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Bolsonaro diz que pediu perícia independente sobre morte de miliciano na BA

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

18/02/2020 09h32Atualizada em 18/02/2020 13h35

Temendo provas supostamente forjadas no telefone do capitão Adriano Nóbrega, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, na manhã desta terça-feira (18), que pediu uma perícia "independente" na análise da morte do ex-policial elogiado por ele. Adriano era suspeito de comandar a milícia Escritório do Crime e de ter participado da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).

O presidente ainda colocou sob suspeita as investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O ex-policial tinha parentes empregados no gabinete do filho do presidente e foi elogiado por Bolsonaro como "herói" e "brilhante oficial". Mas, segundo o presidente, seria possível que tentassem forjar áudios e conversas de WhatsApp no telefone de Adriano.

"Nós não queremos que sejam inseridos áudios no telefone dele ou inseridas conversações via WhatsApp", disse Bolsonaro. Antes da conversa com jornalistas na porta do Palácio do Alvorada, Bolsonaro publicou várias mensagens sobre o tema em sua rede social.

Na conversa com os repórteres, o presidente disse que tomou medidas legais para exigir uma perícia "independente".

"Eu estou pedindo, já tomei as providências legais, para que seja feita uma perícia independe. Porque, sem isso você não tem como buscar até quem sabe matou a Marielle. A quem interessa não desvendar quem matou a Marielle? Os mesmos que não interessam desvendar o caso Celso Daniel [PT, ex-prefeito de Santo André]", afirmou Bolsonaro, antes de cerimônia de bandeira na porta do Palácio da Alvorada.

Segundo ele, é possível que o Ministério Público Federal na Bahia, onde Adriano foi morto, requisite uma perícia independente.

Bolsonaro disse que, em caso de uma perícia suspeita, ele poderia ser atingido pelas investigações supostamente fraudadas. "Se por ventura, vamos deixar bem claro, faça uma perícia suspeita... Depois, a pessoa seja atingida, que pode ser eu, apesar de ser presidente da República, quanto tempo levaria para ser essa uma nova perícia?", questionou.

Bolsonaro lembrou do caso do porteiro de seu condomínio. Uma anotação da portaria mostrava que um participante do assassinato de Marielle entrou no local no dia do assassinato da vereadora pedindo entrada pela casa do presidente. Em depoimento, o porteiro confirmou a anotação da portaria.

Mas, quando a perícia da Polícia Civil do Rio de Janeiro analisou os áudios, verificou que a voz não era do porteiro e o interlocutor com quem falava não era ninguém da casa de Bolsonaro.

Bolsonaro disse que o trabalho de investigação da Polícia Civil do Rio está "contaminado", mas evitou defender a federalização do caso para não afirmarem que ele quer interferir nas apurações. Isso ficaria a cargo do ministro da Justiça, Sergio Moro.

"As investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, a começar pelo caso do porteiro, você já vê que está contaminado."

Perícia vai dizer se Adriano foi torturado, diz Bolsonaro

Segudo o presidente, uma perícia independente diria se Adriano foi torturado ou não. "Vai dizer se ele foi torturado ou se não foi, a que distância foram os tiros", enumerou. "A conduta não é essa. A conduta é cercar e buscar a negociação pra se render."

Bolsonaro disse que não tem interesse na "queima de arquivo" do capitão Adriano e nem na morte de Marielle. E acusou políticos de esquerda. "A quem interessa não desvendar quem matou a Marielle? Os mesmos que não interessam desvendar o caso Celso Daniel [PT, ex-prefeito de Santo André]."

Presidente joga suspeitas sobre PSOL no caso Marielle

O presidente ainda jogou suspeitras sobre o PSOL na morte do caso Marielle. Ele disse que havia "disputa interna" no partido por causa de seu crescimento. A seguir, mencionou que o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), de quem a vereadora foi assessora, teria amizade com presidiários.

"Ela tinha uma disputa interna com o PSOL. Aí tinha. Ela estava crescendo. E tinha gente do PSOL que estava incomodado."

Na sequência, Bolsonaro mencionou Freixo. "Você tem um vídeo do Marcelo Freixo falando que jogava futebol no passado dentro de penintenciária. O juiz era um preso e ninguém chamava ele de ladrão. E até hoje mantém a liberdade e amizade com essas pessoas."

Bolsonaro disse que teria obtido acesso a um depoimento de um dos investigado pelo crime, Ronnie Lessa, que mora no mesmo condomínio dele, na Barra da Tijuca. A oitiva demonstraria que um dos filhos de Bolsonaro não namorou uma filha de Lessa.

O presidente disse que poderia fornecer "extrato" do depoimento aos jornalistas. O UOL solicitou o documento à Secretaria de Comunicação da Presidência. Ainda não obteve esclarecimentos.

Atrito com governador da Bahia

Indagado se seria o caso de federalizar as investigações sobre a morte de Nóbrega, na qual apontou haver indícios de "queima de arquivo", Bolsonaro disse que eventual decisão neste sentido caberia ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e que não irá interferir na apuração.

A morte do ex-PM gerou atritos entre Bolsonaro e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), com troca de farpas pública entre os dois.

Costa disse que a Bahia não aceita bandidos ou milícias e que a ordem é cumprir decisões judiciais e prender suspeitos com vida, mas, em sua conta no Twitter, fez uma ressalva: "Se estes atiram contra pais e mães de família que representam a sociedade, os mesmos têm o direito de salvar suas próprias vidas, mesmo que os marginais mantenham laços de amizade com a Presidência".

(Com informações da Reuters)

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