Cidade em PE visitada por Lula e Dilma foi do céu ao inferno nas gestões do PT
Visitada pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff durante a passagem da caravana do petista pelo Nordeste nessa sexta-feira (25), Ipojuca (no Grande Recife) viveu uma fase áurea com a chegada de empreendimentos na indústria naval petroleira no segundo mandato de Lula, mas depois caiu em desgraça com as demissões em massa após os escândalos de corrupção da Petrobras, revelados na década seguinte.
Entre 2007 e 2012, a cidade viu o número de empregos formais crescer com um impressionante saldo de 37.634 carteiras assinadas.
É lá que está instalado o Complexo Industrial e Portuário de Suape, um dos mais importantes polos industriais do Nordeste. O local foi alvo de uma política industrial agressiva, capitaneada pelo então governador Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, e fortemente apoiada por Lula.
Em 2013, o município viu o início de uma pequena queda de empregos, mas a partir de 2014, a cidade entrou definitivamente em crise. Em dois anos, até dezembro de 2015, foram 39.533 vagas com carteira assinada perdidas --o que representa quase 43% da população de 92 mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), em 2016.
Saldo de empregos criados em Ipojuca:
- 2007: 2.439
- 2008: 2.862
- 2009: 4.792
- 2010: 15.842
- 2011: 7.991
- 2012: 3.708
- 2013: -149
- 2014: -22.827
- 2015: -16.706
- 2016: 58
- 2017: -2.245
Fonte: Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados)/MTE (Ministério do Trabalho e Emprego)
As quedas vieram mais especificamente pela redução de vagas nos dois estaleiros que foram montados para construir navios para a Petrobras. Os casos de corrupção descobertos pela operação Lava Jato colocaram a empresa em séria crise. Com isso, as encomendas praticamente cessaram, o que obrigou as empresas a demitirem funcionários.
Ao mesmo tempo, as obras da refinaria de Abreu e Lima também foram paralisadas, e a desmobilização do canteiro de obras acarretou nova série de demissões.
"Aqui chegamos a ter 17 mil nos dois estaleiros, e hoje temos pouco mais de 5 mil. Não só é desemprego, como na economia da região. Muitos trabalhadores voltaram para o trabalho informal, e outro nem isso", afirmou o presidente Sindicato de Metalúrgicos de Pernambuco Henrique Gomes. Segundo ele, a queda mais brusca de empregos se verificou no final de 2015 e em 2016.
Reflexo em toda a cidade
Com as demissões, toda a economia da cidade sentiu o baque. Anilton Carvalho é dono da maior pousada da cidade, com 58 quartos. "Hoje, estou com 22 alugados. Na época das obras, tinha fila de espera de até um mês, porque não tinha vaga. Era sempre cheio", conta. "Foi a melhor época, sem dúvida", diz.
Carvalho diz que o faturamento caiu 60% desde 2013. "Dali pra cá os clientes sumiram", diz.
Outras pousadas e hotéis montados na região também sentiram o baque. "Está tudo parado aqui na mata sul. Do Cabo até Xexéu, o turismo era muito alto, as obras de Suape geraram a alta, mas agora tivemos até que fechar sub-sedes porque não tem mais empreendimento", conta José Paulo, secretário do Sindicato dos Trabalhadores em Comércio Hoteleiro e Similares da região.
Marcelo Nogueira diz que montou o restaurante no centro de Ipojuca há cinco anos para tentar surfar na onda de desenvolvimento. Dono de um estabelecimento na praia de Porto de Galinhas, ele conta que viu no apogeu econômico uma oportunidade, mas os tempos mudaram.
"Não diria que perdi demais, mas caiu um bocado nesses anos. É que antes era muita gente de fora, e enchia mais à noite. Agora, como são pessoas daqui mesmo, fica mais movimentado de dia, no almoço", afirma.
Desempregados sofrem
Entre os desempregados, a solução foi se virar.
Alex Vargas conta que há um ano e nove meses, foi demitido de um dos estaleiros, em um dos cortes de vagas. Hoje, ele é dono de uma pequena serralheira para prestar serviços à vizinhança.
"Minha renda caiu mais da metade. Eu tinha salário de R$ 2.600, mais R$ 300 de cartão alimentação e plano de saúde para mim e para meus filhos. Perdi tudo isso. No trabalho informal, a gente trabalha para sua subsistência", afirma.
Para tentar voltar ao mercado formal de emprego, ele diz que está fazendo processo seletivo para o retorno das obras de Abreu e Lima. "Espero consegui uma vaga".
Já Aílton Soares, 39, foi demitido no dia dois de agosto. Antes de trabalhar no estaleiro, ele conta que tinha empregos com salários bem menores. "Trabalhei em posto de gasolina, empresa de ônibus", lembra.
"Trabalhei três anos e quatro meses, mas depois que foi acometido por uma doença, a empresa quis me demitir duas vezes, mas reverti. Mas agora demitiram de vez", lamenta.
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