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É preciso mais do que um princípio de incêndio para parar a Lava Jato, diz delegado

23.fev.2017 - Coletiva sobre a 38ª fase da Operação Lava Jato na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR) - Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo
23.fev.2017 - Coletiva sobre a 38ª fase da Operação Lava Jato na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR) Imagem: Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

23/02/2017 11h00Atualizada em 23/02/2017 12h34

O delegado federal Igor Romário de Paula, um dos chefes da Operação Lava Jato, rebateu nesta quinta-feira (23) as críticas de que o ritmo das investigações estaria mais lento.

Segundo ele, não há nenhum tipo de ação para justificar este tipo de argumento.

A 38ª fase da Operação Lava Jato foi deflagrada na manhã de hoje e teve como alvos principais dois lobistas de destaque dentro do esquema de corrupção: Jorge Luz e seu filho Bruno Luz. Eles seriam ligados ao PMDB, partido do presidente, Michel Temer.

Durante coletiva de imprensa, organizada para falar sobre a ação do dia, o delegado fez questão de dizer que a Lava Jato “não se apagou” e que “vai ser preciso mais do que um princípio de incêndio para parar a Lava Jato”, comentou ao se referir ao incêndio na sede da Polícia Federal em Curitiba, na última segunda-feira (20).

O Corpo de Bombeiros foi chamado no local para atender uma ocorrência do subsolo do prédio, local em que estão detidos alguns dos envolvidos na Lava Jato, como o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht.

De acordo com Rosalvo Ferreira Franco, superintendente regional da Polícia Federal no Paraná, “nada indica” que o incêndio tenha sido criminoso. Ele informou que a equipe de perícia já concluiu os trabalhos e que as causas do incêndio vão ser apuradas dentro de um procedimento interno da polícia federal do Paraná.

"Foram feitas as devidas perícias e esse evento será devidamente apurado", declarou. Segundo ele, o incêndio causou danos na parte elétrica, telefonia e informática. Até o momento, 80% da parte elétrica foi reestabelecida. A telefonia ainda está com problemas.

Operação Blackout

O nome da nova etapa, Blackout ("apagão", em português), foi baseado no sobrenome dos alvos. Também foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão. De acordo com a instituição, os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre outros.

Segundo a PF, os acusados são suspeitos de intermediar propina "de forma profissional e reiterada" na diretoria Internacional da Petrobras, com atuação também nas diretorias de Serviço e Abastecimento da estatal.

Os mandados tiveram como base os depoimentos das delações premiadas, documentos que comprovam, segundo a força-tarefa, pontos apresentados nas delações, além de provas obtidas por intermédio de cooperação jurídica internacional.

No primeiro depoimento ao juiz federal Sergio Moro como delator da Operação Lava Jato, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, acusou o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de envolvimento em irregularidades na contratação de navios-sonda da estatal.

Cerveró afirmou que Jorge Luz tinha sido "o operador que pagou US$ 6 milhões" referentes à sonda Petrobras 10.000, contratada junto à multinacional Samsung Heavy Industries. "Foi o Jorge Luz o encarregado de pagar o senador Renan Calheiros, o senador...", disse. O pagamento teria sido feito na contratação do navio-sonda, o que aconteceu em 2006.

Renan afirmou, por meio de nota, que "a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais igual a zero". Renan afirmou ainda que "todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais". Sobre sua relação com Luz, o peemedebista disse que "embora conheça a pessoa mencionada no noticiário, não o vê há 25 anos" e afirmou não ter nenhum operador.

Dos contratos firmados pela diretoria internacional da Petrobras, Jorge e Bruno Luz teriam intermediado propinas na compra dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, na operação do navio sonda Vitoria 10.000 e na venda, pela Petrobras, da Transener para a empresa Eletroengenharia. Eles teriam utilizado contas no exterior para fazer repasse de propinas, segundo investigação da PF.

As investigações apontam que eles participaram da intermediação de propinas no contrato de aluguel do terminal de tancagem celebrado entre a Petrobras e a empresa Trafigura, e no contrato de fornecimento de asfalto com a empresa Sargent Marine.

Jorge e Bruno Luz teriam participado do pagamento de propinas para Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços, decorrente de contratos celebrados com a empresa Sete Brasil para exploração do pré-sal.