Negacionismo orçamentário é mais grave do que ignorância
Das diversas maneiras para se atingir o desastre climático, a negação do aquecimento global é a mais hipócrita e a ausência de planejamento é a mais segura. Porto Alegre promove desde 2021 um inusitado desinvestimento na área de prevenção de enchentes. Está agora às voltas com um transbordamento de proporções inéditas do Guaíba
O orçamento da prefeitura da capital gaúcha para a prevenção das cheias era irrisório: R$ 1,7 milhão. Tornou-se ridículo: R$ 141 mil. Até que, no ano passado, foi reduzido a zero. Nenhum centavo. Como revelam as águas que inundam Porto Alegre, os fatos não deixam de existir porque o prefeito Sebastião Melo os ignora.
Eleito em 2020, o prefeito protocolou na Justiça Eleitoral programa de governo de 17 páginas. Notícia do Globo informa que não há no documento menção à prevenção de desastres climáticos.
Eleito em 2022, o governador gaúcho Eduardo Leite tampouco fez referência aos extremos climáticos nas 58 páginas do plano de governo. Em âmbito federal, Lula citou genericamente no programa entregue ao TSE o "enfrentamento" e o "combate" à crise do clima. Mas não listou uma mísera iniciativa.
A verdade é que, a despeito de todas as evidências, a emergência climática é uma prioridade de gogó. Ainda não chegou ao orçamento. E o negacionismo orçamentário é mais grave do que a própria ignorância. Os gestores públicos demoram a perceber que, ao deixar de levar em conta a realidade, fazem com que a realidade também deixe de levá-los em conta.
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