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Beneficiado com caixa 2, Alckmin era visto como potencial presidente pela Odebrecht, diz delator

Do UOL, em São Paulo

13/04/2017 16h07Atualizada em 14/04/2017 07h43

Em delação premiada, um ex-executivo do grupo Odebrecht declarou que a empresa acreditava que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), era um nome forte para assumir a Presidência do Brasil em um futuro próximo. Este fator teria sido determinante para que o tucano fosse beneficiado pela empresa com recursos de caixa dois.

"Alckmin é uma pessoa que nós como empresa considerávamos como um dos grandes postulantes a liderar o partido [PSDB] e liderar o país como presidente, então, tanto ele como Aécio [Neves, senador do PSDB por MG] sempre tiveram tratamentos muito próximos a nós", disse Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-diretor da Odebrecht Infraestrutura.

Alckmin recebeu R$ 10,3 milhões em caixa dois do departamento de propina da Odebrecht, segundo delatores da empreiteira. O tucano perdeu a disputa pela Presidência em 2006, quando foi ao segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva. Atualmente, Alckmin trava uma disputa interna no PSDB para disputar novamente o Planalto em 2018.

Primeiro, ele [Alckmin] era um expoente que tinha um espaço no cenário nacional pelo PSDB, e a gente acreditou que sempre haveria alguma alternância de poder em algum momento no país. Segundo, ele tinha o manejo do Estado de São Paulo, que era um Estado importante para a nossa operação, então nós queríamos manter essa relação fluida e funcionando sem nenhum óbice

Benedicto Júnior

De acordo com Benedicto Júnior, as doações ilícitas visavam manter a Odebrecht como uma empresa a ser favorecida para obter contratos de obras de infraestrutura no Estado de São Paulo.

"Naquela época tínhamos menos projetos, mas sempre tivemos um ou dois projetos em andamento em São Paulo. Tínhamos a preocupação de manter esse 'backlog' funcionando. Sempre que havia uma crise no país, São Paulo era impactada, mas continuava fazendo seus investimentos".

O primeiro valor, de R$ 2 milhões, teria sido repassado na campanha de 2010 pela Odebrecht para Adhemar Cesar Ribeiro, cunhado de Alckmin, a pedido de Aluizio de Araújo, acionista da Odebrecht muito próximo de Alckmin e já falecido. Dentro da empreiteira, quem operou a transação foi Carlos Armando Paschoal, à época diretor da Odebrecht em São Paulo, sob o codinome "Belém".

O segundo valor, de R$ 8,3 milhões, ocorreu na campanha de 2014 e foi operado por Luiz Bueno, outro diretor sob o comando de Benedicto Júnior. O valor muito maior em relação à doação de 2010 teria sido porque, nas palavras do executivo, "o Bueno era um jovem mais arrojado e achava que iria conquistar mais coisas no governo".

Arnaldo Cumplido de Souza e Silva foi o outro diretor escolhido para, entre abril e outubro de 2014, programar pagamentos sob o codinome "M&M" e também "Salsicha". Ambos remetiam a Marcos Monteiro, secretário de Planejamento de São Paulo e coordenador de campanha de Alckmin na época. Souza e Silva, que também fez delação, era diretor responsável pelo contrato da linha 6-laranja do metrô de São Paulo.

Algumas das áreas previstas para a Odebrecht executar obras seriam "na Sabesp, nas rodovias, nas novas privatizações do metrô", segundo Júnior.

Outro lado

A assessoria de imprensa Alckmin afirmou, em nota, que "a reportagem erra nos fatos. O delator não aponta nenhum ato ilícito do então candidato. Seu relato deixa claro que ele não presenciou conversa, pedido ou sugestão para a prática de qualquer delito".

O tucano nega as acusações e diz que "jamais" pediu recursos irregulares nem autorizou que o fizessem em seu nome. "Sempre exigi que minhas campanhas fossem feitas dentro da lei", afirmou.