Topo

Não me preocupo com delação de Palocci, diz Lula

Tríplex era de Lula, diz ex-presidente da OAS

UOL Notícias

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

25/04/2017 09h01

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta terça-feira (25), que não teme uma eventual delação do ex-ministro Antonio Palocci (PT) e disse que desconhece prática de crimes pelo petista.

"Se o Palocci cometeu algum erro, só ele sabe. Se ele cometeu um delito, só ele sabe. Se ele vai fazer delação ou não, é uma decisão dele, não me preocupa", disse em entrevista à "Rádio Cidade", de Natal.

Na semana passada, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Palocci disse que poderia repassar em sigilo informações "que vão ser certamente do interesse da Lava Jato". Palocci, que está preso em Curitiba, foi ministro da Fazenda no primeiro mandato de Lula e da Casa Civil no começo da gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

"O que me preocupa é ele estar preso há seis meses sem que ainda tenha sido consumada a prova, quando o primeiro depoimento ocorreu na semana passada. O que me preocupa é arbítrio, trancafiar para a pessoa confessar. Aliás, o que vemos é pressionar nem sempre por um crime, mas é pressionado a dizer o nome do Lula", declarou o ex-presidente.

Mas Lula também fez elogios ao aliado. "Palocci é muito próximo a mim, o Palocci é fundador do PT, o Palocci foi sindicalista, o Palocci foi ministro da Fazenda, o Palocci foi deputado, o Palocci foi ministro chefe da Casa Civil e o Palocci é uma das figuras mais inteligentes que esse país tem. Poucas vezes vi uma pessoa ser tão respeitada pelo empresariado como ele quando era ministro", afirmou.

Palocci sugere oferecer novos fatos à Lava Jato

UOL Notícias

As pessoas delatam até a mãe para sair da cadeia, diz Lula

No gancho das delações, o ex-presidente disse acreditar que os presos da operação estão sendo pressionadas a falarem o nome dele. Citou o ex-presidente da construtora Léo Pinheiro, que na semana passada afirmou em depoimento que Lula era o verdadeiro dono do tríplex no Guarujá e que o petista pediu para que ele destruísse provas que poderiam incriminar o PT.

"Desde o ano passado que exigem que ele [Léo Pinheiro] fale meu nome. Parece que aceitaram agora a delação porque ia falar o meu nome. Se está condenado a 26 anos, 27 anos de prisão, e vê o delator que roubou milhões devolver alguns milhões e ir viver na beira mar, vê nego morando em casa de luxo, ele diz: 'também vou delatar', e delata até a mãe. Se tem um cidadão neste país que quer a verdade sou eu", declarou o petista na entrevista.

Lula ainda ressaltou que não teme o conteúdo de delações. "Quem deve estar preocupado são as pessoas que fazem parte da Lava Jato. Porque se mentiram por três anos, e agora estão com dificuldade de provar que é mentira, é problema deles", afirmou.

O ex-presidente voltou a dizer que é inocente, que "não tem 50 centavos em contas no exterior" e que espera pedidos de desculpas após ser declarado inocente.

"Não sei se exageram, se quebrando meus sigilos pensando que iam descobrir alguma coisa. Mas, quanto mais eles continuarem mentindo, mais vão se prejudicar. Porque se tem uma coisa que tenho orgulho, que aprendi com uma mulher nordestina, é que a pessoa pode ser pobre, mas deve ser honesto. Isso ninguém vai tirar de mim", afirmou.

Depoimento adiado

Sobre o depoimento a Moro, marcado para o dia 3 de maio, mas adiado de acordo com o jornal “Folha de S.Paulo”, Lula voltou a dizer que está ansioso e não tem preocupação. "Eu estou muito ansioso para ir e dizer o que eu penso, o que nunca tive chance. Quero saber quais são as perguntas, as acusações", disse.

Questionado o que iria levar ao depoimento, Lula inverteu a ordem. "Eu não tenho que levar nada! Quem tem de levar são eles! Quem tem de provar são eles. Porque delação sob pressão não deveria valer, ela deve ser espontânea. Imagina um cara que pega 30 anos de cadeia falar. Se pegarem o Fernandinho Beira Mar, ele iria dizer que quem mantou foi a mãe dele", afirmou.

Lula ainda defendeu Dilma Rousseff, que --segundo o marqueteiro João Santana-- teria sido informada do caixa 2 durante suas campanhas à Presidência.

"Eu me surpreendo porque duvido que a Dilma tenha conversado sobre caixa 2 com ele ou com quem quer que seja. Tenho certeza que a Dilma pensa do mesmo jeito. Mas finanças de campanha não se discute com o presidente. O presidente não pode discutir finanças, e por isso tem comitê, tem tesoureiro, tem direção de partido que cuida. Não acredito que ela tenha falado com ele qualquer coisa de caixa 2".