PF prende Garotinho, ex-governador do Rio, por suspeita de comprar votos
A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (16) o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR). A ordem de prisão foi decretada pelo juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da 100ª Zona Eleitoral, em Campos dos Goytacazes (RJ), que investiga um esquema de compra de votos na cidade. A prisão foi pedida pelo Ministério Público Eleitoral. Em nota, a defesa de Garotinho classificou a prisão de "arbitrária e ilegal".
Garotinho, que foi governador do Estado entre 1999 e 2002 e deputado federal (exerceu mandato até 2015), ocupa atualmente o cargo de secretário municipal de Segurança em Campos, onde sua mulher é prefeita. Contra ele, a PF cumpriu ainda mandado de busca e apreensão.
Agentes da delegacia da Polícia Federal em Campos dos Goytacazes, reduto eleitoral da família Garotinho, cumpriram a ordem de prisão preventiva (sem prazo determinado) na casa do político, na manhã de hoje, no bairro do Flamengo, zona sul da capital fluminense.
Alertado da presença de policiais na portaria do edifício para cumprimento do mandado de prisão, Garotinho desceu e se entregou. Na garagem, um carro da PF já o aguardava.
Garotinho chegou à sede da PF da capital fluminense, na praça Mauá, onde ele chegou acompanhado da filha, a deputada federal Clarissa Garotinho (PR-RJ). Ambos ficaram em uma sala com vidro fumê, onde conversam com policiais.
Por volta das 13h, ele foi levado ao IML (Instituto Médico Legal) para fazer exame de corpo de delito. De lá, seria encaminhado para Campos, onde deverá prestar depoimento.
A ordem de prisão faz parte das investigações referentes ao uso do programa Cheque Cidadão para compra de votos na eleição em Campos.
Há um mês, a PF prendeu oito pessoas, entre as quais dois vereadores, por conta de crimes eleitorais em Campos. De acordo com o inquérito, os vereadores Miguel Ribeiro Machado, o Miguelito (PSL), 51, e Ozéias Martins (PSDB), 47, ofereceram o benefício do Cheque Cidadão em troca de votos.
Segundo as acusações, os vereadores recebiam os cartões do benefício e distribuíam aos eleitores pessoalmente. Em troca, os beneficiários prometiam votar nos candidatos. A fraude causou a explosão na base social do programa, elevando o volume de benefícios, avaliados em R$ 200 mensais por cada pessoa inscrita, em mais de 100% de junho de 2016 até outubro, de acordo com a PF.
Em seu despacho, o juiz diz que a provas "demonstram com clareza que o réu [Garotinho] efetivamente não só está envolvido, mas comanda com 'mão de ferro' um verdadeiro esquema de corrupção eleitoral neste município [Campos], através de um programa assistencialista eleitoreiro e que tornou-se ilícito diante da desvirtuação de sua finalidade precípua [original]".
Em nota, a defesa de Garotinho diz que a prisão é abusiva. "A prisão a qual está submetido o ex-governador é abusiva e ilegal e decorre de sua constante denúncia de abusos de maus tratos a pessoas presas ilegalmente naquela comarca [da 100ª Vara Eleitoral de Campos]", diz a nota. "A Justiça certamente não permitirá que este ato de exceção se mantenha contra Garotinho."
Derrota nas eleições deste ano
Na eleição deste ano, o grupo de Garotinho sofreu uma derrota em Campos, município no norte do Estado governado desde 2009 por sua mulher, Rosinha Garotinho (PR). O próprio ex-governador foi eleito prefeito da cidade duas vezes, em 1989 e 1996. O candidato de Garotinho, Dr. Chicão (PR), foi derrotado por Rafael Diniz (PPS), que venceu no primeiro turno.
Em outubro, o TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio) aprovou a cassação do mandato de Rosinha à frente da Prefeitura de Campos. Para o relator do processo, o desembargador eleitoral Marco Couto, o portal oficial da prefeitura de Campos na internet foi usado para promover os dois políticos, com o propósito de favorecer a reeleição de Rosinha, em 2012. Com a decisão judicial, ela e o vice ficaram inelegíveis por oito anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
Atualmente, a filha do ex-governador, Clarissa Garotinho, é uma das lideranças do PR no Rio. Ela fez parte da costura política que marcou a aliança com o prefeito eleito da capital, Marcelo Crivella (PRB), e foi responsável por indicar o vice dele na chapa, Fernando Mac Dowell (PR).
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