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Funai confirma teólogo em coordenação de órgão que atua com índios isolados

Antropólogo, missionário e teólogo Ricardo Lopes Dias atuou por dez anos na organização evangélica americana MNTB - Reprodução/Funai
Antropólogo, missionário e teólogo Ricardo Lopes Dias atuou por dez anos na organização evangélica americana MNTB Imagem: Reprodução/Funai

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/02/2020 13h37

Resumo da notícia

  • Missionário atuou por 10 anos na organização evangélica americana Missão Novas Tribos do Brasil
  • Indigenistas Associados e Associação de Servidores da Funai acusam "incompatibilidade técnica" em indicação
  • Segundo a Funai, o novo diretor é formado em antropologia e teologia e tem doutorado em ciências humanas e sociais

O antropólogo, missionário e teólogo Ricardo Lopes Dias é o novo coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai (Fundação Nacional do Índio). A nomeação foi confirmada hoje, apesar de ser contestada por órgão técnico e servidores, que apontam falta de critérios.

No último dia 31, a Folha revelou que o missionário atuou por 10 anos na organização evangélica americana MNTB (Missão Novas Tribos do Brasil). Entre 1997 e 2007, ele atuou com povos indígenas no Vale do Javari, no Amazonas.

A região é conhecida por abrigar a maior concentração de povos indígenas isolados em todo o mundo: atualmente, a Funai trabalha com 16 registros em seu banco de dados.

Em uma dissertação de 2015, Dias falou dessa experiência como "projeto voluntário religioso".

Em carta, os Indigenistas Associados (INA) e Associação de Servidores da Funai afirmaram serem contrários à nomeação por "profunda incompatibilidade técnica e o risco de danos irreparáveis em virtude de possível nomeação de um profissional com experiência missionária contrária aos objetivos da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) e da própria Funai".

"Contraditoriamente, de acordo com as reportagens, Ricardo Lopes Dias atuou durante anos como missionário profissional da filial brasileira da ONG americana New Tribes Mission, que tem por objetivo, como descrito pelo próprio indicado em sua dissertação, 'a plantação de uma igreja nativa autóctone em cada etnia'", diz a carta.

Para as entidades, há risco iminente com a indicação. "O projeto de plantar uma igreja em cada etnia é antagônico ao reconhecimento da diversidade de povos e culturas, quando se visa, de forma planejada e sistemática, alterar drasticamente tais culturas", completa o texto.

Currículo e coordenação

Segundo a Funai, o novo diretor é formado em antropologia pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e em teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana. Ele possui doutorado na área de ciências humanas e sociais pela UFABC (Universidade Federal do ABC).

Segundo define a Funai, são considerados índios isolados os "grupos indígenas que não estabeleceram contato permanente com a população nacional, diferenciando-se dos povos indígenas que mantêm contato antigo e intenso com os não índios". Ao todo são 28 registros confirmados de grupos indígenas isolados em seis estados da Amazônia.

A direção que será assumida por Dias tem a missão de "garantir aos povos isolados o pleno exercício de sua liberdade e das suas atividades tradicionais sem a necessária obrigatoriedade de contatá-los."