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Áudio de Joesley e Temer não foi editado, conclui perícia da PF

O presidente Michel Temer durante pronunciamento em maio - Ueslei Marcelino - 18.mai.2017/Reuters
O presidente Michel Temer durante pronunciamento em maio Imagem: Ueslei Marcelino - 18.mai.2017/Reuters

Ana Carla Bermúdez e Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

23/06/2017 20h14Atualizada em 23/06/2017 20h36

A perícia feita pelo INC (Instituto Nacional de Criminalística), órgão ligado à Polícia Federal, no áudio da conversa entre o presidente Michel Temer (PMDB) e o empresário Joesley Batista, da JBS, concluiu que não houve interrupções ou edições na gravação. A informação foi confirmada ao UOL por uma fonte da corporação. A PF (Polícia Federal) informou que não divulgará o resultado nem se manifestará sobre o conteúdo do laudo.

A confirmação de que não houve interferências no áudio vai contra parte da argumentação da defesa de Temer, que tem como base a discussão sobre a integralidade do arquivo. Para os advogados do presidente, a gravação apresentaria trechos inaudíveis e também diversas interrupções, que poderiam ser por falhas do gravador ou mesmo por edição.

Segundo um policial federal ouvido pelo UOL sob condição de anonimato, o relatório da PF sobre o áudio deve dirimir as questões sobre a "lisura do processo".

De acordo com esta fonte, os supostos cortes no áudio podem ter sido provocados pelo uso incorreto de um sistema chamado VAS (Voice Activated System, ou "sistema de ativação por voz", em tradução livre), que ativa a gravação apenas no momento em que alguém está falando. Mesmo nos gravadores que dispõem desse sistema, o seu uso é facultativo.

"Você pode deixar gravando direto. Às vezes, a pessoa usa o VAS com medo de acabar a bateria, de a conversa ser longa", explicou a fonte.

PGR analisa possível denúncia

Joesley gravou a conversa com o presidente durante um encontro extraoficial no Palácio do Jaburu, em março. No diálogo, Temer aparenta indicar o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB) como interlocutor de Batista com o governo, além de supostamente concordar com a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), preso em Curitiba desde outubro do ano passado.

Após o áudio vir a público, um acordo de delação premiada de Joesley e outros executivos do grupo JBS levou à abertura de um inquérito contra Temer. O governo tem enfrentado desde então sua pior crise política.

Na tarde desta quinta-feira (22), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin enviou à PGR (Procuradoria-Geral da República) uma cópia do inquérito contra o peemedebista, que apura suspeitas dos crimes de corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa

Com isso, a Procuradoria tem até a próxima terça-feira (27) para decidir se apresentará ou não denúncia contra o presidente.

Após a apresentação da denúncia, para que Temer vire réu --o que o afastaria da Presidência-- é preciso que o processo contra ele seja autorizado pela Câmara, pelo voto de 342 dos 513 deputados, e em seguida pela maioria dos 11 ministros do STF.

Com a conclusão da perícia, a Polícia Federal também irá decidir se conclui o inquérito contra o presidente. Em um relatório preliminar divulgado no último dia 20, a PF afirmou ter encontrado “evidências” com “vigor” de que Temer possui envolvimento na prática de corrupção.

“Resultam incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nesses autos, a indicar, com vigor, a prática de corrupção passiva”, diz trecho da conclusão provisória da PF

Integralidade da gravação

O presidente Temer tem afirmado que não cometeu irregularidades e classificou como "fraudulenta" a gravação apresentada por Joesley. Ricardo Molina, perito contratado pela defesa de Temer, contestou as condições técnicas do áudio, dizendo que a gravação não poderia ser qualificada como prova em um processo por apresentar descontinuidades. Ele chegou a afirmar, com convicção, que o áudio passou por um processo de edição

Outros peritos criminais ouvidos pelo UOL classificaram a atuação de Molina como “midiática” e ressaltaram que o trabalho feito por ele é de assistência técnica, o que é diferente da perícia oficial. 

Já as análises encomendadas pelos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Folha de S. Paulo" também apontaram possíveis alterações e edições no áudio. Segundo as publicações, a gravação teria sofrido, respectivamente, 14 e 50 possíveis edições.