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Delatores de Cabral e Eike, irmãos Chebar foram citados no Panama Papers

Eike é suspeito de ter pago mais de R$ 16 milhões de propina a Cabral - Danilo Verpa/Folhapress
Eike é suspeito de ter pago mais de R$ 16 milhões de propina a Cabral Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

27/01/2017 17h44

Antes de acertarem com a Justiça a delação do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) e do empresário Eike Batista que resultou na operação Eficiência, os irmãos e doleiros Renato Hasson Chebar e Marcelo Hasson Chebar foram citados nos Panama Papers.

Os dois estão listados no site que reúne os dados da investigação internacional realizada em torno da Mossack Fonseka, empresa dedicada à abertura de paraísos fiscais no exterior.

Renato e Marcelo aparecem como acionistas da Wadebridge Development Inc, offshore que não foi citada pelos delatores nos depoimentos feitos ao juiz da 7ª Vara Criminal Federal, Marcelo Bretas.

Segundo o site, a empresa era sediada no Panamá e foi incorporada pela Mossack, funcionando de 2007 até 2013.

Renato conheceu Cabral no fim dos anos 1990 graças à companheira do pai, então secretária do ex-governador. Na época, disse Renato em seu depoimento à Justiça, o político costumava fazer pequenas compras de dólares para viagens ao exterior.

Entre 2002 e 2003, Renato passou a ajudá-lo a esconder grandes quantias de dinheiro no exterior, chegando a mais de US$ 100 milhões até 2014. Desse montante, ao menos US$ 16,5 milhões foram pagos por Eike, segundo despacho do juiz Bretas. O Ministério Público Federal suspeita que o dinheiro seja fruto de propina.

As transferências eram feitas por meio do sistema dólar-câmbio, em que o governador pagava aos doleiros em reais, no Brasil, e o dinheiro era convertido e depositado em dólares no exterior em diversas contas operadas pelos Chebar. Marcelo teria entrado para o esquema depois da morte do pai, também doleiro, em 2003.

Nos depoimentos, os irmãos contam que o dinheiro era entregue ao menos uma vez por mês, em espécie, por colaboradores de Cabral que iam pessoalmente ao escritório dos dois no centro do Rio.

Qualquer conversa sobre os valores era feita durante caminhadas pelo centro. Renato disse ainda que ia, de três a quatro vezes por ano, ao apartamento de Cabral, no Leblon, prestar contas sobre os fundos.

Em 2015, conta Renato, ele foi chamado para ir até a casa de Cabral e foi informado pelo ex-governador que o seu nome havia aparecido em um extrato encontrado durante uma busca e apreensão na casa de Eike, o que “poderia gerar problemas”. Cabral então o orientou a procurar o advogado Ary Bergher.

Segundo o doleiro, ele e o irmão se reuniram com o advogado e Flávio Godinho, vice-presidente de futebol do Flamengo que foi alto executivo do grupo EBX (um dos nove presos na operação de quinta).

Godinho reforçou a necessidade de que Renato estudasse a transação feita com Eike "a fim de que, caso fosse chamado para prestar esclarecimentos, pudesse sustentar a versão de que a intermediação do negócio realmente existiu". A transferência feita por Eike, de acordo com o doleiro, foi disfarçada para parecer a compra de uma empresa.

O UOL tentou contato, por telefone, com o advogado de Cabral, Ary Bergher, e com o advogado de Eike, Fernando Fernandes, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Cabral está detido preventivamente em Bangu desde novembro. Ele tem contra si três mandados de prisão, dois expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, do Rio --nas operações Calicute e Eficiência--, e um pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em Curitiba.

Já Eike teve sua prisão decretada na quinta-feira (26), mas não estava em sua residência no Rio e foi declarado foragido. Dados coletados pela Polícia Federal indicam que ele embarcou para Nova York usando um passaporte alemão.

O escritório de advocacia que defende Eike informou, em nota, que o "empresário se colocou à disposição das autoridades brasileiras com vistas a prestar todos os esclarecimentos e as informações necessárias de forma a contribuir com as investigações em curso".

Apesar de considerado foragido internacional, a defesa de Eike Batista informou que o empresário "se apresentará em breve às autoridades".