Militares no governo não representam risco à democracia, dizem ex-ministros
Os ex-ministros Nelson Jobim e Sergio Etchegoyen afirmaram ontem em São Paulo que a presença de um grande número de militares nos primeiros escalões do governo Jair Bolsonaro (PSL) não representa um risco para a democracia. Para ambos, os integrantes das Forças Armadas são preparados para ocupar os cargos e não têm pretensões autoritárias.
"Não há preocupação de uma pretensa intervenção militar", afirmou Jobim, que foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e ministro da Defesa nos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT).
"Terá [na sociedade] quem não aposte na democracia, mas isso é irrelevante, é uma franja. Qualquer sociedade tem seu bom grau de esquizofrenia", disse Etchegoyen, que é general da reserva e foi ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional no governo Michel Temer (MDB) e chefe do Estado-Maior do Exército no governo Dilma. "Nunca vi ninguém no quartel defendendo intervenção militar."
Ambos participaram de um debate com o tema "A Participação das Forças Armadas no Governo: Um Novo Normal?", promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, no centro da capital paulista. O ex-presidente FHC esteve na mesa para apresentar os convidados à plateia.
Eliminar o ódio e criar pacto
Jobim e Etchegoyen declararam que o problema do Brasil é político e que a solução dele também deve passar pela política. Para Jobim, é preciso eliminar "o ingrediente novo que surgiu no país, que é o ódio, a impossibilidade do diálogo".
"No caso específico do governo Bolsonaro, temos o grupo econômico que tem solidez, o grupo militar que tem solidez e tem o grupo político junto com a família que tem problemas. O grupo político não consegue fazer a articulação política necessária. E se coloca aquela divisão do país entre a velha politica e a nova política. Como se os entendimentos no processo democrático fossem algo desprezível. É bom deixar claro de que a democracia é administração do dissenso", analisou o ex-ministro da Defesa.
"Para que não caminhemos ainda mais na direção equivocada, era importante parar e chegar à conclusão de que o Brasil precisa se reencontrar consigo mesmo. É preciso que os brasileiros encontrem o Brasil que queriam construir, que já tentaram construir. Não falo que é preciso apoiar o governo, é preciso apoiar o Brasil a encontrar um pacto para seguir", argumentou Etchegoyen.
Populismo e estado policialesco
Sem citar Bolsonaro diretamente, Jobim comentou em outro momento do debate que é preciso reconstruir o sistema político para que o país abandone o populismo. "O nosso sistema funcionou até um determinado período. Depois, esgotou", afirmou. "Então, temos hoje o populismo que decorre da redução da possibilidade das representações do sistema da democracia representativa, que faliu. É preciso recompor isso sob pena de ter o que temos, ou seja, o contato direto com a população, a tentativa de ser um arauto da população."
Também sem citar o presidente, o general Etchegoyen disse que "a política da forma como foi feita nos trouxe a um desastre político" e que "caímos num estado quase policialesco, em que vale tudo".
Estamos tentando construir um país com os retrovisores trincados e com a luz da frente apagada
Sergio Etchegoyen, ex-ministro
Ele ressaltou que considera Bolsonaro mais político do que militar em função do tempo que o presidente esteve em cada uma das áreas.
Militares humanistas e sem pretensão política
Quanto à presença de militares nos altos escalões do governo, o general afirmou que isto é consequência de uma promessa de campanha de Bolsonaro, da aprovação popular e do investimento em formação educacional feito pelas Forças Armadas nas últimas décadas. "Isso formou gerações de gente muito qualificada. Resultou em competência."
Jobim, que também foi ministro e presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que as instituições militares de ensino têm "currículo humanista, e não golpista". Ainda declarou que os ministros militares do atual governo são "altamente competentes". "Os oficiais são executivos e não têm pretensão política. A construção do futuro não passa pela retaliação do passado."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.