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Sob polêmica, eleição para presidência do Senado será com voto aberto

Hanrrikson Andrade, Leandro Prazeres e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

01/02/2019 19h37Atualizada em 01/02/2019 21h31

Sob muita polêmica e discussão, os senadores decidiram nesta sexta-feira (1º) que a eleição para a presidência do Senado será por meio de voto aberto.

No início da sessão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou uma questão de ordem solicitando que a votação fosse aberta. Após polêmica sobre a validade de se permitir uma votação aberta, o pedido foi aprovado por 50 votos a favor e 2 contra.

A sessão foi comandada pelo presidente interino da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que é também pré-candidato ao cargo de forma permanente. A lista dos candidatos oficiais só será conhecida momentos antes da eleição para a presidência em si.

Parte dos senadores contrários ao voto aberto foi em direção à mesa, revoltados com a decisão de Alcolumbre de acolher a questão de ordem. Além de Randolfe, o voto aberto foi defendido por Lasier Martins (PSD-RS), Selma Arruda (PSL-MT), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Reguffe (sem partido-DF), entre outros. Eles alegaram que a população tem o direito de saber em que o parlamentar votou e o princípio da transparência nas ações tomadas em plenário.

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O senador Ciro Nogueira (PP-PI) se manifestou contra a votação aberta, e chamou-a de "casuísmo", uma vez que a iniciativa não está prevista no regimento para a eleição da presidência do Senado.

Jader Barbalho (MDB-PA) afirmou que, caso a medida fosse aprovada, estaria "se abrindo um precedente seríssimo ao se alterar as regras do regimento na própria sessão".

"Vamos agradar a quem? Seria a prevalência da minoria sobre a maioria", disse Kátia Abreu (PDT-TO), ao acrescentar que o pedido de voto aberto seria uma "hipocrisia" e parte da oposição a Renan Calheiros (MDB-AL) queria ganhar a eleição "no tapete". "Não é permitida questão de ordem, mudança de regimento", falou sobre a sessão desta sexta.

Ela ainda subiu na mesa no plenário e gritou "se ele [Alcolumbre] pode presidir a sessão, eu também posso. Isso é um golpe aqui no Senado". Em seguida, tirou papéis das mãos de Alcolumbre.

Ao defender o voto secreto, Renan disse que Alcolumbre desmoralizava a Casa e chegou a citar Tancredo Neves em 1964 e disparou "canalhas! canalhas!" ao microfone.

Também se manifestaram contra o voto aberto Eduardo Braga (MDB-AM) e Humberto Costa (PT-PE). Durante a sessão, quando a votação para definir o formato estava em andamento, Costa gritou que Alcolumbre estaria "usurpando o poder da presidência do Senado".

O resultado da votação deixou a senadora Kátia Abreu furiosa. A parlamentar se dirigiu à Mesa Diretora e tirou das mãos de Alcolumbre a pasta com os documentos e ofícios referentes ao processo eleitoral. Em seguida, ela voltou para o plenário carregando a pasta.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) chegou a sugerir que a Mesa acionasse a polícia legislativa. Colegas de Kátia intercederam. "A polícia não vai tirar a Kátia daqui, não", retrucou um senador.

Por volta das 19h30, Kátia retornou à Mesa e sentou ao lado de Alcolumbre, porém não devolveu ao colega a pasta da sessão. Renan, diretamente interessado no desfecho em favor do voto secreto, também ocupou lugar na Mesa. Senadores reclamaram da baixaria no plenário.

Depois de uma longa lista de oradores, Alcolumbre fez um desabafo para o plenário e afirmou que "não escolheu ser membro remanescente da Mesa" e, consequentemente, apto a presidir os trabalhos. No entanto, logo em seguida, ele finalmente confirmou que será candidato à chefia da Casa e que se afastaria da função para concorrer. De acordo com o Regimento, nesse caso, a sessão será liderada pelo senador mais velho, José Maranhão (MDB-PB).

Entenda a polêmica

A discussão para decidir se a votação para a escolha da Presidência do Senado será ou não secreta está relacionada com a candidatura do senador Renan Calheiros. 

Parlamentares que apoiam o seu nome acreditam que, se a votação for secreta, como manda o Regimento Interno da casa, Renan tem mais chances de vencer a disputa. 

Antes do início da sessão, no plenário, funcionários do Senado apostavam que, ao contrário, se a votação fosse aberta, Davi Alcolumbre seria o vitorioso no primeiro turno. Diversos senadores contra o voto explícito questionaram o interesse de Alcolumbre em presidir a sessão tendo intenção de se candidatar ao posto da presidência para suposto benefício próprio.

Por outro lado, os partidários das candidaturas contrárias à de Renan dizem acreditar que se a votação for nominal e aberta, menos parlamentares se sentirão dispostos a votar em Renan.

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Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Renan Calheiros (MDB-AL) batem boca no plenário do Senado
Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Renan e Tasso se estranham

Renan por pouco não chegou às vias de fato com Tasso Jereissati (PSDB-CE) durante a acalorada discussão entre os que defendem e apoiam o voto aberto.

A briga ocorreu depois de uma provocação do parlamentar cearense. Segundo relatos do plenário, Tasso falou a Renan que ele "iria para a cadeia", o que levou à ira do senador alagoano.

Renan tentou tirar satisfação com o rival, mas outros senadores, entre os quais Cid Gomes (PDT-CE), se colocaram no meio, temendo que o impasse terminasse em pancadaria.

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