredito que até antes do final do ano feche.

O ex-jogador Ronaldo, que jogou no Corinthians, fez uma passagem bonita pelo clube, acabou de dar uma entrevista, várias na verdade, se dizendo envergonhado pelo fato de algumas obras da Copa do Mundo não terem ficado prontas e isso teve grande repercussão. Qual é a sua opinião sobre a declaração do Ronaldo?
O Ronaldo tudo que fala realmente repercute. Eu acho que ele estava em uma expectativa, há alguns meses atrás, de que tudo ficasse pronto, quando ele sentiu agora faltando um mês para a Copa, ele viu que nem todas as obras ficariam prontas e se sentiu no direito de dar aquela resposta. Ele foi um dos caras que mais comprou a ideia de Copa, que mais deu a sua cara para bater, mas, infelizmente, ele se sentiu assim e disse isso. Eu sempre disse que a Copa do Mundo no Brasil é importante, que nós íamos ter algumas coisas que não ficariam prontas e outras que ficariam boas. Tem lugar que não vai ter o legado para a população e tem lugar que vai ter muito legado para a população. Nós vamos ter erros e acertos, mas vai ser uma grande Copa. O que nós não podemos admitir é que o brasileiro ou o Brasil escondam a sua cara. Nós temos que mostrar para o mundo as dificuldades, as deficiências que nós temos, e as virtudes que nós temos.

O Ronaldo foi ingênuo?
Não, de ingênuo ele não tem nada.

Pois é, mas...
Nada. Ele se sentiu, naquele momento ele deve ter tido alguma reunião naqueles dias e ele viu que muitas das obras ou algumas das obras não ficariam prontas e se sentiu no direito de falar aquilo.

Em que medida teve cálculo político a declaração do Ronaldo?
Eu não calculo nisso, não levo para esse lado não.

O fato de ele também ter declarado que vai dar apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, na disputa pela Presidência da República teve alguma influência, na sua opinião?
Não, ele é amigo do Aécio há muitos anos, há mais de décadas, desde a época em que ele jogava no Cruzeiro, parece. E, infelizmente, nós brasileiros ou a grande maioria dos brasileiros não vota no partido, vota em pessoas, o que eu acho que é um erro. Eu acho que tinha que votar no partido, tinha que votar no projeto do partido, mas, infelizmente, nós vamos muito pelas pessoas. Do mesmo jeito aquele que falou: “Em quem votaria se fosse candidato? Eu votaria em mim.” E ele é um exemplo de muitos brasileiros que votam na pessoa e não no partido.

Você conversou com ele depois dessas declarações dele?
Muitas vezes.

E ele falou “ah, fiquei decepcionado”, como é que ele...
Não, nem falei com ele disso aí porque foi muito rápido, eu estava voltando de viagem, mas te garanto que é isso aí. Até cinco, seis meses atrás ele estava achando que ia ficar tudo pronto e, infelizmente, nem tudo ficará pronto.

Por que não vai ficar pronto, na sua opinião?
Porque nós brasileiros temos a mania de deixar tudo para última hora.

Nós brasileiros ou...
É a cultura brasileira.

Você que alguns governos são melhores que os outros porque primeiro ficou a cargo de governos estaduais...
...Municipais, não é tudo culpa do [governo] federal. Então já levaram toda a culpa para o federal. Por exemplo, aeroporto. O aeroporto não vai ficar pronto para a Copa, mas o aeroporto não é para a Copa. O aeroporto tinha que estar melhor há dez anos atrás e tem que ficar melhor o mais rápido possível, independente de Copa. É que tudo agora que vai ser feito “é para a Copa”, “é para a Copa”. Nós temos que esquecer esse negócio de Copa do Mundo, nós temos que fazer para nós, brasileiros. Ou você acha que o aeroporto há oitos anos estava bom? E há oito anos eu não sabia que ia ter Copa, sabia há seis.

Você acha que, em termos de responsabilidade sobre o que aconteceu nesses últimos 12 meses, vamos dizer, que precederam a Copa, porque muitas coisas iam ficar prontas também para a Copa, teve alguma responsabilidade maior de governos municipais, estaduais, federal?
Eu acho todos têm responsabilidade. Todos os brasileiros e os órgãos públicos, todos têm responsabilidade. Como eu falei, o Brasil é uma burocracia total, muitas coisas não são nem culpa do governo, é culpa da burocracia que existe nesse país. Às vezes para você tirar autorização para alguma coisa leva um ano e meio. Tem gente que está trabalhando há muito tempo e não tem nem alvará ainda, porque já tem autorização, mas não tem o alvará oficial porque geralmente demora para sair.

Em geral, como é que você se sente com esses atrasos?
O que eu sinto é o seguinte: tudo que estão fazendo agora, já tínhamos que ter feito há décadas atrás. Está respondido.

Mas isso é culpa do brasileiro?
Não, é culpa dos órgãos públicos desse país.

Vamos pensar o seguinte: em São Paulo o governo é comandado por um partido há 20 anos, que é o PSDB. No plano federal é comandado por um partido, que é o PT, há 12 anos. Quando você chega no primeiro ano...
E o municipal fica trocando.

Aí se diz: “Pô, mas eu cheguei há um ano e ainda não deu tempo”. Mas quem ficou 20 anos, 12 anos não tem mais desculpa, tem?
É isso que eu estou falando. É erro dos órgãos públicos. Como brasileiro, cidadão, tudo que estão fazendo para a Copa já tinha que ter feito há décadas. Tudo bem que o governo estadual de São Paulo e o governo municipal fizeram algum legado para a Zona Leste, para a cidade de São Paulo, pela Copa do Mundo, mas o viário, o túnel, tudo aquilo que foi feito tinha que ter sido feito há décadas. A Zona Leste tem mais de quatro milhões de habitantes, é um país. Só agora que estão vindo para lá? E há a décadas que ninguém investe nada lá. Agora, tem um legado silencioso que ninguém fala.

Qual é?
Que muita gente aprendeu outra língua, os táxis estão não sei o quê, os hotéis aprenderam muito melhor a se movimentar e atender às pessoas. Tudo isso é um legado silencioso que um evento como a Copa do Mundo também deixa.

Deixa eu perguntar do Estádio do Corinthians de novo. O preço dos ingressos. Teve um jogo agora, contra o Figueirense, que parece que o ingresso mais barato, você me corrija se eu estiver errado, foi de R$ 83, é isso?
Está errado.

Enfim, em geral, qual foi o valor menor...?
R$ 35 reais, o sócio-torcedor pagou.

Sócio-torcedores. Agora a pessoa que chegasse lá...?
R$ 50.

R$ 50. Esse valor, na tua opinião, ele está baixo, está alto, ou está certo?
Não, eu acho que na realidade pelo que é o evento hoje, ele não está caro, está razoável para o salário mínimo do brasileiro.

Quanto deve ser um valor justo para entrar em um jogo de futebol em um estádio novo, moderno, como esses que estão sendo construídos agora?
Tem que ver muito o jogo de futebol, o time que vai jogar, porque às vezes o time não compensa o espetáculo para ser jogado.

Esses campeonatos, em países desenvolvidos, de vários esportes, não só futebol, nos Estados Unidos que têm muita empresa no esporte, não importa o time, tem a primeira divisão, tem 20 times lá de hockei no gelo, de basquete, não importa, o preço sempre é meio tabelado e é muito caro, muito caro. A gente vai chegar nisso também, como é que vai ser o modelo brasileiro, na sua opinião?
No dia em que os brasileiros de menor renda, melhorarem a renda fora do que já melhoraram, tudo vai aumentar, mas enquanto nós tivermos pessoas aqui que ainda não tenham condições nós temos que achar uma escala. O futebol é o esporte mais democrático e nós não podemos nos esquecer das pessoas que têm condições e das que não têm também. Então tem que mesclar.

Nessa primeira fase, o Brasil com estádios novos, na primeira divisão do futebol brasileiro, o que é um preço médio aceitável na tua opinião, para os jogos da primeira divisão?
Nenhum preço, tirando raras exceções, uma final de campeonato ou duas, que foi o Atlético ou o Flamengo, nunca passou de R$ 50 o ticket médio.

E você acha que é bom esse valor?
Não, eu acho que é pouco.

Não é muito barato?
Eu acho que o ticket médio tem que ser uns R$ 100, R$ 110.

Para jogo de final ou para todos?
Para tudo. Você vai ter ingressos a R$ 30, R$ 35, e vai ter ingressos a R$ 1.000.

E na média soma tudo, divide, na média dá uns R$ 100...
Que nem no Corinthians contra Figueirense, deu na média R$ 83.

Isso que eu ia falar, a média foi R$ 83.
Mas tinha ingresso lá a R$ 35 para sócio. A R$ 32 para quem é sócio-torcedor e sócio do clube, pagou R$ 32.

Mas será que o futebol brasileiro, ano que vem, 2015, passou esse negócio de Copa. Ano que vem, primeira divisão, futebol brasileiro está pronto para cobrar na média R$ 100, R$ 110 o ingresso?
Não sei se ano que vem está pronto. É uma busca que os clubes têm que fazer. Os clubes estão pagando salários muito altos para o seu time, comissão técnica, todo mundo está exigindo grandes jogadores e tudo isso tem um custo. Futebol hoje virou um grande negócio, um grande business e tudo isso tem um custo. Aquele negócio do amor acabou há duas décadas.

O que você acha que vai acontecer, agora, durante a Copa do Mundo, estamos às vésperas da Copa, a respeito dos possíveis protestos que dizem que vão ocorrer?
Eu acho que eu sou totalmente a favor do protesto, eu acho que tem que se reclamar mesmo, mas não pegar o gancho de Copa do Mundo para se fazer isso porque dá publicidade, porque tem muita mídia. Eu acho isso um aproveitamento errado. Por escola, educação, segurança, hospital, isso nós temos que estar reclamando já há 20 anos que nós estamos com essa deficiência. Será que agora na Copa do Mundo tem que consertar tudo? Então, eu acho que tem que deixar a Copa do Mundo, o futebol, de um jeito e começar os protestos por tudo aquilo que nós necessitamos. Não só antes da Copa, durante a Copa, como, principalmente, pós-Copa. A Copa do Mundo é um evento que vai ficar aqui 40, 50 dias e vai embora. Nós temos que receber os turistas da melhor maneira possível, fazer uma grande festa, acabou a Copa? Cobrar do governo tudo aquilo que achamos importante para nós.

Vai ter muito protesto, na tua opinião?
Não sei.

Mas qual é o teu sentimento?
Eu acho que vai ter algumas tentativas de reclamações de algumas 100, 200 pessoas, mas eu acho que isso é aproveitamento, é tirar um proveito que é errado. Pegar um ônibus da seleção brasileira, lá no Rio de Janeiro, e os professores ficar xingando jogadores. O que os atletas têm culpa disso? É um esporte, pô. Ao mesmo tempo que falam que usam o futebol para a política, agora vamos usar o futebol para o protesto? Eu acho que não deve nem ser utilizado politicamente e nem para protesto.

O que aconteceu na tua passagem pela Confederação Brasileira de Futebol quando você ocupou o cargo de diretor de seleções, não é isso? Por que foi uma passagem que quando houve a troca de comando você decidiu sair? O que aconteceu?
Não, depois de nove meses eu pedi demissão porque eles contrataram o Felipão sem eu saber e com o Mano [Menezes] trabalhando. O Felipão foi encontrado em setembro e em outubro foi contratado.

Houve o quê? Uma quebra de relação de confiança?
Isso. Eu posso ser tudo menos rainha da Inglaterra para eles. Simplesmente foi isso.

Por que aconteceu isso, na tua opinião?
Ah, não sei. Isso tem que perguntar para o Marco Polo [Del Nero], eu não sei o que aconteceu.

E o [José Maria] Marin?
Não, o Marin também. Eu respeito a hierarquia mas era inadmissível ser diretor de seleção e não saber que estavam contratando um treinador. Eu sei que é presidencialista a confederação, mas o diretor de seleção tinha que estar, pelo menos, comunicado.

Você acha que foi um erro a contratação do Felipão?
Se perder a Copa é um erro, se ganhar foi um acerto. Futebol é resultado.

Mas antes disso?
Eu não tiraria o Mano na época, eu não tiraria.

Foi um erro tirar o Mano na época?
Eu acho que daquela maneira que tirou e na época que tirou, sim, mas teria que esperar até a Copa das Confederações.

Mas por que eles fizeram isso, na tua opinião?
Não sei.

Você deve ter uma sensação.
Não sei, não sei. Agora, se o Felipão ganhar a Copa, treinador não ganha a Copa do Mundo, mas se for o campeão, fizeram o certo, se não for erraram. Infelizmente, futebol é resultado. É a única coisa nesse país que não adianta você fazer bem feito, você tem que ganhar.

Como é que foi a conversa, passado esse tempo, se você puder revelar, entra você, Marco Polo Del Nero e José Maria Marin naquela fase da sua saída...?
Nem falei com ele. Eu pus a carta de demissão...

Não houve um telefonema?
Nada. Na série da CBF pus a carta minha de demissão e fui embora.

Ninguém te ligou?
Graças a Deus.

Nunca mais?
Não, falo com Marin constantemente.

E nunca tocam no assunto?
Não, nunca tocamos.

Ele agiu corretamente nesse episódio?
Não sei, naquele momento...Não, corretamente não. Se eu achasse que não era momento de tirar o treinamento, então na minha concepção não foi correto, mas o Marin comigo não teve problema nenhum. Marco Polo teve alguns problemas e ele fica lá e eu fico aqui.

Quais problemas?
Ah, não foi aqui revelar, mas ele fica lá bem longe e eu fico aqui.

Marin não?
Marin não. Marin foi um cara que, bem ou mal, sempre falou olhando para mim.

Passou isso daí?
O quê?

Esse mal-estar todo?
Faz dois anos já, está louco. Graças a Deus, já pensou eu estar aí diretor de seleção e a pressão que estaria aí. Pelo amor de Deus.

Durante um certo período, no ano passado, foi noticiado e você deu a entender em entrevistas que, enfim, articulava uma chapa de oposição para presidir a CBF. Passou o tempo, a chapa acabou não vingando. O que aconteceu?
Porque o tipo de eleição na CBF é muito arcaico, você tem que ter apoio de oito federações de cinco clubes, e as federações são aquelas tradicionais.

Você precisa ter, só para recapitular como quem está vendo...
Para ser candidato.

...Precisa ter apoio de oito federações senão não pode lançar a chapa.
Não é candidato.

Quantas federações você chegou a conseguir?
Eu não consegui nenhuma porque eu não era candidato, mas o grupo...

O grupo?
Até seis federações.

Chegou até seis?
É. Aí no dia que nós fomos decidir quem seria o candidato, que foi decidido pela maioria que seria o [Francisco] Noveletto [presidente da Federação Gaúcha de Futebol], nós abrimos mão para ele, e ele começou a trabalhar e, infelizmente, não conseguiu viabilizar as oito federações, mas foi importante ter isso, foi um comecinho, talvez uma perninha que se começou e vamos esperar as próximas para ver o que acontece.

Teve uma vez que eu conversei com o Marin e perguntei “vai ter eleição, para eleger o seu sucessor, o sr. é candidato?”, ele disse “não sou candidato”.
Mas ele foi candidato a vice.

Pois é, mas “o sr. é candidato a presidente”, ele falou “não sou candidato”. Daí eu falei bem assim: “Tem uma articulação de um grupo, Andrés Sanchez participa desse grupo, e há uma informação, um rumor pelo menos, de que Andrés Sanchez poderia ser o candidato a presidência da CBF pela oposição e que, inclusive com o apoio de muitas federações, está tentando, e até o apoio do ex-presidente do Lula, que gosta muito de esporte, de futebol”. Daí o Marin me respondeu, mais ou menos assim: “Olha, eu tenho certeza que o Lula pode ter as preferências dele, mas o Lula não vai fazer pressão a favor de ninguém”. Você acha que ele respondeu certo?
Certo, porque o Lula tem muito mais problemas do que resolver uma candidatura. É obvio que ele apoiaria e me apoia até pela relação que eu tenho com o presidente Lula, mas eu acho que o presidente tinha outros mil problemas para resolver do que simplesmente um candidato à federação, um candidato à CBF. Mas o Marin respondeu bem, eu nunca pedi apoio para o presidente Lula, nunca. Falavam que ele não sei o quê, que eu fui, mas eu nunca pedi.

Porque ali, até aquele momento, achava-se que realmente o ex-presidente Lula, certo ou errado, achava-se que ele iria participar desse processo.
Eu nunca pedi para ele.

Daí com essa declaração do Marin parece que a coisa deu uma arrefecida até.
Porque eu nunca pedi para ele. Eu nunca fui lá “presidente, eu quero apoio do sr. para presidente”.

Você desejaria...
Primeiro que eu nunca falei que eu era candidato. Eu falei que eu era a oposição. Se tivesse um grupo de oposição eu apoiaria e trabalharia como trabalhei...

Mas poderia ser você, claro.
Poderia ser eu também. Eu trabalhei e fiz de tudo para ter um candidato da oposição, mas infelizmente não conseguimos.

Você acha que... Agora vai demorar um pouco, né?
Quatro anos.

Mas há uma possibilidade, daqui a quatro anos, depois da posse do Marco Polo...?
Estamos articulando tudo aí para em 2018 ter candidato.

Para ter um candidato de um grupo oposto a esse que comanda a CBF.
Ao que nós achamos que será um mal para o futebol.

Sonha ainda em ser presidente da CBF algum dia?
Eu nunca falei que eu sonharia...

Não, mas eu estou te perguntando.
Não, não sonho. Não tenho esse sonho.

Gostaria?
Eu acho que eu seria muito mais importante para o futebol brasileiro na CBF do que o Marco Polo, mas agora, não tenho esse desejo. O desejo que eu tinha, o sonho que eu tinha era ser presidente do Corinthians, e graças a Deus, fui, mas da CBF eu nunca tive sonho.

Na sucessão de Marco Polo Del Nero, ser puder ser candidato, apoiado por um grupo, seria?
Se o grupo achar que seria o meu nome o melhor, sem problema nenhuma, mas eu estou trabalhando com os amigos e na época nós já tentamos fazer um grupo mais forte ainda para fazer oposição e ter candidato em 2018.

Eu sei que o ex-presidente Lula tem uma relação de amigo com o sr. Que tipo de conselho ele te deu nesse período sobre a sucessão da CBF?
Nunca falamos sobre ser da CBF.

Sobre futebol, sobre a política no futebol.
A única coisa que ele me disse foi que eu se eu fosse candidato a deputado seria importante para mim, seria importante para São Paulo, seria importante para o Brasil porque se resolveria e se abriria os problemas nacionais e teria uma amplitude nacional dos problemas que existem no Brasil e, como dizem, dar pedrada é fácil, agora ser vidraça é que tem que saber como é que faz.

O atual grupo que comanda a CBF sucedeu a Ricardo Teixeira. Ricardo Teixeira foi um presidente da CBF polêmico, para dizer o mínimo, e saiu em uma crise. Ele saiu acusado de enriquecimento ilícito, estou falando sem juízo de falar, mas saiu acusado de recebimento de propina, etc. Saiu da CBF e ficou o Marin, José Maria Marin. Que legado Ricardo Teixeira deixou para a CBF e para o futebol?
Ele pegou a CBF quebrada, por isso que existiu o Clube dos 13 e teve a Copa União, porque a CBF não tinha condições de manter o campeonato. Entregou como uma das confederações que mais arrecada, financeiramente falando, melhor administrativamente. Agora, erros, todos cometem. Talvez o maior erro dele foi ficar muito tempo no comando. Eu acho que tem que ter renovação. Eu sou contra reeleição. Mas ele achou que tinha que ficar muito tempo e, queira ou não queira, ele fez muito bem ao futebol. Agora, essas acusações que têm, eu não entendo. Há décadas acusando, há décadas falando e ninguém prende, ninguém faz nada. Incrível.

Você acha que tem muito de rumor e pouco fato, é isso?
Não sei. Eu ainda acredito na Justiça brasileira.

Agora, em geral, o legado de Ricardo Teixeira é um bom legado, na sua opinião?
Eu acho que ele deixou mais coisas boas que ruins.

Foi um dirigente, então?
Para o futebol sim.

E a Fifa, faz bem para o futebol, a Fifa?
Não conheço. Isso daí não tenho nem como fazer. Eu acho que quem faz o futebol, primeiro, são os clubes, depois os jogadores e grande torcedor. Se não tiver esses três, não existe futebol. Mas quem muito comanda, quem muito faz, é quem menos tem para se fazer, que é a Fifa, confederações e federações.

O que você acha da Fifa?
Eu acho que é uma grande empresa, de um grande negócio, que é democrática. Se todo mundo que está lá, vota nela, é a favor dela, para que tem que fazer uma revolta? Quem tem que brigar por isso são os clubes. Juntar os clubes europeus, sul-americanos e tudo, do mundo, e falar “ó, quem vai fazer o mundial somos nós”. Quem faz o futebol é o clube.

O Fifa exagerou nas exigências que fez ao Brasil?
Ah, não sei. O que eu sei é que em qualquer país que se tenha Copa do Mundo as exigências são as mesmas. Qual o problema aqui: Onde existe meia-entrada no mundo? Onde existe meia-entrada? Onde existe ingresso para índio? Onde existe ingresso para aposentado? É tudo uma coisa que a Fifa e os órgãos internacionais não entendem, mas no Brasil existe a lei e tem que ser cumprida e teve que se revogar. Como é que pode vender bebida na Copa do Mundo e depois o Corinthians não pode vender no estádio dele? Então nós somos povo de segundo escalão. Eu me sinto. Se pós-Copa do Mundo o Corinthians não puder vender cerveja, o Corinthians e os clubes nessas arenas novas, não puder vender cerveja ou bebida, eu vou me sentir um povo de segunda classe.

Tem como mudar essa lei?
Essa é a coisa mais ridícula que existe nesse país, não poder vender bebida. O cara fica bebendo a meio metro do estádio, na porta do estádio, e aí cinco minutos [depois] entra aquele bando, na última hora, tudo já tomado... Hoje as arenas novas tem espaço, tem restaurantes modernos, tem bares grandes, não tem problema, tudo filmado. Quem se exceder... A lei que querem impor no futebol, se pusesse no país, nós seriamos país de primeiro mundo.

Tem espaço para tentar reverter essa lei que impende a venda de bebida alcoólica de bebida em estádio depois da Copa?
Tem que ter. É um absurdo se não for. Como é que pode vender na Copa e nós brasileiros, não? Nós não somos povo de segunda classe. Essa é a coisa mais ridícula que tem. Se vende bebida no carnaval, no show, no teatro, em todo lugar, só no futebol que não?

E o movimento Bom Senso [F.C.], qual é a tua opinião?
Eu acho que tem coisas boas, mas exageraram.

O quê, por exemplo?
Rever o calendário, não atrasar salário para jogadores e para comissão técnica.

Isso é bom?
Isso é muito bom, mas eu acho que eles foram pelo caminho errado.

Qual é?
Eles têm uma classe representativa, se eles não concordam com a classe representativa eles vão e destituem os seus dirigentes e informem eles. É muito bonito...

No sindicato dos jogadores?
Lógico. Tem os sindicatos em seus Estados e o nacional. Se não tiver contente vai lá e tire eles. Agora, é muito bonito pegar oito, nove jogadores consagrados e ficar falando. 95% dos jogadores brasileiros não ganham dois salários mínimos no Brasil. E nenhum jogador joga 70 jogos por ano. Se ele não joga com dorzinha, ele joga porque se machucou. Tem coisas boas, o jogador tem que participar das reuniões, dos debates, tem que participar, agora, eu acho que eles passaram um pouco do limite.

Você recomendaria o quê? Que se dissolvesse o Bom Senso e eles se incorporassem aos sindicatos?
Se discute junto com o sindicato, com as entidades dos clubes e dos governos.

Ou seja, acaba o Bom Senso e vai para o sindicato?
O que é o Bom Senso, é uma associação? Montaram o quê? É o novo sindicato? Eu, se eu estivesse em um clube como presidente, eu não reconheceria o Bom Senso. E olha, o Paulo André jogou comigo, eu que contratei, é um grande amigo, um cara muito capacitado, mas eu falei para ele, vocês tem que procurar o sindicato e tentar fazer um Bom Senso dentro do sindicato.

Mas eu acho que não vão fazer, pelo jeito?
É, não sei.

Eles foram recebidos pela presidente da República, Dilma Rousseff, recentemente e ela está concedendo a eles um espaço...
Que não concede aos clubes, que não concede ao sindicato, que não concede a ninguém. Eu acho que é um pouco contrassenso, né?

Ela erra ao receber o Bom Senso e não receber os clubes e os sindicatos?
Lógico, totalmente. Eu já falei, quem faz o futebol são os clubes, aí atleta e torcedor.

O sr. vai ser candidato a deputado federal.
Pré-candidato, né.

Pré-candidato no momento e aí deve ser candidato com a oficialização da convenção do PT, do Estado de São Paulo. Como vai ser a sua campanha? Defendendo quais causas?
Bom, primeiro, era uma coisa que eu não tinha na minha vida como um caminho a se seguir, mas, como eu disse, por várias conjunturas, sou pré-candidato e talvez serei candidato. Por inclusão social e bater muito na reforma política, cara. Tem que mudar a maneira de se fazer política nesse país. Não tem cabimento a maneira que se faz política hoje.

O que está errado na forma que se faz política hoje?
Não sei se está errado, né. Eu também não tenho o dom de saber de tudo, mas eu sou contra a reeleição em qualquer órgão. No Corinthians eu saí com 98% e não fui reeleito, não quis reeleição. Eu acho que para presidente, para governador, para prefeito e até senador e deputado tem que se achar uma maneira de prorrogar o mandato e não ter reeleição.

Como assim, explica. Para todos os cargos, deputado, senador, governador, prefeito, vereador, tudo?
Seis anos e troca.

Sem reeleição, inclusive no legislativo?
Quer for bom, depois no outro mandato volta. Vamos supor, se eu for um vereador muito bom, me candidato a deputado, se eu sou um deputado muito bom, vou a senador, se eu sou um senador muito bom, vou a presidente. Então, você pode se reeleger, mas não para o mesmo cargo. Acho que isso daria uma oxigenada muito grande no brasileiro e até porque muitos brasileiros que não têm chance hoje, teriam chances de entrar para ver se tudo que falam que é errado, eles verem lá para ver se é errado mesmo.

E você acha que tudo teria que ser coincidente, o mandato do vereador, do prefeito, do senador, tudo uma vez só, em uma eleição só?
Da maneira em que é feita a política hoje, o que custa as campanhas hoje, seria melhor ser uma só.

Mas daí o eleitor vai votar para vereador, para prefeito, para deputado estadual, para governador, para deputado federal, senador e presidente?
Por isso tem que ter a reforma política, talvez não precisa ter tudo isso.

Será que se ele votar tudo de uma vez, não é melhor separar prefeito e vereador?
Pode fazer em dois dias, sábado, uma parte, e domingo, outra.

Mas aí a campanha se sobrepõe. Porque a campanha que antecede a eleição é uma época, ou deveria ser, de discussão para a pessoa entender...
Mas não é isso...

Não é, mas deveria ser. Se for para discutir tudo em uma campanha só será que não vai ser pior?
Mas por isso tem que mudar, mas não é só na forma que é a política hoje. Tem que ter voto distrital, tem que ser uma coisa mais... Uma ampla reforma política, não só não ter reeleição, não só para ser tudo junto, tem que vir a parte... O país não pode 32, 33 partidos. Não dá para um país, por maior que seja...

Agora, o sr. sabe que muita gente já tentou fazer, outros não, mas muitos já tentaram fazer algum tipo de reforma política bem-intencionados, aí não conseguem porque “muda isso, mas aí tem que mudar aquilo também, aquilo dali”, é muito grande a reforma e daí nada anda. Se o sr. tivesse que escolher um item, só pode mudar isso para começar, seria qual?
Uma pergunta difícil. Mas eu ainda acredito que sem reeleição.

Então, para começar, acabar logo com a reeleição, e daí depois...
Aí depois vai discutindo o que quer. Agora, nós brasileiros estamos cansados de tudo que se ouve, que se lê. O brasileiro hoje está meio revolto com algumas coisas. Então, nós, eu se vier a ser deputado, temos que tomar muito cuidado. Eu não quero passar na rua e nego me xingar, nego me olhar torto. Eu, graças a Deus, tenho família, tenho berço e eu acho que todos têm, mas eu acho que tem que reverter isso rapidamente e só se reverte isso mostrando atitude, mostrando clareza, transparência, renovação, senão nós vamos estar em um problema muito grave institucional que talvez as pessoas não tenham consciência disso, mas que está muito perigoso.

Agora, a sua atuação é muito ligada ao esporte, ao futebol, ao Corinthians. Nessa área do esporte, do futebol, se eleito deputado, como é que o sr. atuaria?
As pautas que têm dos esportes eu vou participar fortemente, até pela experiência que eu tenho de ter sido dirigente de um dos maiores clubes do Brasil, senão o maior, mas não vou colocar como primeira causa discutir o futebol. Se fosse para eu ficar falando de futebol eu ficava no Corinthians.

Mas tem algum item do futebol ou do esporte que o sr. vai incluir na sua atuação se eleito deputado?
Por exemplo, não dá para um jogador de futebol que trabalha duas horas por dia, concentra um ou dois dias antes do jogo, trabalha todos os finais de semanas, ser regido pela CLT. O jogador que começa com contrato com 16 anos, mas ele joga desde os oito, com 16 faz o primeiro contrato, ele não consegue jogar mais do que 15 anos, ou alguns 20 anos, mas é em média 15 anos, ele tem que ter uma aposentadoria especial, um pouco antecipada, como quem trabalha na Petrobras, com 20, 25 anos se aposenta, quem tem risco de vida, não sei o quê. O atleta, não só o jogador de futebol, que esse negócio de que o vôlei é amador, basquete é amador, futebol de salão é amador, isso aí é balela. Tem jogadores de basquete que ganham R$ 200 mil, R$ 300 mil, no vôlei, no futebol de salão, na natação. Então vamos dizer, o atleta de alto rendimento, seja o esporte que for, ele tem que ter um regime trabalhista diferenciado do resto da população.

Esse seria um projeto a ser defendido, por exemplo?
Tem que ser porque o jogador de futebol hoje é regido pela CLT. Eu pago adicional noturno? Não. Mas ele trabalha duas horas por dia, ele não trabalha oito horas por dia. Ele trabalha todo final de semana, ele não tem folga. É todo final de semana. Eu acho que tinha que parar o Campeonato Brasileiro na semana que vem, não pode ter campeonato, porque as leis trabalhistas não permitem. Toda semana meu funcionário trabalhar e eu não der folga para ele, eu não posso. Como é que nós fazemos com o jogador de futebol? É CLT. Aí se você faz direito de imagem que a constituinte permite, você abrir uma empresa. Aliás, muitos jornalistas, muitos atores ganham por nota fiscal. Abre uma empresa e dá uma nota fiscal por prestação de serviço. Se faz direito de imagem do atleta, o clube, é porque está sonegando, é porque é para pagar menos imposto. Eles que recebem nisso? Não. Então é essa hipocrisia que existe.

A propósito da carga horária de jogadores de futebol, o Campeonato Brasileiro, os campeonatos de futebol que existem no Brasil, têm um calendário que é muito criticado. Na sua avaliação, em resumo, como deveria ser melhorado esse calendário?
Não é simples responder isso aí não, mas o que eu entendo é que o jogador tem que ter 30 dias de férias e no mínimo 20 dias de pré-temporada, que tem que ter uma janela em agosto para os clubes brasileiros fazerem excursões no exterior. Ou você diminui o campeonato com clubes...

O brasileiro ou o regional?
O brasileiro. O regional você tem que aumentar ou acabar.

Aumentar ou acabar, como assim?
Porque não dá para jogar três meses. Tem time no São Paulo que joga três meses e depois fica o resto do ano sem fazer nada.

Entendi.
Ou você prolonga o campeonato e o time da série A, série B entram nas finais ou você acaba com o campeonato, ou você regionaliza os campeonatos estaduais como se fossem nacionais. Então seria série A, B, C, D, E, F regionalizado e todo mundo em subdivisão. Alguma coisa tem que ser feita porque do jeito que está os campeonatos regionais indo mil pessoas assistir o jogo é que já perdeu o prazer do evento para ir assistir. E quando você vai fazer um jogo que não tem público...

Agora isso daí depende basicamente de a CBF coordenar com a federações, né?
Tudo é CBF.

Entendi. O sr. enxerga na atual administração da CBF e na futura...
Impossível.

Vai ficar igual?
Ou pior.

Ou pior? Pior como?
Porque eu acho que o Marco Polo não seria o nome ideal.

O que ele vai piorar?
Só de ele não mudar nada já piorou.

Quanto vai custar a sua campanha para deputado federal?
Eu não fiz a conta ainda...

Ah, já fez...
Eu acredito que uns R$ 2,5 milhões ou R$ 3 milhões.

Nossa, e quem vai bancar isso?
Minha família e eu.

O sr. vai aceitar doações de pessoas individuais ou de empresas legalmente para a sua campanha?
Individuais, pode ser que sim, de empresas tem que sentar na mesa e discutir o porquê disso.

Como assim?
Porque do jeito que eu sou, a visibilidade que eu tenho, dependendo da empresa que eu receber oficialmente vão falar que era... Já pensou se a Odebrecht me doa dinheiro? “Ou, também tinha esquema com o estádio”, o UOL então ia se deliciar, algumas pessoas aí. É difícil, a gente tem que rever todas essas coisas que eu falei. Eu quero entrar da maneira que eu sou e quero sair da maneira que eu sou.

Como é que foi quando o ex-presidente Lula conversou com sr. sobre essa possibilidade de ser candidato a deputado?
Foi rápida.

Como foi?
Você sabe que ele é muito rápido nessas coisas, você conhece bem ele. Ele falou que seria importante para mim, principalmente.

Por quê?
Porque abriiar meu horizonte, os problemas são muitos diferentes, são um pouco fora do problema de futebol que eu vivia, vai amadurecer bastante e seria importante para São Paulo e para o Brasil. Então, me convenceu e eu acho que vai ser uma experiência. Eu estava menos animado antigamente, mas estou mais animado.

O que se diz é que o sr. seria uma das esperanças do Partidos dos Trabalhadores para puxar votos, como se diz, ser um dos deputados que tenha bastante voto e ajude a legenda. Quantos votos o sr. espera ter?
170 mil, para ganhar a eleição. Trabalho com essa hipótese.

170 mil votos, que é o cociente mais ou menos...
Para entrar.

Para entrar.
160. Então, 170, 200 mil votos para entrar. Eu não estou preocupado com os outros não. 

Ele deu algum conselho para o sr., o ex-presidente Lula quando sugeriu?
Para não mudar a maneira de eu ser, para continuar sendo o que eu sou.

O sr. conversa de vez em quando com o Lula, é amigo, mas e com a presidente da República Dilma Rousseff, que sucedeu a Lula? O sr. já esteve com ela algumas vezes, como foi?
Eu estive com ela duas vezes, uma muito rápida e a segunda foi quando ela foi visitar o estádio do Corinthians na arena.

Qual a sua impressão?
Uma pessoa muito bem-intencionada, mas que infelizmente, talvez as conjunturas do país não permitam fazer aquilo que ela pensa que seria o bem para o país.

Qual a diferença dela para o Lula?
O Lula tem mais paciência para ouvir muita gente, prós e contras.

Ela não?
Talvez ela não. E talvez o Lula tenha uma coisa que poucos têm, a sabedoria de lidar com os diferentes, isso é uma arte. Para ele lidar com o cara que é presidente dos Estados Unidos e com o cara que varre o chão. Ele trata e tem a mesma sensibilidade com todas as pessoas, acho que isso é uma das maiores virtudes dele.

E a presidente Dilma, do pouco contato que o sr. teve, deu uma impressão diferente dessa?
Até pelo estilo de vida, até pela história de vida de um e de outro. É óbvio isso. Mas é o que eu digo, ou se faz uma reforma política e muda muitas coisas nesse país ou o país vai ter muitos problemas.

Quem vai ser campeão da Copa do Mundo aqui no Brasil?
Torcerei, farei tudo que puder para ser o Brasil. Agora fora o Brasil tem mais dois, três times que podem ser campeão.

Quem?
Argentina, Alemanha, a própria Espanha, a Itália, que ninguém fala nada vem forte. Agora, o Brasil tem tudo para ser campeão. Se os jogadores, que estão unidos, se unirem mais, fecharem entre eles, e a torcida abraçar o time de futebol, dificilmente o Brasil perde a Copa. A Copa depende da torcida e dos jogadores.

Tem algum jogador que deveria estar nesse grupo e não está?
Não, acho que foi uma seleção com poucas reclamações ou quase nenhuma.

O sr. não tem nenhum reparo ao grupo?
Nenhum.

Algum jogador?
Talvez eu teria levado o Gil, zagueiro do Corinthians que está jogando muito bem, o Marquinhos, que é o zagueiro do PSG, que vinha, que é novo, e já tem uma experiência boa para disputar uma Copa do Mundo, mas eu acho que foi uma seleção bem equilibrada. Aliás, esse time é o que vem jogando nos últimos três anos, também não tem muito o que escolher. Tirando um ou dois jogadores, é o time de três anos.

Há sempre uma dúvida de alguns mais especialistas a respeito da posição de goleiro, sobre Júlio Cesar. O sr. tem dúvidas?
Júlio César é o melhor goleiro que existe no Brasil. Agora, realmente, ele ficou um tempo sem jogar...

Exato.
...Para goleiro dificulta, mas na seleção brasileira tem um grande preparador de goleiro, um grande treinador e ele deve ter consciência do que está fazendo e a experiencia que o Júlio tem. Para a falta que faz um pouco de ritmo de jogo ele recupera lá pela sua experiência, mas é uma pessoa formidável e é uma pessoa que merece ser campeão do mundo pela família que tem, pela pessoa que ele é. Eu estive na África, como chefe da delegação, eu vi o que aqueles jogadores sofreram e quem está nesse grupo que esteve no grupo passado merece ser campeão.

O seu relacionamento no Partido dos Trabalhadores, além do ex-presidente Lula, é com quem? O sr. tem amigos lá?
Eu tenho amigos. Eu sempre fui eleitor do [José] Genoino, um grande amigo, o Zé [Dirceu], um grande colega, o Edinho...

O Zé no caso, o José Dirceu.
O José Dirceu. Eu não tenho vergonha de falar não. O Edinho [Silva], que era prefeito de Araraquara, que foi presidente do partido, é amigo meu há muitos anos, o Emídio [de Souza], de Osasco, antes de ele ser prefeito de Osasco eu já o conhecia, o Vicente Cândido, deputado Vicente Cândido, tenho grandes amigos e alguns inimigos, mas isso faz parte do processo natural, respeito ao próximo.

O sr. mencionou dois integrantes do PT muito famosos, José Genoino, José Dirceu que foram condenador no processo do mensalão, estão presos no momento. Depois que eles foram presos, o sr. mora aqui em São Paulo, eles estão presos em Brasília, chegou a ter algum contato, foi visitar?
Não, não fui não.

Se estiver em Brasília, como deputado, pretende vê-los lá?
Eu não costumo ir nesse lugar que eles estão, não acho justo, mas quando sair eles, com certeza, conversaria e estaria com eles.

O sr. faz parte do grupo que acha que houve injustiça, não sei se injustiça, mas que foi incorreta a condenação deles?
Eu não questiono decisão de Justiça. Eu acredito que todo mundo tem o direito de recorrer da sua justiça, da sua condenação. Se tudo isso foi condenação na última instância, sem passar pela primeira, pela segunda, eu acho que houve um equívoco. Agora, eu não sou jurista. Eu entendo que, primeiro, eu cometi um crime, eu tenho que ser julgado aqui, fui condenado, eu posso recorrer, fui condenado de novo, posso recorrer no STF, que é a última instancia, fui condenado, que se cumpra.

Eles que quiseram também, também pressionaram.
Eu entendo, mas eu acho que... Eu ainda acredito na Justiça. O que eu acho é que não pode, as pessoas, sejam elas quem for, se tiver direito de trabalhar, direito de sair, direito de um monte de coisa, que se cumpra.

Quem vai ser eleito presidente da República dia 5 de outubro?
Torço para que seja a presidenta Dilma.

Está em risco a reeleição dela?
Eu não sei. Eleição, como dizem, é difícil de prever. Eu acredito que não, por tudo que tem sido feito nas últimas décadas. O presidente Lula pode ter errado, pode ser acertado ou a Dilma. Você por 25, 30 milhões de pessoas no consumo, como foi colado, já foi um bom presidente. Tinham pessoas aqui, e ainda tem, na miséria total, se você conseguir tirar essas pessoas da miséria você já tem que se sentir realizado.

O clima do país está meio esquisito esse ano.
Nesse ano não, já vem há algum tempo e está cada tempo pior. Ou se tem uma reforma ampla, não só na política, mas em muitas coisas, ou o Brasil nos próximos anos vai ter muito problema.

Quem o sr. acha que é o principal o adversário ou os principais adversários aí competitivos da presidenta Dilma na disputa?
O Aécio Neves, até pela estrutura do partido que ele tem.

Mais do que o Eduardo Campos?
Mais do que o Eduardo Campos. O Aécio Neves está muito mais na frente. Eu acho que a grande disputa vai ser entre os dois.

Aqui em São Paulo há uma situação complexa para o Partido dos Trabalhadores que é a avaliação do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, não é a melhor, as pesquisas dizem. O candidato a governador Alexandre Padilha não tem ido muito bem ainda nas pesquisas. Qual o seu prognóstico aqui para a sucessão estadual?
Eu sou contra a reeleição, espero que dê Padilha. Eu acho que todo mundo tem a suas preferências ou dificuldades. Eu acho que o brasileiro tem que começar a pensar em quem está fazendo e e quem pode fazer aquilo melhor para nós. Eu acredito no Padilha, eu já o conhecia antes de ser ministro, é um eterno corintiano, foi um bom ministro da Saúde. Agora, as pessoas se esqueceram que se estão fazendo bem ou mal, tem que ver a pessoa e eu acho que o Padilha é um grande nome.

O Haddad está fazendo uma boa prefeitura em São Paulo?
Eu não convivo com isso, é melhor me abster.

É de São Paulo...
Pelo que os taxistas falam não.

Os taxistas estão certos?
Eu tive muitos problemas também, é complicado. Eu estou aprendendo aí um pouco como é que é ser gestor de uma prefeitura, de um governo de Estado. O país é difícil, cara. Ou se muda muita coisa ou vamos ter muitas dificuldades.

Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, candidato agora, quase já candidato a deputado federal, muito obrigado por sua entrevista.
Pré-candidato, senão caras me caçam, hein

Pré-candidato, muito obrigado pela sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Obrigado eu, foi um prazer e uma honra.