Leia a transcrição da entrevista de Roberto Rodrigues ao UOL e à Folha
Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, participou do Poder e Política, programa do UOL e da "Folha" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 18.set.2014 no estúdio do UOL em São Paulo.
Narração de abertura [EM OFF]: João Roberto Rodrigues tem 71 anos. É engenheiro agrônomo formado pela Esalq, da Universidade de São Paulo.
Roberto Rodrigues vem de uma família de agrônomos. Seu pai, Antônio Rodrigues, fundou entidades de representação do agronegócio e foi secretário de Agricultura de São Paulo no início da década de 60, no governo de Adhemar de Barros.
Roberto Rodrigues desenvolveu carreira na academia, no mundo empresarial e na política. É doutor honoris causa pela Universidade Estadual de São Paulo e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas.
Roberto Rodrigues também é empresário rural em São Paulo e no Maranhão. Tem assento em conselhos de empresas e associações de classe, como Febraban e Fertilizantes Heringer.
Na área política, foi secretário da Agricultura de São Paulo, de 1993 a 1994, no governo de Luiz Antônio Fleury Filho. Em seguida, foi vice-presidente da Associação Comercial do Estado de São Paulo. Também presidiu a Sociedade Rural Brasileira.
Em 2003, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o nomeou ministro da Agricultura, cargo que ocupou por 3 anos e meio.
Roberto Rodrigues é o atual presidente do conselho deliberativo da Unica, a União da Indústria de Cana-de-açúcar, e da Academia Nacional da Agricultura.
Folha/UOL: Olá, bem-vindo a mais um Poder e Política - Entrevista. Este programa é uma realização do jornal Folha de S. Paulo e do portal UOL. A gravação desta edição está sendo feita no estúdio do UOL, em São Paulo. O entrevistado desta edição do Poder e Política é Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas e que também foi ministro da Agricultura durante um período no governo Lula.
Folha/UOL: Olá, como vai o sr., tudo bem?
Roberto Rodrigues: Tudo bem Fernando, é um prazer estar com você aqui.
O ex-presidente Lula, no seu primeiro mandato, falou muito no desenvolvimento de biocombustíveis e depois, a partir de 2007 quando a Petrobras confirmou a existência do pré-sal, os biocombustíveis foram relegados a um segundo plano. Como que essa guinada afetou o setor de cana-de-açúcar no Brasil?
Duramente, viu Fernando. Duramente. Na verdade não foi o pré-sal o ponto de inflexão desse processo de desprezo pelo setor. A crise de 2008 também afetou o setor muito fortemente, por causa da equação de preços entre gasolina e etanol. Naquele tempo nós estávamos crescendo 10% ao ano de 2003 até 2008, 2009, depois começou a cair 1% ao ano, uma situação horrorosa. Como afetou isso? Muitos investimentos nacionais e estrangeiros atraídos para o setor pelo próprio presidente Lula, pelos discursos do presidente Lula, o etanol era a menina dos olhos dele naquele processo todo, e que se endividaram atraídos por esse processo, ficaram pendurado no pincel com a redução da renda, com secas sucessivas, com a redução da Cide, que é um tributo que compensa a externalidade do etanol sobre a gasolina, com a manutenção da gasolina com preços quase que estabilizados para combater a inflação gerando prejuízo também para a Petrobras. Então, houve um desastre brutal. Hoje, já tem mais de 60 usinas paradas, das quais mais da metade estão em recuperação judicial no país, 50 mil empregos perdidos na cadeia produtiva, indústria e equipamentos para agricultura, para indústria de equipamentos, para a usina de açúcar, caldeiras, moinhos, etc. 70 mil fornecedores de cana, são produtores independentes, estão sofrendo o reflexo deste descasamento. É um desastre sem precedentes.
Quanto iria requerer por parte do governo, de esforço político e de esforço financeiro, para recuperar esse setor?
Isso pode ser feito em duas etapas, a primeira etapa é recuperar a renda do setor.
Como se faz isso?
Com a volta da Cide. Isso resolve o problema da renda, mas não resolve agora a segunda parte da sua pergunta. Não resolve retomada de investimentos, porque a dívida do setor hoje total é igual ao valor de uma safra inteira. Então, não se consegue investimento só com a retomada da renda, aí tem que ter um programa de investimentos que poderia ser centrado, por exemplo, um tema. Hoje, praticamente, 80% da safra de cana no sudeste, no centro-sul, é colhida mecanicamente, quando a cana é crua. Antigamente, o corte manual exigia a queima da cana. A cana queima. A cana cortada crua deixa no solo uma quantidade enorme de palha seca, essa palha fica ali no terreno. A palha do Estado de São Paulo e de Minas Gerais somadas queimadas em caldeiras de usina, que já estão disponíveis, representa energia igual a uma Belo Monte, sem nenhum problema ambiental, sem nenhum problema de índio, ninguém atrapalhando o processo. Então um programa de financiamento de mudanças nas caldeiras das usinas daria uma injeção de energia extraordinária, exatamente entre maio e outubro, quando as represas são mais vazias. Este ano é um caso atípico, dado a seca muito grande.
Mas para fazer isso do que depende? O governo precisa tomar uma atitude....
Tem que ter um plano de investimento. Vamos financiar via BNDES quem quiser trocar a caldeira. A proposta já está, está pronta.
O sr. acha que teria de possibilidade de adesão a esse tipo de programa para usar a palha e quanto custaria isso de financiamento para o BNDES que poderia financiar, por exemplo?
É muito difícil dizer isso para você. Por quê? Porque há usinas e usinas. Tem usinas que moem 10 milhões de toneladas e têm usinas que moem 1,5 milhão de tonelada. Então a caldeira para cada uma é diferente. Aí nisso já existem usinas com caldeiras preparadas. Tem muita gente fazendo geração de energia elétrica hoje na usina de açúcar e álcool. Então, tem que fazer um estudo mais preciso para dar uma resposta de quanto vale isso, mas mesmo isso, Fernando, é apenas um começo de conversa. É preciso olhar no longo prazo um Proer [Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional], porque tem hoje empresas que nem com a Cide, nem com investimentos em caldeira talvez não consigam sair da crise financeira que tem. Então, é preciso olhar de uma maneira muito mais abrangente com especificidade para cada região do país.
Tem um sentimento geral nos últimos 20 ou 30 anos que foi sendo construído no mundo, no Brasil inclusive, a respeito de uma animosidade entre o setor de agronegócio e o setor, vamos dizer, mais político chamado ambientalista, vamos dizer assim, se conflitam um sempre contra o outro. Em que medida, o sr. diria que no Brasil os representantes do agronegócio perderam a disputa política na narrativa com a outra ponta da discussão, os ambientalistas, e hoje são vistos às vezes como inimigos do meio ambiente e não como, eventualmente, os que ajudam a fazer com que o Brasil tenha um PIB grande e produzir riqueza?
Resposta difícil de dar em curto tempo, mas vou tentar fazê-lo. Talvez o símbolo dessa animosidade, desse confronto, seja o Código Florestal. É uma discussão de mais de 10 anos e que confluiu, numa legislação, que não era a melhor possível. Mas tem uma característica positiva, ninguém gostou, nem ambientalistas e nem agricultores, ninguém gostou.
Desagradou-se a todos?
Todo mundo ficou infeliz. Eu acho isso ótimo, porque se só um lado achasse isso bom, o outro teria sido prejudicado no processo. Como ficou equilibrado houve um arrefecimento na animosidade entre os setores. E agora, todos trabalham, ambientalistas e produtores rurais, para implementar as decisões do Código Florestal. A implementação do CAR (Cadastro Ambiental Rural) que é um avanço espetacular porque garante a legalidade de todos as fazendas brasileiras que estavam, praticamente, na ilegalidade com a legislação anterior. Agora, isso resolve o problema. E, sobretudo, um tema que para mim é fundamental, o tal do PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), que é uma mudança conceitual relevante.
Explique o que é isso.
Antes todo mundo que cometia um erro pagava multa, pesados tributos, e era jogado no inferno. Com o Código Florestal, regulamentando, que ainda está no Congresso [Nacional] para ser regulamentado, regulamentado isso os produtores que andarem bem terão prêmios, bonificações, inclusive em dinheiro, porque estarão sequestrando carbono com seus mecanismos de pagamento ambiental. Isso muda completamente o cenário, dando ao produtor rural, com uma visão ambientalista, muito mais condições de crescimento econômico e social do que no passado. Isso junta ambientalistas e produtores, porque produtores farão cada vez melhor para receberem vantagens e esse mercado, cada vez melhor, atenderá os ambientalistas. Então, isso é uma novidade fundamental. Acho que o Código Florestal é uma inflexão dessas relações. Foi muito difícil chegar ao Código Florestal, chegar a um consenso, mas esse consenso obtido criou uma nova plataforma daqui para frente. Porém, só para terminar esse raciocínio, é preciso fundamentar um outro tema. O que havia no passado, eventual desmando do produtor rural em relação à questão ambiental, se devia fundamentalmente a dois fatores. Primeiro, a ignorância, o tema não era um tema conhecido, e segundo, falta de regras, de legislação. Agora existe. Então o produtor rural hoje tem convicção de que se ele fizer bem feito, ele terá benefícios e mais do que isso, ele estará preservando o patrimônio dele que é a terra dele. Se eu não preservar o solo tem a erosão se não cuidar na beira de rio vai ter problema de desagregação. Então, ele está preservando para seus pósteros o seu patrimônio. Então ele virou um ambientalista, em geral, na imensa maioria dos produtores rurais brasileiros.
Deixa eu te perguntar. Queria alguns números gerais do setor agropecuário no Brasil hoje. Quanto ele representa na composição do PIB?
23,5 %, do PIB.
Exportações, o que representa?
Exportações. Número do ano passado. O ano passado o saldo comercial do agronegócio brasileiro foi de US$ 83 bilhões e o saldo comercial no Brasil foi de US$ 2,6 milhões, incluindo o agronegócio, porque, os demais setores, tiveram déficits de US$ 80 bilhões. Foi assim no ano anterior, nos últimos 10 ou 15 ou 20 anos o saldo do agro é sistematicamente positivo e crescente o que tem garantindo o saldo comercial do país de maneira geral e por via de consequência a preservação das reservas cambiais. Então é um negócio impressionante, com outro número. Em 2003, 10 anos atrás, o agronegócio exportou US$ 30 bilhões. Dez anos depois, 2013, ano passado, US$ 100 bilhões, três vezes e meio a mais num período sobre o qual metade foi vivida dentro da maior crise financeira dos últimos 50 anos no mundo. Em que o comércio mundial refluiu e o agronegócio triplicou as suas vendas. Então é muito competitivo.
O que o agronegócio deveria fazer para que a sua imagem perante a sociedade melhorasse em contraposição às críticas que sempre recebem o setor ambientalista?
Em primeiro lugar, eu acho que as críticas estão diminuindo por causa do tema já referindo. Em segundo lugar, a imagem vem melhorando muito, Fernando, vem melhorando muito. E eu acho que aqui tem um tema fundamental, tudo é comunicação, se você não comunica a verdade você vai sempre vai ter sempre uma impressão, uma informação inadequada. Eu penso que a mídia brasileira nesse aspecto mudou de posição. Esses números todos, o agronegócio gera 30% dos empregos do país, saldo comercial, participação no PIB, o PIB do agronegócio, que é 23%, mas a influência dele sobre o PIB nacional é muito maior, porque, por exemplo, bancos, seguradoras, fábrica de geladeira, fábrica de micro-ondas, isso acaba tendo uma vinculação com o agronegócio, embora não seja agronegócio. Fábrica de prato, de talher, tudo isso tem ligação com o agronegócio. Outras coisas são direto, meu sapato e seu sapato são subproduto do churrasco, você come picanha e o couro vai para o sapato, o cinto, bolsa, etc. A tua gravata e a minha, eu suponho que sejam de seda, seda não nasce numa loja de tecido, tem que plantar a amora, colher a folha da amora, dar para a lagartinha feia que se chama bicho da seda comer, ela vira borboleta, casa com outra borboleta, faz o ninho que se chama casulo para botar um novo ovo, aí vai o sujeito lá, tira o casulo e faz gravata, corpete, combinação, coisa dessa natureza maravilhosa. Então, tudo é agronegócio, papel não nasce em resma, papel é árvore. Então, tudo é agronegócio. Eu acho. Calça jeans, não tem sem algodão, e para ter calça jeans e ter algodão tem que ter semente de algodão, adubo para algodão, defensivo para algodão, trator para algodão. Para ter trator tem que ter aço, tem que ter ferro. Então toda essa gigantesca integração na cadeia produtiva é sustentada por quem? Pelo algodão, pelo produtor de algodão. Eu penso que hoje o conceito de agronegócio é generalizado e o conhecimento sobre a importância do agronegócio é conhecida, porque a mídia tratou disso com muito mais nobreza, muito mais respeito. De modo que eu acho que tudo é isto, é imagem, é comunicação e eu penso que a mídia vem criando uma nova visão do agronegócio brasileiro. O que acabou, inclusive, percolando para a eleição desse ano, porque todos os candidatos estão interessados nesse assunto.
Já vou entrar nisso. Antes, sobre um desafio aí para o setor. O Cadastro Ambiental Rural [CAR]. O prazo estipulado é que em maio de 2015 os produtores estejam prontos para preencher o cadastro. Esse prazo é exequível?
Difícil.
O tem que ser feito então?
Tem que treinar gente para fazer isso. Eu defendo, por exemplo, a tese de que o sistema cooperativista devia se responsabilizar por isso num convênio qualquer com o Ministério do Meio Ambiente, mas formando gente porque tem que treinar gente para fazer isso, não é uma coisa trivial resolver isso aí. São 5 milhões de propriedades no Brasil para fazer isso aí e algumas não têm acesso. Então, é um processo complexo para resolver. Tem que ter inclusive...
Um georreferenciamento?
Que é outro pedaço.
O cadastro, só para esclarecer, é um processo no qual todas as propriedades no Brasil, propriedades rurais, terão que ser cadastradas, mapeadas e georreferenciadas?
E dizendo quanto de floresta tem, de reserva nativa tem, de reserva natural tem, de APP [Área de Preservação Permanente] tem. Então tem toda definição ambiental, o que dará uma segurança institucional ao agro brasileiro.
Quanto tempo o sr. acha que vai ser necessário para que isso esteja preenchido?
Difícil dizer, Fernando. Difícil dizer. Mas eu acho que se houvesse um esforço concentrado numa PPP, numa Parceria Público-Privada, eu acredito que em um ano e meio, dois anos, a gente dê um grande salto. Inclusive pode ficar um pedacinho sem fazer, mas será um pedaço pequeno.
Tem muitas barreiras internacionais ao agronegócio no Brasil, como tem para vários países, não é só para o Brasil. O que o governo brasileiro fez ou pode fazer para que essas barreiras sejam transpostas?
Talvez as barreiras mais complexas estejam dentro do país.
Por exemplo?
É o custo do Brasil, não é? Logística. Logística é um tema central. Um saco de soja no Mato Grosso custa tanto quanto transportá-lo para o porto de Santos ou de Paranaguá. Mas isso, evidentemente, tira a competitividade de nós. Então o problema central, logística. Segundo problema, política de renda. Qualquer país do mundo desenvolvido com agricultura importante tem política de renda muito clara, seguro rural que garante rendimento ao produtor, independente de preço de mercado ou de condição de clima. E por que isso é relevante lá fora? Porque os governos de países desenvolvidos entendem que o produtor tem que produzir para garantir o abastecimento interno e para exportar, ajudando o saldo comercial dos países. Então, a estabilidade de renda do produtor rural nos países desenvolvidos é uma regra que a sociedade deseja, porque é um benefício para ela. E aqui esse negócio não funciona ainda, o crédito rural é uma lei de [19]65. Então embora haja esforços sucessivos de governos sucessivos para melhorar isso, o atual ministro da Agricultura, por exemplo, faz um esforço louco para melhorar o seguro rural, nós temos hoje menos de 10% da área brasileira coberta por seguro rural, que é uma coisa muito pequena, uma ninharia. Estrutura logística, política de renda, política comercial. Hoje 40% do comércio mundial de alimentos se dão no âmbito de acordos bilaterais entre países. Dois países fazem acordo bilateral para quê? Para aumentar o comércio entre eles, e com isso aumentar a riqueza, emprego e renda.
A propósito, o Mercosul mais ajuda ou atrapalha o agronegócio no Brasil?
Atrapalha. Por exemplo...
Por quê?
Porque o Brasil é 70% do agronegócio do Mercosul. Um acordo do Mercosul com a União Europeia seria fundamental para o Brasil e para o Mercosul. Nós não conseguimos fazer porque a Argentina não deixa. Então nós temos que ter uma posição diferente. Claro que o Mercosul tem uma importância política fundamental para o mundo contemporâneo e para o Brasil também, mas ela não pode perturbar avanços comerciais que o Brasil pode ter. Então temos que ter acordos bilaterais, avançar em novos mercados, agregar valor ao produto agrícola. Então são três temas fundamentais: logística, preço comercial, política de renda. E tem um monte de outras coisas que, talvez, tudo se traduza numa única palavra, ou numa palavra dupla, estratégia articulada. Nós não podemos ter um... No mundo inteiro, Ministério da Agricultura se chama Ministério da Agricultura, Floresta e Pesca. Nós temos dois Ministérios da Agricultura, o MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário] e o Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento], um de Floresta, um de Meio Ambiente e um de Pesca. São quatro ministros disputando o mesmo espaço, o mesmo prestígio na mídia, o mesmo prestígio junto ao presidente da República, ao parlamento. Portanto há uma dispersão de recursos, e às vezes até de interesse, que podem ser conflitantes. Então, harmonizar isto é fundamental.
O sr. acha que um só bastaria?
Sim. Com políticas diferentes para casa segmento. Agora...
Mas com comando único de um ministro?
É. Porém, a essência disso é que a estratégia seja do Estado brasileiro. Nem do governo, do Estado brasileiro. Claro que o presidente da República tem que ter uma estratégia pro agro dele, não é? De forma que o ministro seja o gestor desse estratégia. Por que isso é relevante? Porque o Ministério da Agricultura, por exemplo, é bem administrado hoje em dia e tem técnicos da melhor competência. Então, a política agrícola está pronta no Ministério da Agricultura. Qual é o problema? Logística. Quem cuida? O Ministério dos Transportes, em termos de portos. Comércio? O Itamaraty, Ministério da Indústria e do Comércio Exterior. Meio Ambiente? Ministério do Meio Ambiente. Agroenergia? Ministério de Minas e Energia, Petrobras, ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis]. A questão sanitária? Anvisa, Ibama. A questão dos Índios? A Funai. A questão dos orçamentos? Ministério do Orçamento, Ministério do Planejamento. O problema tecnológico? Ministério da Ciência e Tecnologia. Então, os instrumentos para estratégia estão dispersos entre ministérios, agências e empresas do governo, que se não houver estratégia una nunca teremos uma agricultura crescente no país.
Como é que o sr. compara a gestão do setor, o Ministério da Agricultura, na atual administração federal da presidente Dilma Rousseff à gestão da administração do ex-presidente Lula?
Me sinto constrangido sobre uma comparação dessa. Acho que até por questões éticas eu não deveria fazer essa comparação, mas o que se reclama é que houve uma espécie de partidarização do Ministério da Agricultura com todas as suas instituições e isso criou uma certa barreira entre o setor e entre eles o Ministério da Agricultura. Que não existe mais hoje, faço questão de frisar isso, porque o atual ministro é um homem do setor, conhece o assunto, inclusive montou um plano de safra para esse ano que é muito bom do ponto de vista de orçamento, recurso para o crédito rural, financiamento para armazenagem. Então, tem uma nova visão, mas foram três anos com dificuldades nessa direção. Sem falar na agroenergia, que perdeu completamente a interlocução com o governo.
Temos três candidatos mais competitivos que disputam a Presidência da República. A própria presidente Dilma Rousseff, do PT, a candidata do PSB, Marina Silva, que substitui o Eduardo Campos, e Aécio Neves, candidato pelo PSDB. O sr. conhece as propostas, em linhas gerais, de cada um deles para o agronegócio. Qual é o juízo que o sr. faz para cada um dos três a respeito do setor?
Em primeiro lugar deixa eu fazer aqui... Ratificar uma coisa que eu disse há minutos atrás. Eu tenho 50 anos de vida na agricultura sempre em órgãos de classe na agricultura. Em eleições nesses 50 anos sempre o setor se organizou e levou aos candidatos propostas e planos de ação. Nunca houve a menor reação em relação a isso. Esta eleição, e eu suponho por causa do que eu disse antes, a mídia levou a informação ao setor urbano, que é majoritário do ponto de vista eleitoral, tem mais votos do que no setor rural. Então os três candidatos que você se referiu procuraram o setor rural, lideranças, instituições, em busca de sugestões para um plano de governo. Então, nós acabamos gerando, organizei um grupo de técnicos na Academia da Agricultura que eu presido, mais a GV [Fundação Getúlio Vargas], mais a Abag [Associação Brasileiro do Agronegócio] e montamos uma plano de governo com base em 5 temas: sustentabilidade, competividade, segurança jurídica, governança e orientação a mercados, que deram 70 e tantos temas. Isso foi enviado no final de maio a todas as entidades de classe do agro brasileiro, que responderam com sugestões, propostas, gerando um segundo draft, que foi discutido na Getúlio Vargas, no dia 15 de julho, com a maior parte de entidades do agro brasileiro, gerando um terceiro e último documento que foi enviado aos três candidatos. Então eles responderam a isso. Aécio Neves e Eduardo Campos muito próximos do que nós pretendíamos, muito perto do que nós pretendíamos. A presidente Dilma por sua vez, aproximou-se muito da presidente da CNA [Confederação Nacional da Agricultura], nossa maior líder, senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que é a maior líder rural brasileira, e o programa foi costurado entre ambas também com aproximação muito grande dos interesses do setor. Então eu diria que os três candidatos, Aécio, Eduardo e Dilma estavam muito próximos dos sonhos da agricultura, na direção da tal estratégia com o Ministério da Agricultura mais fortalecido com gente, como o atual ministro, competente no setor. A tragédia de Eduardo Campos mudou um pouco o cenário, e a candidata Marina Silva introduziu no programa alguns temas que não são tão, digamos assim, afeitos aos interesses do setor.
Quais são eles?
Dois temas centrais. Primeiro ela ressuscitou o tema do índice de produtividade como instrumento de medir a capacidade do produtor de produzir adequadamente num nível que atenda à determinação constitucional, segundo a qual, toda propriedade rural tem que cumprir a sua função social, produzir, gerar emprego, proteger o meio ambiente. Então, quem não cumprisse isso ficaria sujeito a desapropriação. Esse é um item. E o outro item é o item do desmatamento zero, que eu acho que é um pouco utópico. Nós, o mundo terá 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, e vamos precisar comer. 80% do crescimento da produção virá de produtividade, mas 20% virão de novas áreas no Brasil e outros países do mundo e o Brasil é que tem hoje 61% do território, 61% do território, com florestas nativas do tempo de Adão e Eva. Então, abrir algum cerrado será necessário. Porém, a minha tese é desmatamento ilegal zero. Ou faz com legalidade, com autorização do Ibama, do Meio Ambiente, com beneplácito de todos os órgão competentes ou não pode fazer, mas desmatamento zero eu acho que é um exagero.
O sr. conversou com o candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, que vem a ser o deputado federal Beto Albuquerque, do PSB, do Rio Grande do Sul. O sr. discutiu esses temas com ele? O que ele disse para o sr.?
Discuti esses temas e mais alguns. Ele foi muito enfático.
Por exemplo, desmatamento zero. O que ele fala que será de fato o programa num eventual governo Marina Silva?
Ele concorda que o tema deve ser trabalhado na linha da legalidade.
Ou seja?
O que for legal, o que for desmatamento autorizado legal, tudo bem. Foi ilegal, sem contemplação. O que eu concordo plenamente.
Ele disse que essa deve ser a linha de um eventual governo Marina.
“Concordo com a sua tese”. Quanto ao...
Produtividade.
...produtividade. Ele foi ainda mais enfático. Ele disse que houve uma má interpretação desse tema. O que ele disse que é o pensamento da Marina, e sobretudo dele e era do Eduardo, é que o índice de produtividade tem que ser usado como uma medição da competência dos produtores.
Como assim?
Aquele que for mais produtivo terá prêmios, em vez de castigo porque foi menos produtivo. De modo a estimular os que têm menos produtividade a serem também premiados no futuro. Então, o índice de produtividade terá um bônus e não um ônus para o produtor. Essa é a visão que ele me transmitiu claramente.
Algum outro aspecto que ele esclareceu para o sr. que tenha dúvida a respeito do programa de Marina Silva que mereça ser mencionado?
Não em relação ao programa, mas a uma visão dele e de Marina é de que o Ministério da Agricultura teria a mesma visão colocada por Aécio Neves. Será um ministério fortalecido perante o conjunto dos ministérios, com ministro com meritocracia, que conhecesse o assunto, e que tivesse o respaldo da categoria, produtores rurais. Então são três pontos muito interessantes que mudam, digamos assim, a tática do programa da Marina.
O sr. deu uma declaração pessoal a respeito da sucessão presidencial, dizendo que particularmente deve optar pelo voto em Aécio Neves no primeiro turno. Tudo indica, entretanto, nas pesquisas, que o segundo turno possa ser apenas entre Dilma Rousseff e Marina Silva. Num eventual segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva, que dúvidas vão permanecer e que tipo de debate vai ter que acontecer a respeito do agronegócio entre ambas?
Essa é uma questão muito complexa. Eu diria até, Fernando, que ainda no primeiro turno essa questão está ainda indefinida. Por quê? Porque Dilma Rousseff é respeitada pela CNA, tem o apoio da senadora Kátia Abreu, que consta que seria a ministra da Agricultura do segundo mandato da Dilma, que seria ótimo para nós, Kátia Abreu sabe tudo e há muita esperança de que ela resolva muitos problemas, mas ela é muito benquista na fronteira agrícola, onde a logística e o crédito são fundamentais, e o plano de safra é muito bom nesse aspecto. Ela é muito querida na fronteira, Mato Grosso, Tocantins, regiões de fronteira, Pará, etc. Marina Silva é muito benquista no setor sucroenergético porque o etanol emite só 11% do que a gasolina emite, gera emprego, riqueza, que está muito de acordo com a visão de Marina e ela já disse isso claramente. Resgatará a agroenergia.
E isso no Sudeste?
Sudeste, uma parte do Centro-Oeste também. E o Aécio tem o apoio numa região desenvolvida de Paraná, São Paulo, Minas Gerais, então o setor está dividido em relação até ao primeiro turno.
O sr. particularmente confirma, o sr. num momento vê mais clareza em Aécio Neves, do seu ponto de vista?
Por uma razão clara. Porque a melhor proposta, a melhor resposta dada ao nosso plano, oferecido aos três candidatos, foi dada por ele. Eduardo Campos, quase idêntico, Marina teve esse adicional de periculosidade a que me referi já. Mas respondendo à sua pergunta, na hipótese de Marina e Dilma irem para segundo turno eu acho que será necessário esclarecer pontos que hoje não estão ainda suficientemente claros.
Esses que o sr. mencionou, que Beto Albuquerque mencionou, por exemplo?
Isso. Por exemplo. Dilma terá que dizer o que ela pretende em relação à agroenergia. Qual é a matriz energética para o país? Ela que é especialista em energia. Qual é o papel da Petrobras? Qual é o papel da agroenergia? Qual é o papel do etanol na agroenergia? Qual é o mecanismo para a recuperação nesse setor que gera um milhão de empregos só em São Paulo? Então é preciso que ambas se debrucem sobre o agronegócio com mais especificidade e com mais respostas às perguntas colocadas.
O sr. acredita que, dado o histórico de Marina Silva durante período em que ela foi ministra, inclusive na mesma época que o sr. foi ministro da Agricultura ela foi ministra do Meio Ambiente, havia muito debate ali, muita fricção entre essas áreas. O sr. acredita que Marina Silva com um discurso parecido com esse que o sr. ouviu de Beto Albuquerque consiga debelar a resistência que existe em relação a ela?
É difícil responder isso, Fernando. Marina, houve um período, no qual você se referiu, na discussão, por exemplo, sobre a transgenia, começo do governo Lula, mais tarde no Código Florestal que ela teve posições muito duras contra o agronegócio como consequência do que ela queria, do que ela propunha. Isso gerou uma desconfiança muito grande em relação a ela. A questão do desmatamento também gerou algumas áreas de grande atrito, Mato Grosso, governador do Estado foi chamado de motoserra de ouro por ela. Então, ela gerou uma área de desconfiança e de rejeição muito grande. Hoje converso com ela e a vejo muito mais flexível e disposta ao diálogo e as pessoas dizem “mas claro, está na campanha eleitoral”, então eu acredito que para o segundo turno ela precisa ter muita sensibilidade e clareza para eventualmente retomar a confiança do setor.
Agora eu enxergo também, falando com empresários do setor, políticos ligados ao setor, que a presidente Dilma Rousseff também não é uma campeã de popularidade no setor.
Não é.
Então teremos duas candidatas, se o segundo turno for entre as duas, que enfrentam resistências do setor?
Razão pela qual acabo de dizer que ambas têm que olhar para o setor com especificidades. Olha, no assunto tal minha posição é X. No assunto tal, minha posição é Y. Para que haja uma posição muito definida e o setor possa também se posicionar também com mais clareza.
Por exemplo, no caso de Marina Silva se ela assume um discurso público falando sobre o desmatamento zero ilegal?
Desmancha qualquer resistência a ela nessa área.
Índice de produtividade como um fator de incentivo a que os produtores tenham um bom índice e não apenas como fator para punição para os que não tiverem?
Ótimo, mas o que está escrito no programa não é isso. Então tem que reescrever o programa.
Entendi. Agora, nessa eventualidade de ambas fazerem, não sei, vou usar a palavra concessão, eles vão dizer que não estão fazendo concessão nunca porque são políticas, mas, enfim, de calibrarem o discurso. Quem que o sr. acha que tem mais músculo eleitoral para convencer o setor no segundo turno?
Aí eu me socorro de Niels Bohr [1885-1962], que era um famoso economista nórdico, que dizia “a coisa mais difícil é fazer previsões, especialmente quanto ao futuro”. Então... [risos]. E eu, Fernando, não entendo nada de política. Eu entendo de agricultura, de política eu não entendo nada. Eu consegui chegar até aqui foi nas suas perguntas com base na minha quilometragem, mas eu sou jejuno em política, eu não entendo nada em política, então eu acho que essa resposta é totalmente impossível de ser dada agora.
Uma das propagandas recentes na televisão, na campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff, fala que se eleita Marina Silva reduzirá os subsídios dados pelos bancos públicos e que isso afetará vários programas, inclusive o agronegócio. O sr. acredito que isso é uma inferência correta?
Na verdade, os subsídios que existem para o agronegócio são muito pequenos. E se houve alguns subsídios para agricultura familiar que têm que ser mantidos. Com a economia globalizada avançando planetariamente, há uma regra muito clara na agricultura, a margem por unidade de produto é cada vez menor. Por outro lado, há uma concentração a montante da agricultura. Consumidores de insumos, equipamentos e etc. Estão à jusante na indústria de transformação. Então, o agricultor brasileiro é um tomador de preço, ele não forma preço. Ele compra o insumo pelo preço que ele é vendido e vende a sua produção pelo preço que ele é pago, então ele não é tomador de preço. E com isso as margens também encolhem o setor rural brasileiro e o pequeno produtor, de modo que a única forma de avançar é na escala, e o pequeno produtor por definição não tem escala. Então é preciso ter uma política para eles específica para que ele tenha escala no conjunto via, por exemplo, cooperativas, associações de classe que até agreguem valor à sua atividade produtiva. Então, eu não acho que o subsídios do Brasil, aliás eu acho não, é um estudo feito pela OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] que mostra dois países do mundo com menos subsídio que o Brasil, a Austrália e a Nova Zelândia, nós estamos muito baixo nos subsídios. Então, não vejo muito o que pode ser sacado do subsídio, e se houver alguma redução da proteção ao pequeno produtor o desastre será muito mais importante do que a manutenção de eventuais proteções.
Falando sobre o próximo governo, o sr. acha fundamental, portanto, que o Ministério da Agricultura consiga agregar essas quatro áreas hoje, que são quatro ministérios, e que tenha um poder político emanado diretamente do presidente e que tenha um poder robustecido em relação ao que tem sido hoje. O sr. acha que isso não aconteceu nos últimos tempos?
Eu inverto a equação que você apresentou. O ministro é importante, mas mais importante é a estratégia ser do presidente da República, ele ser o condutor da estratégia. E aí o ministro, qualquer que seja ele, desde que haja mérito na sua escolha, será um bom gestor. O que não pode ter é o ministro das Relações Exteriores ter uma posição na OMC [Organização Mundial do Comércio] diferente dos interesses da agricultura, que difere da agroenergia, porque o interesse é mais ligada à área de combustível fósseis, tem que ter uma estratégia que articule tudo.
Estou entendendo aqui que o sr. não está descartando de pronto nenhuma das duas candidatas no segundo turno, enfim, as duas podem, eventualmente, conquistar uma simpatia do setor. Agora, o sr. particularmente acha realmente, o sr. conhece Marina Silva, foi ministro junto com ela, você acha que ela consegue dar esses passos para tentar conquistar o setor?
Como disse há alguns minutos atrás, eu tenho conversado com ela mais recentemente e sinto nela uma disposição ao diálogo muito maior do que havia no passado, muito maior. As pessoas aprendem mais, acabam se envolvendo com discussões diferentes daquilo que acreditavam e isso é possível. Todo mundo vai para frente. Eu acho que ela está hoje muito mais flexível, muito mais disposta ao diálogo do que estava no passado e isso, como consequência, além do contato muito estreito que ela tinha com Eduardo Campos que era um homem com uma visão abrangente dessas questões muito disposto, o próprio Beto Albuquerque, é um homem, um gaúcho, e gaúcho nem que seja da agricultura entende da agricultura, o Estado é eminentemente agrícola, não é a toa que tem muita informação sobre agricultura brasileira. Eu acho que há espaço tanto para ela ampliar sua visão em relação ao agronegócio, quanto de Dilma Rousseff de compreender que é preciso dar um novo tratamento, seja para agroenergia, seja para regiões do país que não sejam só fronteira agrícola.
Ou seja, o sr. que deve ser eleitor de Aécio Neves no primeiro turno, no segundo turno considera viável votar tanto em Marina quanto Dilma dependendo do que cada uma, enfim, calibre do seu discurso, é isso?
Eu gostaria muito de votar no segundo turno no Aécio Neves.
Mas ele não estando, aí terá que escolher entre as duas?
É um hipótese a ser considerada oportunamente.
Os passos dados por Beto Albuquerque ajudaram até agora?
Sem dúvida. Até agora tem desanuviado ambientes, mas acho que é importante que a candidata diga o que Beto está dizendo.
Diga de maneira clara, publicamente?
O que ele está dizendo.
Desmatamento zero só no caso ilegal, índice de produtividade para...
Com setor produtivo positivo, valorização do produtor.
Entendi.
Ministério forte.
Muito bem. Roberto Rodrigues é da GV Agro, que foi ministro do governo Lula, o sr. imaginava, quando o sr. foi ministro lá atrás, que em 2014 poderia votar até em Marina Silva para presidente?
[risos]. Que pergunta capciosa. Tem tanta coisa que eu nunca imaginava há 10 anos atrás, tanta coisa que não imaginava há 10 anos atrás, que é preciso fazer uma seleção dessas perguntas todas.
Quando o sr. foi ministro, o sr. foi ministro 3 anos e meio aproximadamente...
Exatamente, 3 anos e meio.
O sr. saiu um pouco decepcionado do governo? Como é que foi esse período que o sr. foi ministro? O sr. traz boas lembranças e também deve trazer algumas não tão boas, quais são elas?
As boas lembranças estão no fato de ter conseguido fazer 50% do que eu queria.
E as más?
E as más, não ter feito os outros 50%.
Onde que o presidente Lula à época se encaixa nisso?
Era um homem, ele é um homem interessantíssimo. Um homem com uma inteligência fulgurante, um bom senso impressionante e uma agilidade mental fantástica. Então, você levava temas que não eram de conhecimento dele ou sobre os quais ele tinha uma posição contrária à minha, mas ele era absolutamente sensível à argumentação, à demonstração do que é verdadeiro no processo, ele compreendia e mudava de posição. Então ele tem essa capacidade de mudar de posição.
O sr. tem falado com ele ultimamente?
Algumas vezes. Poucas, mas algumas vezes.
O que ele fala da sucessão presidencial para o sr.?
Para mim ele não fala nada não, ele sabe que eu não entendo de política então não fala nada.
Ele não pede “ajude a Dilma na eleição”?
Eu disse para ele que votaria no Aécio Neves.
Como ele reagiu?
Com uma simpatia enorme. Porque ele é um homem simpático, de bom senso, democrata. Ele é um democrata por definição.
Ele comentou sobre a chegada de Marina Silva ao processo com o sr.?
Ligeiramente, ligeiramente. Não vai ser nenhuma... Ele sabe que eu não entendo de política e que não gosto desse negócio. Houve um tempo em que ele gostaria que eu entrasse em um partido político depois ele mesmo compreendeu que eu não tinha capacidade para fazer isso e me liberou desse processo. Então ele não trata de política ambiental, trata de agricultura comigo.
E o sr. aqui em São Paulo tem alguma posição formada sobre a sucessão para o governo de São Paulo?
Eu sou muito amigo do Geraldo Alckmin, há muitos anos. Geraldo foi deputado federal constituinte quando era presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), e montei uma frente parlamentar do cooperativismo e uma frente parlamentar da agricultura, eu presidia na época também a frente ampla da agropecuária brasileira. Então tinha um contato muito estreito com o Congresso. Tinha gente que achava que eu era deputado, tanto que eu vivia no Congresso, a sede era lá em Brasília, e o Geraldo teve um papel relevante, ele e outro deputado paulista, Mendes Thame, foram deputados muito atuantes na frente parlamentar do cooperativismo e da agricultura. Então eu sou amigo do Geraldo há 20 e tantos anos. Além do que, ele tinha um tio que foi presidente da OCB que eu presidi na época, ele é um homem do interior.
Ou seja, portanto em São Paulo o sr. deve votar em Geraldo Alckmin?
Eu tenho uma vinculação com ele. E sou amigo do Paulo Skaf, porque presidi a pedido dele o conselho do agronegócio da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], que ele criou e eu fui, digamos assim, o implantador do processo. Então eu tenho uma relação muito boa com ambos.
Mas deve votar?
No Geraldo, provavelmente.
Muito bem. Roberto Rodrigues muito obrigado por sua entrevista à Folha de S. Paulo e ao UOL.
Eu que agradeço pela oportunidade.
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