Cabral reage indignado ao negar propina sobre contratos: "Que maluquice é essa?"
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), preso sob acusações de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes apurados no âmbito da Operação Lava Jato, voltou a reconhecer ter recebido recursos ilícitos de "sobras de campanha", ato conhecido como caixa dois. Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal (RJ), nesta segunda-feira (10), ele disse ainda não ter cobrado propina em cima de contratos públicos, conforme narram as denúncias oferecidas pelo MPF (Ministério Público Federal).
De acordo com as investigações, o ex-governador era o chefe de um grandioso esquema de corrupção, que teria desviado milhões dos cofres públicos no período em que ele esteve à frente do Executivo (entre 2007 e 2014). Havia, segundo os inquéritos da Lava Jato, uma cobrança padrão de 5% de propina em todos os contratos relativos a grandes obras.
"Nunca houve 5%. Que 5% é esse? Que maluquice é essa?", respondeu o réu ao ser questionado pelo juiz da 7ª Vara.
O peemedebista também negou as informações dadas por Ary Ferreira da Costa Filho, agente fazendário e ex-assessor de Cabral, que também prestou depoimento nesta segunda. Ary afirmou à Justiça ter recebido entre R$ 9 milhões e R$ 10 milhões de sobras de campanha.
"Faça-me o favor, porque eu nunca soube disso", declarou o ex-governador, completando em seguida que a origem do dinheiro deveria ser questionada diretamente ao ex-assessor.
Cabral também foi questionado por Bretas a respeito da relação íntima entre agentes públicos e pessoas jurídicas que realizam doações de campanha. Na visão do magistrado, ainda que as contribuições sejam legais, há um caráter de ilegitimidade nesse tipo de relacionamento. O ex-governador respondeu que isso era "normal", desde que a autoridade soubesse "discernir" e "separar as coisas". "Basta um governante separar um assunto do outro. Isso eu fiz e posso garantir isso", declarou.
Essa foi a primeira vez que Sergio Cabral respondeu a perguntas formuladas pela Justiça e pelo Ministério Público Federal. Nos dois interrogatórios anteriores dos quais participou, com o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, e outro com o próprio juiz Marcelo Bretas, no Rio, o réu havia se posicionado apenas em relação às questões formuladas pela defesa. Segundo o advogado de Cabral, Rodrigo Roca, a estratégia será alterada a partir de agora.
"Foi a primeira vez de muitas", disse Roca, ao informar que Cabral não se furtará mais de responder.
A audiência desta segunda-feira se refere à Operação Mascate, deflagrada em fevereiro e que teve como alvos principais o ex-governador, que já estava preso desde novembro, e seu ex-assessor, o agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho, detido na ocasião.
A ação, realizada no âmbito da força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio, foi resultante de investigação sobre operações de lavagem de dinheiro avaliadas em cerca de R$ 10 milhões, dos quais R$ 8 milhões teriam ido para Cabral. Os crimes eram feitos, segundo o MPF, a partir de compra de imóveis e outras transações financeiras.
Além de Cabral e Costa Filho, o réu Carlos Miranda, apontado na Justiça como operador financeiro do ex-chefe do Executivo fluminense, participou da audiência nesta segunda. No entanto, orientado pela defesa, ele optou por ficar em em silêncio.
No âmbito da Operação Lava Jato, Cabral responde a 12 processos criminais, sendo 11 no Rio e apenas um --referente a denúncias de corrupção nas obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, da Petrobras) na 13ª Vara Federal Criminal (Paraná), do juiz Sérgio Moro. Neste último, ele foi condenado a 14 anos e dois meses de prisão.
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