Executivos da JBS chegam a Brasília e estão em celas de 9 m2 na PF
O empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, e o executivo Ricardo Saud já estão presos na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. O avião que transportava a dupla aterrissou às 15h23 na capital federal, vindo de São Paulo, onde eles embarcaram por volta das 14h, em Congonhas.
Joesley e Ricardo chegaram à superintendência sem falar com a imprensa em um carro da PF junto a outros dois veículos, um descaracterizado. Ambos devem ficar presos pelo menos até sexta (15), já que se trata de prisão temporária (cinco dias).
De acordo com a Polícia Federal, Joesley e Saud já estão nas suas respectivas celas e em contato com os advogados. Inicialmente, a defesa chegou a pedir que eles não passassem por exame de corpo de delito no IML. A PF atendeu o pedido e só determinou que os executivos assinassem termos declarando estarem em perfeitas condições de saúde. Minutos depois, porém, os advogados voltaram atrás, e Joesley e Saud foram encaminhados ao IML.
A dupla chegou ao Instituto Médico Legal no complexo da Polícia Civil em Brasília por volta das 17h45. Eles saíram de duas viaturas da PF separadamente sem falar com a imprensa e ficaram cerca de 30 minutos no local. Enquanto um esperava o exame do outro, ficavam sentados em uma cela. Na saída para voltar à superintendência da PF, uma pessoa presente no local gritou "ladrão" para Joesley.
Os executivos ficarão presos em celas separadas, cada uma delas de 9 m² com vaso sanitário de chão, sem chuveiro (apenas com um cano de água fria). Não há televisão.
Segundo a Polícia Federal, os locais são chamados celas de passagem, usadas de maneira provisória para abrigar presos. Ainda de acordo com a PF, as celas são coladas, mas com comunicação restrita.
A PF não soube informar se os presos prestarão novo depoimento nesta segunda-feira.
Protesto
Na chegada, os executivos depararam-se com um grupo de cerca de cinco manifestantes que defendiam a prisão de corruptos. Motoristas que passam em frente à superintendência mostram apoio ao pequeno protesto e buzinam a favor da prisão dos executivos da JBS.
Uma das manifestantes, que preferiu não se identificar, disse que é preciso se indignar com a situação de corrupção sistêmica do país. Para ela, o povo se "acomodou".
"Pelo menos um grupo de amigos se reuniu. Não defendemos partido nenhum. Qualquer um que esteja envolvido com crime de corrupção tem que ir para a cadeia. Há quadrilhas disputando com quadrilhas pelo poder. Essa é nossa visão", afirmou.
Quem também foi hostilizado pelos manifestantes foi o novo advogado de Saud e Joesley, Antonio Carlos de Almeida, mais conhecido como Kakay. Ele chegou às 16h30, e as pessoas que protestavam o chamaram de advogado que recebe "dinheiro de corrupção".
Reviravolta
Os dois delatores tiveram a prisão decretada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) neste domingo (10) e se entregaram na sede da PF (Polícia Federal) em São Paulo por volta das 14h de ontem. Na capital paulista, eles deixaram o local nesta manhã em direção ao aeroporto por volta das 10h30. Joesley estava com um terço nas mãos.
Os pedidos de prisão de Batista e Saud haviam sido feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na sexta-feira (8). No domingo, o ministro Edson Fachin, do STF, acolheu os pedidos. Janot também havia pedido a prisão do ex-procurador Marcello Miller. Fachin, no entanto, não aprovou a prisão.
A reviravolta no caso correu após a Procuradoria-Geral da República ter tido acesso a uma gravação na qual Joesley e Saud falam de uma possível ajuda de Miller, quando ele ainda era procurador, nas tratativas da delação premiada do grupo.
Para o ministro, há "indícios suficientes" de que os dois violaram o acordo de colaboração premiada ao omitir a participação de Miller no processo de delação. Fachin afirmou ainda que há indícios de que as delações ocorreram de maneira "parcial e seletiva".
Ao aceitar as prisões, Fachin afirmou que tanto as prisões de Joesley quanto a de Saud são necessárias por causa da "probabilidade de que os representados, uma vez em liberdade, possam interferir no ato de colheita de elementos probatórios".
"Há indícios de má-fé por parte dos colaboradores ao deixarem de narrar, no momento da celebração do acordo, que estavam sendo orientados por Marcello Miller, que ainda estava no exercício do cargo, a respeito de como proceder quando das negociações, inclusive no que diz respeito a auxílio prestado para manipular fatos e provas, filtrar informações e ajustar depoimentos", disse.
Kakay, defensor da dupla, afirmou que Janot agiu com "falta de lealdade". "Entendo que os delatores ao assinarem a delação cumpriram rigorosamente tudo o que lhes era imposto", disse Kakay.
"Os clientes prestaram declarações e se colocaram sempre à disposição da Justiça. Este é mais um elemento forte que levará à descrença e à falta de credibilidade do instituto da delação", complementou.
Ex-procurador
Janot também havia pedido a prisão do ex-procurador Marcello Miller, mas Fachin não viu, por ora, "elemento indiciário" de que ele tenha sido "cooptado pela organização criminosa" com a "consistência necessária à decretação da prisão temporária".
O ministro, porém, aponta que "há indícios de que pode ter praticado o delito de exploração de prestígio e até mesmo de obstrução às investigações".
Em nota, a defesa de Miller diz que "repudia veementemente o conteúdo fantasioso e ofensivo das menções ao seu nome nas gravações divulgadas na imprensa e reitera que jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei".
"Não tinha contato algum com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem atuação na Operação Lava Jato desde, pelo menos, outubro de 2016. Nunca atuou na Operação Greenfield, nem na Procuradoria da República no Distrito Federal. Nunca obstruiu investigações de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influenciar qualquer membro do MPF." (Com Estadão Conteúdo)
Buscas e apreensões nesta segunda-feira
Na manhã desta segunda-feira (11), a PF fez buscas na casa de Miller e também na sede da JBS. Em nota, a PF informou que "policiais federais cumprem cinco mandados judiciais expedidos pelo ministro Edson Fachin. São quatro mandados de busca e apreensão na cidade de São Paulo e um no Rio de Janeiro". Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", a PF foi atrás de documentos e gravações.
Os advogados de Miller afirmaram que o ex-procurador "recebeu com tranquilidade" às ações nesta manhã e que colaborou com as equipes de investigação "apresentando tudo o que foi solicitado".
"[Miller]" continua à disposição, como sempre esteve e sempre estará, para prestar qualquer esclarecimento necessário e auxiliar a investigação no restabelecimento da verdade", afirmaram seus defensores, André Perecmanis e Paulo Klein, por meio de nota.
Segundo a "Folha de S. Paulo", o advogado Kakay afirmou que "as buscas eram esperadas".
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