"Suposta crise política" acabou, diz Temer após Câmara barrar denúncia
O presidente da República, Michel Temer (PMDB), disse, nesta quinta-feira (26), acreditar que a “suposta crise política” tenha acabado após a rejeição da denúncia contra ele pela Câmara dos Deputados por 251 votos contra a peça e 233 favoráveis.
"Sem embargo de uma suposta crise política, que penso tenha seu final no dia de ontem [quarta], sem embargo dessa suposta crise política, o Brasil não parou. Foram precisamente nesses cinco meses que a inflação caiu a níveis suportáveis, que os juros caíram de igual maneira”, afirmou.
O período de cinco meses coincide com a delação premiada de executivos do grupo J&F, que controla o frigorífico JBS, ao Ministério Público Federal. Eles relataram entrega de propinas de diversos políticos, com foco na alta cúpula do PMDB, em troca de benefícios pelo governo federal.
A declaração foi dada em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, para a assinatura de contrato no valor de R$ 652 milhões para obras de infraestrutura na cidade do Rio de Janeiro entre os governos federal e municipal. O financiamento se dará por meio da Caixa Econômica Federal.
O presidente também citou o combate ao desemprego, ajuste fiscal e incentivos ao crédito para micro e pequenos empresários. Na avaliação de Temer, o Brasil está saindo da grande recessão econômica. Ele ainda aproveitou para elogiar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambos vinham se desentendendo nas últimas semanas.
Na ocasião, Temer disse ter sancionado o projeto de lei que transforma em crime hediondo o porte e a posse de armas de uso exclusivo das Forças Armadas. A autoria do projeto é do atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB). O texto foi apresentado em 2015 quando ele era senador.
Mais cedo, Temer havia declarado, em vídeo divulgado nas redes sociais, nesta quinta-feira (26), que a “verdade venceu”. Ele também agradeceu os parlamentares que votaram pelo fim do prosseguimento do processo. "O Brasil é sempre maior do que qualquer desafio. E ficou ainda mais forte depois de ter suas instituições testadas de forma dramática nos últimos meses. No fim, a verdade venceu. Prevaleceram as garantias individuais e institucionais da nossa Constituição."
“Faremos ainda mais, com a ajuda do Congresso e, principalmente, com a ajuda de todos os brasileiros. Quero até aproveitar para agradecer às deputadas e aos deputados que na votação de ontem reafirmaram o compromisso comigo e com o nosso governo”, acrescentou o presidente no vídeo de pouco mais de três minutos gravado na manhã de hoje.
A denúncia por obstrução de Justiça e organização criminosa foi apresentada pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em setembro. Os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) também foram acusados por organização criminosa.
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Os dois também ficaram livres de investigação do STF (Supremo Tribunal Federal) com a decisão do plenário desta quarta. Agora, os três só poderão ser investigados pela Justiça comum quando deixarem seus cargos.
No vídeo, Temer afirma ainda que continuará a se focar no que “interessa ao povo” e que as ações do governo para o futuro são sólidas e resistentes.
Passada a denúncia, o Planalto se dedicará à aprovação da reforma da Previdência --ainda que esvaziada--, simplificação tributária, concessões, medidas de microcrédito, pautas de ministérios e aos leilões do setor de óleo e gás.
O número de deputados que votarou a favor de Temer (251), porém, foi inferior à maioria absoluta dos 513 deputados e ficou aquém do anunciado pela base governista, que previa entre 260 e 270 votos.
Após o encerramento da votação, os líderes do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), minimizaram a redução no tamanho da vitória. Para a oposição, o placar demonstra que o governo saiu enfraquecido e não tem mais condições de promover reformas como a da Previdência.
Segundo o presidente disse no vídeo, os resultados da retomada da economia já são visíveis após o que chamou de “maior recessão da nossa história”. Ele falou também que a “perseverança derrotou o medo”.
“Essa é a maior obra de meu governo. Com a melhora da economia, estamos reencontrando os empregos, os investimentos estão voltando, o consumo das famílias está crescendo. Estamos consolidando avanços na educação e na saúde. Os programas sociais continuam e serão sempre minha prioridade. Os salários recuperaram o poder de compra”, disse, ao acrescentar os bons resultados da inflação e dos juros.
Além de agradecer os parlamentares fiéis a ele, Temer afirmou que o governo fará “ainda mais” com a ajuda do Congresso Nacional e da população.
“A todos que mantêm a fé no Brasil, a hora é agora. É hora de transformar o país e superar nossos desafios. Agora, é avançar. Vamos continuar a trabalhar, com determinação e muita paz. Muito obrigado!”, finalizou.
Repouso e visitas no Jaburu
No início da noite desta quarta (25), Temer recebeu alta médica após passar por exames urológicos no Hospital Militar de Área de Brasília. O presidente deixou o local às 20h15 e seguiu para o Palácio do Jaburu, onde mora. À imprensa, ao lado da mulher Marcela, Temer disse "estou inteiro".
Ele passou mal no final da manhã enquanto no Palácio do Planalto e teve de ser submetido a uma sondagem vesical de alívio por vídeo. O procedimento busca esvaziar a bexiga e consiste em inserir um fio com uma microcâmera na uretra por meio do pênis.
Temer aproveitou a manhã desta quinta para descansar com a família no Jaburu, mas também gravou o vídeo como resposta à votação da Câmara e recebeu assessores, além do ministro Eliseu Padilha. Temer não fará novos pronunciamentos sobre o assunto e deve viajar para São Paulo até esta sexta-feira (27), onde tem residência.
O presidente chegou às 12h no Planalto, onde tem dois compromissos --um com um deputado e outro para a assinatura de um financiamento com o município do Rio de Janeiro. A ida dele a um evento do TCU (Tribunal de Contas da União) nesta quinta foi cancelada, assim como uma viagem nesta quinta que faria a Rio Branco, no Acre, para tratar de segurança pública nacional e nas fronteiras.
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