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"Dinheiro na cueca": deputado petista é hostilizado em voo e presta queixa

Do UOL, em São Paulo

01/10/2019 17h31

O deputado federal José Guimarães (PT-CE) foi hostilizado por um passageiro que se sentou ao seu lado em um voo de Fortaleza para Brasília ontem (30). O suposto ofensor foi identificado pela Polícia Federal como Gilberto Alves Júnior, e um Termo Circunstanciado de Ocorrência já foi registrado. Ele prestou queixa por injúria e difamação e pediu a instauração de inquérito.

"É o Zé Guimarães, do PT, que roubou o Brasil inteiro. Mandou dinheiro para Cuba, para a Venezuela, apareceu na televisão com dinheiro na cueca. Se defenda, deputado, diga aí! Cadê o dinheiro que estava na cueca? Se defenda! É contigo mesmo, deputado, que eu estou falando. Cadê? Não vai se defender, não? O senhor não tem vergonha de roubar o Brasil, não?", disse o homem sentado ao lado do deputado.

No vídeo que circula pelas redes sociais, José Guimarães não é visto rebatendo as acusações de maneira enfática; o político apenas se limitou a dizer, algumas vezes, que processaria o autor das ofensas.

José Guimarães é irmão de José Genoino, ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores. Em 2005, no início do escândalo do mensalão, José Adalberto Vieira, assessor de Guimarães, foi preso em flagrante no aeroporto de Congonhas com uma mala de dinheiro contendo R$ 200 mil e mais US$ 100 mil na cueca.

Na manhã de hoje (1), o deputado federal se manifestou no Twitter e disse que o discurso proferido por Gilberto Alves Júnior estava "repleto de fake news". Diferentemente do que diz a acusação de seu ofensor, não foi o próprio Guimarães quem foi pego com dinheiro em Congonhas em 2005.

"O vídeo em que fui covardemente agredido é repleto de fake news. Jamais fui preso e não estive envolvido quando um assessor foi pego com dinheiro no aeroporto de Congonhas em 2005. Eu, inclusive, fui inocentado da acusação de improbidade administrativa, em 2012, pelo STJ [Superior Tribunal de Justiça]", escreveu.

"Por unanimidade, a Corte decidiu que não havia provas. Nunca estive envolvido em esquemas de corrupção. Ao contrário, sempre pautei minha conduta no respeito à dignidade, à ética e ao trabalho em prol da melhoria das condições de vida de brasileiras e brasileiros", publicou José Guimarães, prometendo que sua equipe tomará medidas cabíveis contra os "ataques virtuais" que diz ter sofrido.

Uma mulher presente no voo acompanhou o deputado até a sede da Polícia Federal no aeroporto de Brasília como testemunha da cena exposta no vídeo. Gilberto Alves Júnior confirmou ter proferido as ofensas, e o deputado disse que encerraria o procedimento se o ofensor formalizasse um pedido de desculpas e apagasse os vídeos.

Segundo o termo de declarações, Gilberto desculpou-se na frente dos policiais, apagou os arquivos de filmagem e disse que ainda não havia compartilhado os vídeos na internet; porém, a Polícia Federal informou ter tomado conhecimento na mesma noite de que as imagens já estavam em circulação nas redes sociais.

Como consequência do descumprimento do acordo, Guimarães manifestou seu desejo de instaurar inquérito para o indiciamento do autor das ofensas por injúria e difamação. De acordo com o termo de declarações, Gilberto Alves Júnior teria dito durante o voo que "não se importaria se a Polícia o prendesse, pois é amigo de um Juiz de Brasília de nome Vallisney de Oliveira".

Em 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um pedido público de desculpas ao deputado José Guimarães por tê-lo atacado indiretamente ao responder a outro deputado durante audiência da comissão da reforma da Previdência na Câmara.

O ministro havia dito que "se 'googlar' [termo para 'pesquisar no Google'] dinheiro na cueca, vai aparecer alguma coisa". José Guimarães não estava presente, mas ganhou um direito de resposta.

O deputado disse que talvez fosse um dos poucos no plenário que não têm nenhum processo em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e lembrou que foi inocentado no caso dos dólares na cueca. "O senhor deveria ter mais zelo pelo cargo de ministro. Reflita sobre isso, o senhor é ministro", afirmou Guimarães a Guedes.

Leia a íntegra das ofensas proferidas pelo passageiro:

"É o Zé Guimarães, do PT, que roubou o Brasil inteiro. Mandou dinheiro para Cuba, para a Venezuela, apareceu na televisão com dinheiro na cueca. Se defenda, deputado, diga aí! Cadê o dinheiro que estava na cueca? Se defenda! É contigo mesmo, deputado, que eu estou falando. Cadê? Não vai se defender, não? O senhor não tem vergonha de roubar o Brasil, não?

O senhor não é bem-vindo em Brasília, não, tá? Em Brasília, político vagabundo não é bem-vindo. Você trate de devolver o dinheiro que você roubou da nação, os trilhões que o PT roubou. Ou então pelo menos ter coragem de dizer que é mentira, que não roubou, não. Diga que é mentira! Finge que não é nem com você, né? Cara de sonso... Não é nem contigo, né?

Vai entrar com processo contra mim? Rapaz, você roubou um trilhão do Brasil e quer entrar com processo contra mim? A gente é que devia processar você, rapaz, fazer devolver o dinheiro! Você não tem vergonha, não, rapaz? Eu não tenho medo de processo, não. Você que devia ter medo. Isso aqui amanhã estará na mídia do Brasil inteiro, pode deixar que isso vai estar viralizado.

Cabra sem vergonha. Roubando o povo brasileiro... O PT roubou, e ele não tem coragem de dizer que não. Não tem coragem nem de se defender, faz cara de sonso. Vem do meu lado... Achando que a gente tem medo. Diga que é mentira, capitão cueca! Diga, capitão cueca, que é mentira que você roubou o Brasil. Bilhões, e tá aí com o Rolex no braço. Dois iPhone 10 na mão, tudo fruto de quê? De roubalheira! Cabra safado, não sabe nem se defender, não tem coragem de se defender. Meta processo, rapaz, porque eu quero ver você na cadeia junto com o Lula. Ou então vai para Cuba...".

E leia o pronunciamento de José Guimarães:

"Esclarecimento: Ontem (30/9), fui violentamente hostilizado durante o voo que me trouxe a Brasília, onde cumpro agenda na Câmara dos Deputados. Na saída do avião, o agressor foi conduzido à sede da Polícia Federal no aeroporto da capital federal. Um TCO [Termo Circunstanciado de Ocorrência] foi registrado.

O vídeo em que fui covardemente agredido é repleto de fake news. Jamais fui preso e não estive envolvido quando um assessor foi pego com dinheiro no aeroporto de Congonhas em 2005. Eu, inclusive, fui inocentado da acusação de improbidade administrativa, em 2012, pelo STJ.

Por unanimidade, a Corte decidiu que não havia provas. Nunca estive envolvido em esquemas de corrupção. Ao contrário, sempre pautei minha conduta no respeito à dignidade, à ética e ao trabalho em prol da melhoria das condições de vida de brasileiras e brasileiros.

Fui o 4º deputado federal mais bem votado do Ceará, meu estado de origem, acumulando 173 mil votos nas eleições de 2018. A defesa da liberdade de expressão permanece sendo uma das minhas bandeiras, afinal, a livre manifestação é uma das principais características da democracia.

Porém, ataques como o que ficou registrado em vídeo jamais serão tolerados por aqueles que repudiam a política do ódio, que pauta discursos com base em mentiras alardeadas sem a mínima responsabilidade.

Assim sendo, minha assessoria jurídica coletará todos os ataques virtuais que sofri, a fim de que as medidas cabíveis tomem forma. Produzir ou contribuir com a disseminação de fake news é crime! Continuaremos firmes, realizando o bom combate, sempre ao lado do povo brasileiro".