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Bolsonaro diz que "encontrão de índio" terá verba pública; Guajajara rebate

Marcela Leite

Do UOL, em São Paulo

11/04/2019 23h16

Em sua live semanal no Facebook, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) citou hoje que haverá um "encontrão de índio" na semana que vem em Brasília". Segundo ele, 10.000 indígenas estarão presentes em um evento, e "quem vai pagar a conta de índios que vêm para cá de ônibus, de carro particular, que muitos deles dirigem, de avião, hospedagem em hotel etc" é o contribuinte.

Nós queremos o melhor para o índio brasileiro, que é tão ser humano quanto qualquer um que está aqui na frente de vocês agora, mas essa farra vai deixar de existir no nosso governo
Presidente Jair Bolsonaro (PSL)

Na live, Bolsonaro estava acompanhado do porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio do Rêgo Barros, e do líder do governo na Câmara dos Deputados, Major Vitor Hugo (PSL-GO).

O presidente não explicou na live a qual evento ele estava se referindo. O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa da Presidência por e-mail para saber qual seria e quem financia, mas ainda não obteve retorno.

"Incitação" contra indígenas, diz Guajajara

Depois da fala do presidente, a coordenadora-executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Sonia Guajajara, usou o Twitter para dizer que Bolsonaro "continua incitando a sociedade contra os povos indígenas".

Sonia, que se candidatou à vice-presidência em 2018 pelo PSOL, alegou que o Acampamento Terra Livre, a que Bolsonaro teria se referido segundo ela, é custeado pela própria APIB. A 15ª edição do evento, ao contrário do que disse o presidente, não acontece semana que vem, mas de 24 a 26 de abril.

Em entrevista ao UOL, Sonia afirmou que, com o discurso de hoje, "cada vez mais se confirma essa ideia que ele [Bolsonaro] tem de os povos indígenas como um povo que é dependente do governo ou que é manipulado ou usado por outros".

"Brasília não é terra dele, não é terra privada e todo mundo tem direito a se manifestar."

Vaquinha na internet

Em sua página do Facebook, a organização pede doações de mantimentos e milhas de companhias aéreas para ajudar no custo das passagens de indígenas que moram em locais afastados. Também na página, é divulgada uma vaquinha para ajudar na realização do encontro nacional em defesa dos direitos dos povos indígenas. Até agora, apenas 25% da meta, que é de arrecadar R$ 50 mil, foi batida.Segundo a descrição da vaquinha, o evento é

realizado pela APIB com o apoio de organizações indígenas, indigenistas e socioambientais, movimentos do campo e da cidade e apoiadores da sociedade civil.

O objetivo do encontro, de acordo com a página, é "reunir lideranças dos povos indígenas das cinco regiões e parceiros de todo o mundo [...] para articular estratégias de luta e visibilizar a realidade brasileira, denunciando os constantes e crescentes ataques".

Dentre as pautas, estão a transferência da Funai do Ministério da Justiça para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos; a municipalização da saúde indígena; a proposta de marco temporal; a transferência do poder de demarcação para o Ministério da Agricultura sob comando da bancada ruralista; a intensificação das invasões às terras indígenas; e as ameaças às lideranças.

Segundo Sonia Guajajara, cada território indígena se organiza para bancar a ida de seus líderes ao evento, que é realizado em locais públicos. Com as doações, a APIB consegue auxiliar essas lideranças e montar a estrutura do acampamento, que, de acordo com Sonia, deve reunir entre 4.000 e 5.000 pessoas.