Veja as respostas de Jucá sobre áudios que citam STF, Aécio e Eduardo Cunha
Ao longo de 49 minutos, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, tentou explicar detalhes da conversa que ele manteve o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e que foi divulgada por uma reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" nesta segunda-feira (23).
A conversa foi interpretada como uma tentativa de interferir na Operação Lava Jato, na qual Jucá é investigado. Veja as explicações que Jucá deu para os pontos mais polêmicos da conversa.
“Estancar a sangria” e “delimitar” a Lava Jato
De acordo com a reportagem, Sérgio Machado diz estar preocupado com o avanço da Operação Lava Jato em sua direção. “O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho”, disse Machado.
Jucá, então responde que a saída para “estancar a sangria” seria a mudança do governo. “Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”, disse Jucá.
Em entrevista coletiva, Jucá afirmou que a “sangria” à qual se referia na conversa não seria a “paralisação da Operação Lava Jato”.
“Evitar a sangria é evitar o desemprego, fechamento de empresas, a falta de credibilidade e o sofrimento da sociedade brasileira. Sangria não é a questão da Lava Jato. Não há o que fazer mais. Ninguém em sã consciência pode entender que há uma forma de barrar a Lava Jato”, afirmou Jucá aos jornalistas.
“O que tenho dito é que é muito importante estancar a paralisia, estancar a sangria da economia e do desemprego e delimitar quem tem culpa e quem não tem culpa. Hoje há uma generalização que não é boa para a resolução da crise brasileira”, complementou.
A íntegra dos áudios divulgados pelo jornal “Folha de S. Paulo”, porém, mostra que, ao contrário do que Jucá disse durante a entrevista coletiva, na conversa com Sérgio Machado não há menção à crise econômica quando ele fala em “estancar a sangria”.
Sobre “delimitar” a Lava Jato, Jucá voltou a afirmar que a declaração não se tratava de uma indicação para “paralisar” a operação.
“Para mim, delimitar as responsabilidades é dividir quem tem culpa de quem não tem culpa. Delimitar as responsabilidades não é paralisar a investigação.”
Conversa com ministros do Supremo Tribunal Federal
Em outro ponto da conversa, Jucá disse a Sérgio Machado, que também é investigado pela Operação Lava Jato, que havia conversado com ministros do STF. “Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu?”, afirmou Jucá.
Durante a entrevista coletiva, Romero Jucá negou que tenha mantido audiências com ministros do STF para tratar da Operação Lava Jato.
“Não tive nenhuma audiência com ministro do Supremo para tratar da Operação Lava Jato. Quando eu encontro ministros em eventos sociais, eu digo que é importante que o Supremo possa julgar logo os parlamentares”, afirmou. “Nunca tratei com ninguém, nem no STF e nem no MPF para tentar interferir em qualquer investigação ou qualquer resultado dela”, completou o ministro.
Trecho sobre Eduardo Cunha "morto"
Em outro ponto da conversa divulgada, Romero Jucá revela impaciência com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que, segundo ele, seria contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) por temer a influência do presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra”, disse Jucá na gravação.
Em entrevista coletiva, Jucá justificou a afirmação dizendo que a declaração levava em conta a situação política de Eduardo Cunha.
“Eu disse que nessa disputa com Renan, o Eduardo Cunha não tem condições de interferir junto ao Renan. Havia um desconforto no Senado achando que resolver a questão (o afastamento de Dilma) na opção Michel, daria o controle do governo a Eduardo Cunha e não é verdade. Eu estava explicitando essa questão”, afirmou. “Eu acredito que ele está numa situação difícil. Ele está numa situação complicada e tem que se explicar no Supremo”, finalizou.
O “esquema” de Aécio Neves
Revelando preocupação com o destino da classe política, Sérgio Machado disse que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato à Presidência em 2014, não se beneficiaria com o agravamento da crise política.
“É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...”, disse Machado. Jucá, então, responde. “Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não, disse.
Nas gravações, Machado fala sobre um suposto “esquema” envolvendo Aécio, dando a entender que Jucá tinha conhecimento do que se tratava.
“O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...”, disse Machado.
Jucá, por sua vez, responde. “É, a gente viveu tudo”, disse.
Questionado sobre o que seria o “esquema” de Aécio, Jucá disse que a conversa se referia à “costura política” da qual ele fez parte para eleger Aécio Neves como presidente da Câmara, em 2001.
“E ele (Machado) disse: ‘Você se lembra quando a gente ajudou o Aécio na eleição?’. Ele (Machado) disse: ‘Nós ajudamos o Aécio pra eleger o presidente da Câmara porque fizemos acordo na Câmara’. A gente realmente teve uma costura política grande, mas nós conseguimos, eu era vice-líder do PSDB também. Esse foi o contexto dessa conversa”, afirmou Jucá aos repórteres.
Explicações sobre o que seria o "boi de piranha"
Em outro ponto da conversa, Sérgio Machado continua a revelar impaciência em relação a Renan Calheiros e diz que ele não entendia que uma “sobrevida” de Cunha daria a Renan mais tempo. “Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não”, afirmou Machado nas gravações.
Jucá, então, responde. “Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem”, afirmou.
“Boi de piranha” é uma expressão originada na prática de vaqueiros do interior do país. Para que uma boiada inteira possa passar ilesa por um lago ou rio repleto de piranhas, um animal é colocado para ir na frente e atrair a atenção dos predadores. Assim, o restante da boiada consegue chegar “do outro lado da margem”.
Questionado sobre o que quis dizer ao usar o termo “boi de piranha”, Jucá deu uma explicação diversa do sentido da expressão.
“Pegar o boi de piranha é pegar quem tem culpa no cartório e resolver. Nós temos que julgar. O Supremo tem que julgar os parlamentares que estão indiciados. Quem está investigado e não tem nenhuma, precisa ou ser requerido ou ser representado a alguma coisa. 'Boi de piranha' é alguém que vai pagar o preço, quem tem culpa. Não se pode pegar toda a classe política e comprometer por quem tem culpa”, afirmou.
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