Topo

Prisão de ex-ministro próximo a Temer assustou Palácio: "Falta o quê? Prenderem Geddel"

17.abr.2016 - Michel Temer assiste à sessão da Câmara que aprovou a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff ao lado de Henrique Eduardo Alves (3º da esq. para a dir.) e Rodrigo da Rocha Loures (1º da esq. para a dir.); os dois estão presos - Divulgação/Folhapress
17.abr.2016 - Michel Temer assiste à sessão da Câmara que aprovou a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff ao lado de Henrique Eduardo Alves (3º da esq. para a dir.) e Rodrigo da Rocha Loures (1º da esq. para a dir.); os dois estão presos Imagem: Divulgação/Folhapress

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

07/06/2017 04h00Atualizada em 07/06/2017 08h06

O ex-ministro do Turismo e colega de partido do presidente Michel Temer (PMDB), Henrique Eduardo Alves, preso nesta terça-feira (6) pela Polícia Federal em desdobramento da operação Lava Jato, tinha trânsito livre no Palácio do Planalto, segundo assessores do governo.

Reconhecido como uma figura do alto escalão do PMDB e do governo, Henrique Alves costumava frequentar o terceiro andar do Planalto para conversar com Temer no gabinete presidencial.

Para andar pelo pavimento de onde despacha o presidente, é preciso ter autorização prévia. A permissão é concedida somente a aliados e integrantes do círculo de confiança de Temer, além de ministros e assessores. Os encontros de Henrique Alves com o presidente, porém, nem sempre eram registrados na agenda oficial. Neste ano, por exemplo, o nome de Alves não aparece em nenhuma data.

Questionada pelo UOL sobre quando foi a última vez que Henrique Alves se encontrou com Temer no Palácio do Planalto, e qual foi o assunto tratado na ocasião, a Presidência informou que o encontro derradeiro ocorreu em 30 de março de 2017, em audiência que contou também com as presenças do senador Garibaldi Alves Filho, a prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini, a prefeita de Santa Cruz, Fernanda Costa Bezerra, o secretário de Planejamento da Prefeitura de Mossoró, Aldo Fernandes de Sousa Neto, o deputado Federal Beto Rosado, a secretária de Infraestrutura da Prefeitura de Mossoró, Katia Pinto, o reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Pedro Fernandes Ribeiro Neto, e o deputado estadual Tomba Farias. "Na audiência, foram tratados temas de interesse do estado do Rio Grande do Norte", disse a Presidência em nota.

Nas palavras de um assessor do governo, a prisão de Alves foi “inesperada”. A divulgação nesta terça-feira (6) – dia em que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) retomou o julgamento da chapa Dilma-Temer – de eventuais gravações que envolvessem de alguma forma o presidente não eram descartadas por sua equipe. Entretanto, a prisão de um auxiliar tão próximo a Temer não estava no radar.

Para interlocutores de Temer, a ação representa mais um cerco aos principais homens de confiança do presidente. Até o momento, dos mais próximos já foram citados ou presos por suposto envolvimento em esquema de corrupção José Yunes (ex-assessor especial), Rodrigo Rocha Loures (ex-assessor especial e suplente de Osmar Serraglio), Sandro Mabel (ex-assessor especial), Tadeu Filipelli (ex-assessor especial), Romero Jucá (ex-ministro do Planejamento), Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Geddel Vieira Lima (ex-secretário de Governo).

“Agora falta o quê? Prenderem o Geddel”, reclamou um assessor.

Nos últimos dias, assessores do presidente têm reforçado o discurso de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está “alucinado” em uma investida contra Temer à procura de uma justificativa para incriminá-lo em definitivo.

Ministro de Dilma e Temer

Henrique Eduardo Alves foi ministro do Turismo tanto da ex-presidente Dilma Rousseff quanto do presidente Michel Temer. O peemedebista foi o terceiro ministro da gestão Temer a cair, em 16 de junho de 2016, após ser citado em delação premiada do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Segundo Machado, Alves teria recebido propina de R$ 1,5 milhão de 2008 a 2014.

Em carta, o ex-ministro disse que pediu demissão para não criar “constrangimentos” ao governo e que as “ilações” envolvendo seu nome seriam esclarecidas.

"O momento nacional exige atitudes pessoais em prol do bem maior. O PMDB, meu partido há 46 anos, foi chamado a tirar o Brasil de uma crise profunda. Não quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo, nas suas próprias palavras, de salvação nacional. Assim, com esta carta, entrego o honroso cargo de ministro do Turismo", afirmou, na época.

Proximidade com Cunha

Henrique Eduardo Alves foi deputado federal por 11 mandatos ao longo de 44 anos ininterruptos e presidente da Casa entre fevereiro de 2013 e fevereiro de 2015. Dentro do PMDB, ele era conhecido pela proximidade que tinha com o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também preso pela Lava Jato.

O presidente Temer, inclusive, teria se aproximado de Cunha por meio de Alves. Ambos participavam de jantares no Palácio do Jaburu, onde mora Temer, ou na residência oficial da Presidência da Câmara, quando Alves e Cunha ocupavam o posto.