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Aécio tem problemas para ser líder nacional, diz historiador Boris Fausto

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

25/08/2015 00h41

O influente historiador e professor da USP (Universidade de São Paulo) Boris Fausto afirmou nesta segunda-feira (24) que vê dificuldades no ex-candidato à Presidência e hoje senador Aécio Neves (PSDB-MG) para se tornar uma liderança nacional. "Esse é o grande problema do PSDB, não houve uma renovação das lideranças partidárias", complementou. A declaração foi feita em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura,

Desde o final das eleições de 2014, na qual foi derrotado pela presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) por uma diferença mínima de votos, Aécio vem se destacando como uma das vozes mais ferrenhas na oposição ao governo petista. No entanto, no entender do historiador, as grandes lideranças tucanas ou já morreram ou não conseguiram formar sucessores.

"Montoro, Covas, Fernando Henrique não encontraram substitutos à altura", disse Fausto, ao reafirmar, porém, que votou no mineiro nas últimas eleições. "Não quer dizer que o partido não tenha tido sempre votações consistentes. Um setor importante da opinião pública queria que o PSDB fosse o partido de oposição que não consegui ser".

1992 x 2015

Boris Fausto voltou a comentar a comparação entre o impeachment de Fernando Collor em 1992 e a atual possibilidade de Dilma também deixar a presidência antes do final de seu mandato. Em julho, ele havia dito que "há mais razões técnicas hoje para o impeachment de Dilma do que havia no caso de Collor".

"Collor era um 'outsider' na vida política, vinha de Alagoas e atropelou o Congresso de uma forma que a Dilma tem mais cuidado. O fato é que Collor ficou muito sozinho e julgou mal a possibilidade de sua queda", analisou.

Autor de livros como "A Revolução de 1930 – Historiografia e História" e "História do Brasil e História Concisa do Brasil", Fausto respondeu a uma comparação entre Lula e Getúlio Vargas. "Ele [Getúlio] foi um estadista, ainda que tenha sido responsável pelas barbaridades do Estado Novo, enquanto Lula não é. Do ponto de vista da corrupção, o 'mar de lama' atribuído a Getúlio não se compara, hoje temos uma corrupção muito maior".

O professor também não poupou críticas ao papel das religiões organizadas na política. "Isso é uma ameaça, na minha opinião. O Brasil se define na Constituição como um Estado laico. Vejo a formação de correntes pentecostais com uma história muito duvidosa na legitimidade de suas ações. Vinculam esse fundamentalismo a pontos de vista retrógrados na vida comportamental e a dominação do eleitor é quase absoluta, fazendo com que ele vote de acordo com os fundamentos do pastor de sua igreja".

Ao final, Fausto discutiu sobre a forma como o país trata o período da ditadura militar. "O caso da repressão no Brasil é muito peculiar na América Latina. A ditadura nunca foi um elemento tão forte de reflexão no Brasil. Nunca se tomou como um grande tema nacional para ser exposto, com busca por desaparecidos e punição de culpados. Claro que houve algumas coisas, mas tudo isso foi muito fraco em relação a outros países. Acho que o momento passou".