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Bolsonaro age para intimidar a imprensa e jornalistas, dizem OAB e Abraji

AFP
Imagem: AFP

Do UOL, em Brasília

11/03/2019 11h49

Após Jair Bolsonaro (PSL) divulgar em sua conta oficial no Twitter críticas a uma jornalista com base em declaração atribuída falsamente a ela, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgaram uma nota pública condenando a atitude do presidente.

Para a OAB e a Abraji, Bolsonaro age com a intenção de intimidar o trabalho dos jornalistas e promove um ataque à "imprensa livre e crítica", que seria um dos "pilares da democracia", segundo afirmam as entidades. "Na noite de domingo, Bolsonaro fez um novo ataque público à imprensa, desta vez valendo-se de informações falsas", diz a nota.

"Isso mostra não apenas descompromisso com a veracidade dos fatos, o que em si já seria grave, mas também o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas, uma atitude incompatível com seu discurso de defesa da liberdade de expressão", afirma o texto.

"Quando um governante mobiliza parte significativa da população para agredir jornalistas e veículos, abala um dos pilares da democracia, a existência de uma imprensa livre e crítica", conclui o documento da OAB e da Abraji.

No domingo, Bolsonaro divulgou em suas redes sociais um relato deturpado da conversa de uma jornalista do jornal "Estado de S.Paulo" com uma pessoa não identificada. O presidente afirmou, no Twitter, que "querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e vazamentos".

A postagem vem acompanhada de um áudio, cuja transcrição dos trechos audíveis não coincidem com a interpretação que o presidente fez das falas da repórter. Bolsonaro afirma que a jornalista teria dito "querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro".

Segundo reportagem do "Estado de S.Paulo" sobre o episódio, essa frase jamais foi dita pela repórter do jornal. 

As afirmações de Bolsonaro foram feitas com base num texto publicado pelo site "Terça Livre", plataforma de perfil favorável ao governo do presidente.

O site atribuiu a suposta declaração sobre a "intenção de arruinar Flávio Bolsonaro e o governo" à jornalista Constança Rezende. O "Terça Livre" sustenta que a frase teria sido dita a um jornalista francês, em conversa gravada por ele, e publicou trechos dos áudios da conversa. Nos trechos divulgados com a gravação do diálogo, porém, em nenhum momento a repórter fala a frase atribuída a ela pelo site "Terça Livre" e por Bolsonaro.

Na gravação, a repórter fala sobre o caso de Fabrício Queiroz, o ex-funcionário do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que recebia dinheiro de outros assessores do filho do presidente na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) em sua conta corrente.

Em um momento, a jornalista diz avaliar que "o caso pode comprometer, pode arruinar Bolsonaro". A repórter ainda diz, durante a conversa, que se preocupa com a possibilidade de que as investigações não avancem porque este poderia ser "um caso de impeachment".

Em texto publicado sobre o episódio na noite de ontem, o jornal "O Estado de S.Paulo" diz que a jornalista "não fala em 'intenção' de arruinar o governo ou o presidente".

"A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Apenas trechos selecionados foram divulgados. Em determinado momento, a repórter avalia que 'o caso pode comprometer' e que 'está arruinando Bolsonaro', mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido", afirma a reportagem.

Ainda segundo o jornal, as frases da gravação foram retiradas de uma conversa que a repórter teve em 23 de janeiro com uma pessoa que se apresentou como Alex MacAllister, "suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro".

O caso de Fabrício Queiroz é investigado pelo Ministério Público do Rio. O ex-assessor recebeu dinheiro de ao menos nove pessoas que trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro e movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta corrente, valor incompatível com sua renda.

Flávio atribuiu a Queiroz a contratação, em seu gabinete na Assembleia do Rio, de parentes de policiais ligados ao Escritório do Crime, grupo de milicianos que, entre outros crimes, é suspeito de participação no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).

Queiroz, em depoimento ao Ministério Público por escrito, disse que recebia dinheiro de colegas para ampliar o trabalho parlamentar do filho de Bolsonaro.