Após reportagem citar gravação, deputados protocolam pedidos de impeachment de Temer
Deputados federais pediram o impeachment do presidente da República, Michel Temer (PMDB), no plenário da Câmara na noite desta quarta-feira (17) após a revelação de um áudio em que o peemedebista supostamente pede para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A denúncia foi publicada no site do jornal "O Globo".
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) protocolou um pedido de impeachment do presidente Michel Temer (PMDB). O pedido ainda precisa ser aceito pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Se ele for aceito, será criada uma comissão especial para analisar o assunto.
Após o pedido de impeachment de Molon, o deputado e terceiro secretário da Mesa, João Henrique Caldas (PSB-AL), apresentou uma denúncia contra Temer por crime de responsabilidade.
O deputado Afonso Florence (PT-BA) foi um dos parlamentares que gritaram pelo impeachment de Temer. Segundo ele, "se for confirmada a veracidade do conteúdo [da gravação], acabou o governo".
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"Se isso é verdade, a gravação tem de ser verificada, mas isso incinera o governo, a reforma da Previdência. [Tem de ter] o impeachment imediatamente, fica insustentável. O processo tem de tramitar, mas é inexorável", afirmou.
Segundo o jornal, o dono da JBS, Joesley Batista, afirmou à PGR (Procuradoria-Geral da República) que o presidente Temer sabia da compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador Lúcio Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato. O áudio divulgado, porém, é inconclusivo sobre se o presidente tinha conhecimento da mesada.
Quando o grupo de cerca de 20 parlamentares começou a gritar pelo afastamento de Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou a sessão e se retirou do plenário. Questionado por jornalistas, ele limitou-se a dizer que "não há mais clima para trabalhar".
O deputado José Guimarães (PT-CE) disse que se já havia motivos para mover um impeachment contra Temer, agora a situação é "muito grave".
"Ou se faz isso de abrir o impeachment ou não se faz mais nada no país", declarou.
Após a repercussão da reportagem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou a sessão. "Não há mais clima para trabalhar", disse, sem responder aos jornalistas. Houve vários gritos de "fora, Temer" em plenário.
Senadores também repercutem denúncia
A denúncia também repercutiu no Senado.
No plenário, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) informou que os parlamentares que fazem oposição ao peemedebista estão "começando a discutir a apresentação de impeachment imediatamente" do presidente Michel Temer. "É uma crise gravíssima na história do país", comentou, antes de ler, ofegante, a reportagem publicada pelo jornal "O Globo". O petista anunciou que a bancada iria se reunir para tratar dos termos do pedido.
"Nada me surpreende. Do que está acontecendo no Brasil, só falto ver chover pra cima, o resto tudo eu já vi. Agora estou achando bonito, hilário o comunicado do senador Lindbergh. Não seria o sujo falando do mal lavado", rebateu o senador Magno Malta (PR-ES), que integra a base do governo. "E delação agora vale? Porque para o PT delator nunca valeu nada. Agora o delator do Temer vale", completou, sendo interrompido pelo petista: "vale porque tem prova, tem gravação".
Após a manifestação de Lindbergh, o senador José Medeiros (PSD-MT) disse não ter visto "novidade alguma" no que havia acabado de acontecer "porque o PT até hoje, dos governos anteriores a Lula e Dilma, pediram impeachment até do presidente do Corinthians".
"Eu fiquei pasmo é com a sensação de alegria, como se estivessem contando ao Brasil que o Brasil ganhou a Copa do Mundo. É como se estivesse anunciando uma grande vitória porque saiu uma notícia na imprensa", complementou Medeiros.
Entenda a denúncia
De acordo com a publicação, as informações fazem parte de uma delação de Joesley que ainda não foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O depoimento do empresário foi dado à PGR em abril e, no dia 10 passado, o conteúdo foi comunicado ao ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.
Joesley Batista, um dos donos da JBS, encontrou Temer no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário registrou a conversa com um gravador escondido. Em um trecho, Joesley inicia um diálogo sobre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Após perguntar qual era a atual relação entre Temer e o ex-deputado, o empresário diz que zerou "tudo o que tinha de pendência" com Cunha. Mais para frente, no diálogo, Joesley afirmou: "eu tô bem com o Eduardo". Ao que Temer respondeu: "e tem que manter isso, viu". O diálogo, porém, tem trechos inaudíveis, tornando inconclusiva uma possível referência a um aval de Temer aos pagamentos mensais.
Ainda de acordo com o relato de Joesley publicado por "O Globo", Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver "um assunto" da J&F, a holding que controla a JBS. Depois, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil mandados pelo empresário.
Segundo o jornal, a conversa entre Joesley e Temer teria acontecido no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário teria gravado a conversa com um gravador escondido.
O UOL está tentando contato com as assessorias de imprensa do presidente Michel Temer, da JBS e do deputado Rodrigo Rocha Loures. Nenhum deles ainda respondeu.
Joesley Batista afirmou à PGR, ainda de acordo com O Globo, que também gravou o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, lhe pedindo R$ 2 milhões. O dono da JBS entregou à PGR um áudio em que o tucano pede a quantia sob a justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.
O momento da entrega do dinheiro a um primo de Aécio foi filmado pela Polícia Federal. A PF descobriu que a quantia foi depositada numa empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
O UOL está tentando contato com as assessorias de imprensa de Aécio Neves e Zezé Perrella. Nenhum deles ainda respondeu. (*Colaborou Gustavo Maia, de Brasília)
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