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Cúpula dos transportes do Rio pagou R$ 141 mi a Cabral até véspera de prisão, diz Lava Jato

Fabio Motta/Estadão Conteúdo
Imagem: Fabio Motta/Estadão Conteúdo

Do UOL, no Rio

08/08/2017 13h15Atualizada em 08/08/2017 19h13

A força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro mapeou pagamentos de propina, no valor de R$ 141,4 milhões, feitos por empresários de ônibus para o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Os aportes em contas administradas por doleiros --um deles delator do esquema que ocorria, segundo o MPF (Ministério Público Federal), na Fetranspor, entidade que reúne 10 sindicatos de empresas de ônibus-- se deram entre julho de 2010 a março de 2016.

"Nem o encerramento do mandato de Sérgio Cabral no governo do Estado determinou o fim dos pagamentos de propina, que somente cessaram com a prisão deste na Operação Calicute, em novembro de 2016", dizem os procuradores da Lava Jato em denúncia à Justiça Federal apresentada nesta terça-feira (8). Cabral ficou à frente do Executivo fluminense entre 2007 e 2014.

Preso desde novembro de 2016, Sérgio Cabral foi denunciado mais duas vezes pela Lava Jato no Rio em decorrência da Operação Ponto Final --ao todo, o ex-governador fluminense já foi alvo de 14 denúncias, tendo sido condenado em uma delas, na Justiça Federal em Curitiba, a 14 anos e dois meses de prisão. Se aceitas, ele passará a responder novamente por corrupção passiva.

Outros 23 suspeitos de envolvimento no esquema foram denunciados, entre eles, o ex-conselheiro da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) José Carlos Lavouras e Jabob Barata Filho, herdeiro do empresário conhecido como o "Rei do Ônibus" --ambos estão presos e são acusados de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Segundo o MPF, entre julho de 2010 a fevereiro de 2016, R$ 43,4 milhões foram pagos ao ex-presidente do Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro) Rogério Onofre.

A Lava Jato pediu que, junto com a condenação dos denunciados, a Justiça determine o bloqueio de ao menos R$ 520 milhões para reparar os danos causados pela organização com esses crimes.

A denúncia detalha depósitos feitos mensalmente pelos empresários ao longo de seis anos, segundo o MPF, em troca de hegemonia no setor de transportes no Rio e benefícios fiscais e tarifários. Os procuradores dizem que as propinas foram pagas independentemente de épocas eleitorais. A principal tese da defesa de Cabral é o recebimento de caixa dois.

Segundo o MPF, em 2014, o ex-governador do Rio recebeu um "bônus vultoso" de R$ 13 milhões em decorrência de desoneração do ICMS e desconto de 50% do IPVA para os ônibus.

De acordo com o advogado de Cabral, Rodrigo Roca, as denúncias de hoje são “apenas mais duas demandas ajuizadas sem qualquer prova da materialidade e com base nas declarações de pessoas cujo último interesse é o esclarecimento da verdade.”

“Além disso elas já eram esperadas porque são necessárias para o MPF compor o ataque sistemático que ele declarou contra o ex-governador desde a operação Calicute em 2016”, afirma Roca.

Questionada sobre a denúncia do MPF, a assessoria da Fetranspor informou que “a instituição não foi denunciada, mas empresários e executivos” e recomendou que estes fossem procurados pessoalmente. “De forma institucional, a Fetranspor se posiciona como uma entidade que colabora com as investigações e está à disposição da Justiça”, afirma a empresa.