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Gilmar Mendes sobre saudosismo da ditadura: "Pai, não sabem o que fazem"

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em Campos do Jordão

30/08/2019 17h28

O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), criticou as pessoas que, hoje, dizem ter saudade do período de ditadura militar no Brasil (1964-1985). Para ele, é mais preocupante ainda ver os jovens com este discurso.

"Quando a gente vê, em manifestações, pessoas se declararem saudosas do regime militar, vem aquela passagem do evangelho: pai, eles não sabem o que fazem", afirmou o ministro, no encontro anual da AASP (Associação dos Advogados de São Paulo), em Campos do Jordão (SP), nesta sexta-feira (30).

"Eu vivi sob o regime, cheguei à universidade em 1975. Em 1977, vi a universidade [UnB] ser invadida pelo Exército. Não desejo que ninguém veja isso. Os estudantes eram puxados e levados pela Polícia Federal e ficavam presos por 30 dias, incomunicáveis", lembra o magistrado. "Era a Lei da Segurança Nacional."

"Aí falam que, no regime militar, não havia corrupção", ele ironiza. "O que não havia era liberdade de imprensa, havia censura!"

Preocupação com a juventude

Mendes diz ver com preocupação que gerações que não viveram o período de ditadura vejam a democracia como um "valor dado".

"Falam [do período de ditadura] com certo cinismo, certa indiferença. Vamos nos culpar: talvez demos de barato que a ideia de democracia esteja consolidada", declarou o ministro.

À plateia de advogados, ele sugeriu que temas como democracia, autoritarismo e direitos voltem a ser debatidos socialmente e nas escolas. "É extremamente importante. É preciso que nós trabalhemos mais este conceito", afirmou Mendes.