Topo

PT diz que Palocci mentiu sobre Lula e suspende ex-ministro por 60 dias

Palocci diz que relação entre PT e Odebrecht era movida a propinas

UOL Notícias

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

22/09/2017 16h40Atualizada em 22/09/2017 17h39

O PT decidiu suspender o ex-ministro Antonio Palocci das atividades partidárias por 60 dias, enquanto o diretório de Ribeirão Preto (SP) conduz processo em sua comissão de ética que pode culminar com a expulsão do político. É mais uma medida tomada pelo partido desde que Palocci passou a acusar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro, de envolvimento direto no esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato.

A decisão foi tomada sem divergência nesta sexta-feira (22) em reunião do Diretório Nacional do PT, em São Paulo. Na saída, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que Palocci "mentiu" contra o PT e Lula. "Ele mentiu contra o partido, contra a liderança de Lula, comprometendo Lula".

Em nota, o partido disse que Palocci se colocou "a serviço da perseguição político-eleitoral" movida contra Lula e o PT.

"Ao mentir, sem apresentar provas e seguindo um roteiro pré-estabelecido em seu depoimento na 13ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba, no último dia 06 de setembro, Palocci colocou-se deliberadamente a serviço da perseguição político-eleitoral que é movida contra a liderança popular de Lula e o PT. Desta forma, rompeu seu vínculo com o partido e descomprometeu-se com a sua militância", afirmou texto oficial.

Com Palocci em prisão preventiva há quase um ano e disposto a fechar um acordo de delação premiada, a suspensão acaba tendo, na prática, caráter simbólico.

Petistas presentes ao evento em São Paulo lembraram que Palocci pode até mesmo pedir desfiliação do PT antes de o processo ser concluído, como fez o ex-senador Delcídio do Amaral no ano passado justamente quando teve homologado seu acordo de delação premiada.

Palocci se tornou alvo do processo na comissão de ética de Ribeirão Preto, diretório petista ao qual é filiado, depois de ter acusado o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de terem feito um "pacto de sangue" com a Odebrecht que envolveria um "pacote de propinas" de R$ 300 milhões. O ex-ministro dos governos Lula e Dilma deu tais declarações em interrogatório de processo da Operação Lava Jato no qual ele e o ex-presidente são réus.

Após o interrogatório, Lula disse que Palocci fez acusações falsas para garantir um acordo de delação premiada.

Lula chama Palocci de “simulador, calculista e frio”

UOL Notícias

No processo em que é réu junto com Lula, Palocci é acusado de participar de um esquema de corrupção em que a Odebrecht teria pagado R$ 75,4 milhões em propina entre 2004 e 2012 ao grupo político do ex-presidente. O dinheiro seria ligado a oito contratos da construtora com a Petrobras. Parte dos recursos teriam sido usados na compra de um terreno para o Instituto Lula e um apartamento para o ex-presidente em São Bernardo (SP).

A defesa de Lula afirma que o ex-presidente nunca teve a posse ou propriedade dos imóveis, muito menos em contrapartida a contratos da Petrobras.

Palocci já foi condenado na Lava Jato em junho. Ele foi sentenciado a 12 anos e dois meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O ex-ministro era acusado de ter participado de um esquema envolvendo a Odebrecht e contratos de sondas para a exploração do pré-sal pela Petrobras para o pagamento de campanhas eleitorais do PT em 2008 e 2010, movimentando cerca de US$ 10 milhões. 

A defesa de Palocci recorre da sentença e diz que ele não interferiu na licitação das sondas.

Lula candidato

Em outra resolução na reunião do diretório, o comando do PT aprovou texto em que trata Lula como sua "opção irrevogável" de candidato a presidente nas eleições de 2018.

"Não há dúvida de que eleição sem Lula é fraude! O ataque a Lula configura um ataque à democracia brasileira, especialmente, ao direito inviolável de escolha da cidadã e do cidadão", disse o partido em manifesto divulgado em seu site.

"Lula é a única liderança política capaz de mobilizar a esperança do povo na retomada da democracia, do desenvolvimento e das conquistas sociais. (...) A cada dia que passa a candidatura de Lula vem se mostrando um fato irreversível, porque nasce de baixo, da vontade do povo, do Brasil profundo que seu governo transformou num país melhor e mais justo", segue o texto.

O partido ainda confirmou que Lula fará uma caravana por Minas Gerais, entre os dias 23 e 30 de outubro, semelhante à que ele fez no Nordeste, e que o ex-presidente fará uma visita à Renca (Reserva Nacional de Cobre) para participar de um ato em defesa da Amazônia. A data não foi informada.